A história da Literatura Policial é um livro aberto, onde
sempre podem ser acrescentados capítulos novos, tal é a amplitude do conceito
“policial” e a enorme expansão territorial que alcançou.
Não há, seguramente, um só recanto do mundo onde não tenha
havido, ou haja ainda, um descritor de crimes reais ou produtor de enigmas
ficcionados, sobre a temática.
O que faz do romance policial um dos mais lidos em todos
os locais onde há pessoas, é o que procuraremos desenvolver, tentando apontar
para os escritores e obras que sempre acrescentam algo em relação aos
antecessores.
O romance policial é, ainda hoje, o género literário mais
lido e isso tem que ver, seguramente, com as suas características
intelectualmente desafiantes, que nem a tecnologia de ponta supostamente
infalível, veiculada pelo CSI, consegue subalternizar.
Uma boa investigação “artesanal”, bem “sherlockiana”,
estará sempre, para os cultores e amantes do policial, uns bons furos acima de
qualquer aparato electrónico, por mais sofisticado que nos seja exibido.
Deixem-nos, por favor, o prazer de nos deleitarmos com os
heróis que os escritores nos apresentam como sendo de carne e osso e quase
infalíveis. Deixem-nos o espaço para procurarmos as suas vulnerabilidades, os
seus erros, as suas incorrecções lógicas, já que com as máquinas não o podemos
fazer!
Que diabo, tanta perfeição, também cansa!
Que viva o (sempre) romance policial!
LITERATURA POLICIAL
Pois bem, ambos se confessaram
e assumiram como leitores atentos de livros policiais!
Com um pouco de ginástica
mental, podemos imaginar Mário Soares como admirador de um Maigret desengonçado
e pesadão, ou Jorge Sampaio a seguir, deliciado, um caso do mais “cabeça de
ovo” da História do Policial, o sempre actuante Poirot!
O que faz dos romances
policiais uma das leituras mais apreciadas em todo o Mundo e em todas as
épocas? Que sortilégio terá? Será apenas a sua vertente desafiante da
inteligência, ou, mais que isso, um misto de Aventura e Mistério, com uma
porção de raciocínio, q.b. ?
Digamos em abono da verdade
que nada no Policial foi – ou é – pacífico. A começar pela paternidade, em que
se degladiam diversas correntes de opinião, que nos remetem para a Bíblia ou
para escritos chineses ou, mais modernamente, para Voltaire ou Dostoievsky. Mais
aceite é, no entanto, Edgar Alan Pöe, como o pai do romance policial com
características dedutivas, em 1841, com a publicação de “Os Crimes da Rua da
Morgue” no “Graham’s Magazine”.
Seja como for, o Policial
acaba por carregar um fardo como “casa mal frequentada”, porque nasce de um
alcoólico Pöe, prolonga-se e atinge um grau de popularidade inimaginável com um
Sherlock Holmes consumidor de cocaína; se implanta e desenvolve em Portugal,
tendo como cultores um Fernando Pessoa com problemas alcoolicos ou um Reinaldo
Ferreira (Repórter X) morfinómano...
De literatura de cordel, que
foi considerada durante longo tempo, até às declarações de um Prémio Nobel da
Literatura, José Saramago, de que pretendia escrever um romance policial, o
caminho foi longo e difícil, cá como no resto do mundo.
A uma literatura incipiente,
sensacionalista, um tanto aventureira, seguiu-se um período de grande
esplendor, usando quase sempre a fórmula de duplas que se tornaram famosas:
Monsieur Dupin e o seu “amigo desconhecido”, de Alan Pöe; Sherlock Holmes e Dr.
Watson, de Arthur Conan Doyle; Hercule Poirot e Capitão Hastings, de Agatha
Christie…
Outros, muitos outros
detectives famosos seguiram o trilho – para não dizermos que imitaram – Dupin e
Pöe. Destacamos Ellery Queen, produto de dois primos, Frederick Danny e Manfred
Lee; Philo Vance de S. S. Van Dine; Philip Marlowe de Raymond Chandler; Sam
Spade de Dashiell Hammett; Hercule Poirot ou Miss Marple de Agatha Christie.
Numa tentativa de
sistematização, poderíamos dizer que as três grandes “escolas” policiais
trataram os seus mais emblemáticos escritores de forma bastante profissional,
apoiada num “marketing” eficiente. A “escola” britânica reune-se em torno de
Sherlock e mais tarde de Poirot e Miss Marple; a “escola” franco-belga cerra
fileiras em redor de Maigret, inspector e mais tarde Comissário criado por
Georges Simenon; a “escola” americana arrisca em Chandler, mais tarde em Ellery
Queen e finalmente em Patricia Higsmith que acaba “arrasando” a concorrência
com as histórias de Mr. Ripley.
Pelo meio, lutando contra cada
um destes centralismos, uma imensidão de autores e detectives procuram o seu
espaço, em muitos casos bem merecido.
Sherlock Holmes faz com que em
França surja Arsène Lupin, uma criação de Maurice Leblanc, um ladrão muito
fino, que depois vai servir de modelo a Simon Templar (Santo), de Leslie
Charteris. Pelo meio, Émile Gaboriau faz nascer o Monsieu Lecoq, também em
França. Mais tarde, já em 1911, aparece um padre com grandes capacidades
dedutivas, Father Brown, uma criação de Gilbert Keith Chesterton.
Nesse mesmo ano, na América,
Melville Davisson Post escreve os primeiros contos do Tio Abner, enquanto se
vai demonstrando que a “escola” americana não consegue rivalizar minimamente
com o que se faz deste lado do Atlântico! E.C. Bentley publica “O Último Caso
Trent” e Freeman aparece com “O Osso”, ao mesmo tempo que Earl Derr Biggers faz
nascer Charlie Chan, um chinês apaixonado por Confúcio, que o cita a toda a
hora. Mas em Inglaterra os consagrados dão cartas, bem secundados por Max
Carrados, de Ernest Bramah.
(Continua)
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