Fechamos hoje mais uma página das
nossas competições deste ano, com a publicação da solução oficial, condensada
devido à sua extensão, do último desafio. A versão integral poderá ser lida no
nosso blogue CRIME PÚBLICO, em http://blogs.publico.pt/policiario:
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE
PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 10 – PARTE I
“VENHAM DE LÁ ESSES OSSOS…” – de
JÚLIO PENATRA & GÁ
Venham de lá esses ossos…
A malta descobriu uma moeda de cobre
de 3 réis, no bosque do Tojo, em Castanheira do Ribatejo. Quando voltaram à
procura de moedas de oiro, o que encontraram foram ossos.
Para saberem se a descoberta teria alguma
coisa que ver com a história do lenhador de que falaram no acampamento anterior,
analisaram e concluíram que a moeda era do reinado de D. Luís I, cunhada em 1868.
Mas, como estava num estrato acima dos ossos e não era rara, não servia para
datação do achado.
Quanto aos ossos, verificaram, como
deviam:
a-
se eram de animal ou humanos
A caveira, seria de um caucasiano,
um tipo de ser humano, o mesmo se teria de entender quanto aos restantes ossos,
por estarem na mesma tumba e nada se dizer em contrário.
b-
se pertenciam a um ou mais indivíduos
A caveira, o fémur e o úmero seriam
de adulto e a mão de criança. O fémur e o úmero seriam de indivíduos diferentes,
pois os seus comprimentos não são compatíveis num mesmo indivíduo. Assim, os
ossos descobertos teriam pertencido a pelo menos 3 indivíduos diferentes.
c-
qual o género e a estatura aproximada
A caveira teria pertencido a um
homem caucasiano, por apresentar uma protuberância externa bem marcada no
occipital, maxilar em ângulo recto e queixo um pouco avançado. O fémur sugeria que
o homem teria cerca de 1,90m de altura. Poder-se-ia aceitar como plausível que
o úmero fosse da mulher com cerca de 1,50m. Desconhece-se o género da criança,
mas como estavam todos na mesma tumba, não fica excluído que os ossos pertencessem
ao casal - ele um latagão e ela uma fraca figura - e ao seu filho, ou seja, ao
lenhador e sua família.
d-
a idade aproximada no momento da morte
O fecho das suturas cranianas
inicia-se e conclui-se em idades relativamente bem estabelecidas para a maior
parte dos indivíduos. Segundo o texto, as suturas sagital, coronal e lambdóide
já estariam fechadas e a que ligava o mastóide ao parietal quase. Estas duas
são as mais tardias e delas a primeira fecha por volta dos 42 anos e a segunda pelos
51, daí que a idade aproximada do homem poderia situar-se entre os 42 e os 51
anos. Não seria possível estimar a idade da mulher, a partir do úmero, nem da
criança, a partir dos ossos da mão face ao seu estado.
e-
o tempo decorrido entre o momento da morte e o da descoberta
Segundo as análises, a morte dos três
teria ocorrido há 100-120 anos. Ora, como a descoberta dos ossos teve lugar em
1968, dias após o início do governo de Marcello Caetano, as mortes teriam
ocorrido entre 1848 e 1868.
f-
a natureza de alguma lesão e a causa da morte
O fémur apresentava sinal de calcificação
de extensa fractura. Dado relevante para a identificação do indivíduo, mas não
para explicação da causa da sua morte e dos que o acompanharam na tumba.
g-
mais algumas pistas sobre as identidades
O 1º governo do Marquês de Loulé
decorreu de 1856 a 1859, no período (1848 e 1868) em que as mortes terão tido
lugar, e o lenhador e a família desapareceram, tendo a sua cabana ficado
reduzida a carvão. Por isso, este seria mais um factor a favor da ideia de os
ossos descobertos terem pertencido ao lenhador e à sua família.
Vimos que a caveira permitia
estimar uma idade à volta de 42 a 51 anos em vida. Segundo a história, o
lenhador, em 1832, teria 25 anos, logo, em 1856-1859, teria uma idade entre 49
e 52 anos, mais perto da 1ª do que da 2ª, o que está dentro do intervalo de
idades atribuídas à caveira e constituía mais um dado a favor da possibilidade
dela ter pertencido ao lenhador.
Quando o lenhador voltou à
Castanheira, coxeava. A extensa fractura calcificada que o fémur mostrava em
morto, em vida, deveria provocar dificuldade no andar, o que seria mais um dado
a favor da possibilidade destes ossos terem pertencido ao lenhador - um latagão
coxo.
Vimos também que a mão seria de uma
criança pequena. Estando estes ossos na mesma tumba e sensivelmente no mesmo
estrato que os ossos dos adultos, parece razoável considerar-se que a sua morte
teria ocorrido na mesma altura (a datação é aproximada) e teria com eles alguma
proximidade. Ora, tendo em conta que toda a família do lenhador desapareceu na
mesma altura e que dela fazia parte um filho de 3 anos, também parece razoável
pensar-se que a referida mão teria pertencido ao filho do lenhador.
Nos ossos descobertos não foram
encontrados sinais que pudessem dar uma ideia de qual o meio utilizado para
causar a morte. No entanto, face às circunstâncias, conjugando os resultados e
as datas com os pormenores da história que chegou aos nossos dias, mais o facto
de todos estarem sepultados na mesma tumba pouco profunda, e o facto de o
achado ter tido lugar na proximidade do local onde moravam e foram vistos pela
última vez, torna plausível que a sua morte não tivesse sido um acontecimento
natural e que os restos encontrados tivessem efectivamente resultado de um fim súbito
e trágico do lenhador e da sua família, quem sabe se devido às ideias que
defendia.
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