domingo, 4 de novembro de 2012

POLICIÁRIO 1109



A história da Literatura Policial é um livro aberto, onde sempre podem ser acrescentados capítulos novos, tal é a amplitude do conceito “policial” e a enorme expansão territorial que alcançou.
Não há, seguramente, um só recanto do mundo onde não tenha havido, ou haja ainda, um descritor de crimes reais ou produtor de enigmas ficcionados, sobre a temática.
O que faz do romance policial um dos mais lidos em todos os locais onde há pessoas, é o que procuraremos desenvolver, tentando apontar para os escritores e obras que sempre acrescentam algo em relação aos antecessores.
O romance policial é, ainda hoje, o género literário mais lido e isso tem que ver, seguramente, com as suas características intelectualmente desafiantes, que nem a tecnologia de ponta supostamente infalível, veiculada pelo CSI, consegue subalternizar.
Uma boa investigação “artesanal”, bem “sherlockiana”, estará sempre, para os cultores e amantes do policial, uns bons furos acima de qualquer aparato electrónico, por mais sofisticado que nos seja exibido.

Deixem-nos, por favor, o prazer de nos deleitarmos com os heróis que os escritores nos apresentam como sendo de carne e osso e quase infalíveis. Deixem-nos o espaço para procurarmos as suas vulnerabilidades, os seus erros, as suas incorrecções lógicas, já que com as máquinas não o podemos fazer!
Que diabo, tanta perfeição, também cansa!
Que viva o (sempre) romance policial! 
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          
LITERATURA POLICIAL

 Mário Soares, Jorge Sampaio, o que podem ter em comum para além das coisas públicas que todos lhes conhecemos?
Pois bem, ambos se confessaram e assumiram como leitores atentos de livros policiais!
Com um pouco de ginástica mental, podemos imaginar Mário Soares como admirador de um Maigret desengonçado e pesadão, ou Jorge Sampaio a seguir, deliciado, um caso do mais “cabeça de ovo” da História do Policial, o sempre actuante Poirot!
O que faz dos romances policiais uma das leituras mais apreciadas em todo o Mundo e em todas as épocas? Que sortilégio terá? Será apenas a sua vertente desafiante da inteligência, ou, mais que isso, um misto de Aventura e Mistério, com uma porção de raciocínio, q.b. ?

Digamos em abono da verdade que nada no Policial foi – ou é – pacífico. A começar pela paternidade, em que se degladiam diversas correntes de opinião, que nos remetem para a Bíblia ou para escritos chineses ou, mais modernamente, para Voltaire ou Dostoievsky. Mais aceite é, no entanto, Edgar Alan Pöe, como o pai do romance policial com características dedutivas, em 1841, com a publicação de “Os Crimes da Rua da Morgue” no “Graham’s Magazine”.
Seja como for, o Policial acaba por carregar um fardo como “casa mal frequentada”, porque nasce de um alcoólico Pöe, prolonga-se e atinge um grau de popularidade inimaginável com um Sherlock Holmes consumidor de cocaína; se implanta e desenvolve em Portugal, tendo como cultores um Fernando Pessoa com problemas alcoolicos ou um Reinaldo Ferreira (Repórter X) morfinómano...

De literatura de cordel, que foi considerada durante longo tempo, até às declarações de um Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, de que pretendia escrever um romance policial, o caminho foi longo e difícil, cá como no resto do mundo.
A uma literatura incipiente, sensacionalista, um tanto aventureira, seguiu-se um período de grande esplendor, usando quase sempre a fórmula de duplas que se tornaram famosas: Monsieur Dupin e o seu “amigo desconhecido”, de Alan Pöe; Sherlock Holmes e Dr. Watson, de Arthur Conan Doyle; Hercule Poirot e Capitão Hastings, de Agatha Christie…
Outros, muitos outros detectives famosos seguiram o trilho – para não dizermos que imitaram – Dupin e Pöe. Destacamos Ellery Queen, produto de dois primos, Frederick Danny e Manfred Lee; Philo Vance de S. S. Van Dine; Philip Marlowe de Raymond Chandler; Sam Spade de Dashiell Hammett; Hercule Poirot ou Miss Marple de Agatha Christie.

Numa tentativa de sistematização, poderíamos dizer que as três grandes “escolas” policiais trataram os seus mais emblemáticos escritores de forma bastante profissional, apoiada num “marketing” eficiente. A “escola” britânica reune-se em torno de Sherlock e mais tarde de Poirot e Miss Marple; a “escola” franco-belga cerra fileiras em redor de Maigret, inspector e mais tarde Comissário criado por Georges Simenon; a “escola” americana arrisca em Chandler, mais tarde em Ellery Queen e finalmente em Patricia Higsmith que acaba “arrasando” a concorrência com as histórias de Mr. Ripley.
Pelo meio, lutando contra cada um destes centralismos, uma imensidão de autores e detectives procuram o seu espaço, em muitos casos bem merecido.
Sherlock Holmes faz com que em França surja Arsène Lupin, uma criação de Maurice Leblanc, um ladrão muito fino, que depois vai servir de modelo a Simon Templar (Santo), de Leslie Charteris. Pelo meio, Émile Gaboriau faz nascer o Monsieu Lecoq, também em França. Mais tarde, já em 1911, aparece um padre com grandes capacidades dedutivas, Father Brown, uma criação de Gilbert Keith Chesterton.
Nesse mesmo ano, na América, Melville Davisson Post escreve os primeiros contos do Tio Abner, enquanto se vai demonstrando que a “escola” americana não consegue rivalizar minimamente com o que se faz deste lado do Atlântico! E.C. Bentley publica “O Último Caso Trent” e Freeman aparece com “O Osso”, ao mesmo tempo que Earl Derr Biggers faz nascer Charlie Chan, um chinês apaixonado por Confúcio, que o cita a toda a hora. Mas em Inglaterra os consagrados dão cartas, bem secundados por Max Carrados, de Ernest Bramah.
(Continua)

Sem comentários: