[Transcrição da secção n.º 1174 publicada hoje no jornal PÚBLICO]
PRIMEIRO DESAFIO DA ÉPOCA 2014
Finalmente!
Assim dirão os nossos “detectives”, há
muito tempo à espera das competições que sempre animam a nossa actividade,
agitam as “células cinzentas” e são, de resto, a razão da existência da nossa
secção.
Damos hoje início a mais uma época de competições, publicando o
primeiro problema dos 20 que vamos, mês a mês, propondo aos nossos
“detectives”, ao longo de todo o ano.
Depois de termos divulgado os regulamentos
que vão vigorar durante esta época, chegou o momento mais esperado, com o
desafio que nos é proposto pelo confrade Beirão, em que os nossos “detectives”
são chamados a decifrar um crime cometido no Ribatejo.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
PROVA
N.º 1 – PARTE I
“ UM
MORTO NO RIBATEJO”, Original de BEIRÃO
O Sebastião
apareceu morto.
Naquele local
ermo e calmo, algures no interior do Ribatejo, em zona onde muitas vezes os
nevoeiros têm o seu reinado, um nome como o dele prestava-se a brincadeiras a
propósito da lenda que mostraria um Sebastião a aparecer numa manhã de
nevoeiro...
Diziam-lhe os amigos para ter o cuidado de nunca aparecer
quando os nevoeiros tapassem a planície, pois poderia acabar em rei... sem
trono!
Sebastião não era rei de coisa nenhuma.
Filho de um modesto caseiro de uma propriedade abastada,
teve a sorte de vir ao mundo com dois palmos de cara e assim conquistar a filha
do senhor das terras, algo que não era, como é óbvio, muito bem recebido por
este.
Daí que estivesse proibido de aparecer na parte da casa
dos senhores, o que não impedia, ao que se dizia, alguns encontros furtivos.
Naquela manhã, Alarcão, proprietário e pai de Carolina,
levantou-se cedo, cerca das 7 horas e como declarou mais tarde à polícia, não
viu nada porque o nevoeiro ali é mesmo cerrado e também não ouviu nada
estranho, nem os cães deram sinal, pelo que foi logo fazer aquilo que mais
gostava, ou seja, tratar dos seus cães, mas muito rapidamente porque era ainda
muito cedo e o vento gelado quase cortava a cara.
O casarão ficava na parte da frente do terreno, ainda a
considerável distância da estrada e era vedado em todo o seu perímetro por
muros altos. Na parte de trás do terreno, fora dos muros, estava a casa do
caseiro, onde vivia Sebastião.
Todo o terreno estava isolado de outros, uma vez que havia
pinhais em toda a volta, excepto na frente, onde passava a estrada. Do lado
direito, havia um caminho que dava acesso à casa do caseiro, ao longo do muro
compacto, de mais de 100 metros, apenas interrompido quase no seu extremo, por
um portão que era usado por todos os que da casa do caseiro iam ou vinham para
a casa do Alarcão.
Foi por volta das 8 horas que a mãe do moço deu com ele
sem vida, quando o foi chamar para o pequeno-almoço.
Os pais de Sebastião não deram por nada, segundo
declararam, o mesmo acontecendo com os moradores da casa de Alarcão. Os
vizinhos mais próximos, do outro lado do pinhal, disseram que apenas ouviram os
cães em grande algazarra, por volta das 7 e meia, como sempre faziam quando o
seu dono regressava a casa depois de alguma ausência e o vento estava de
feição.
O padeiro da aldeia, que circulava por ali, como sempre
fazia por volta daquela hora, na faina de levar o pão de porta em porta,
declarou que não deu nota de nada e que só viu, ao olhar da estrada, o senhor
Alarcão a caminhar em direcção a sua casa, vindo dos lados da casa do caseiro,
ainda não eram 8 horas.
A polícia interrogou-o durante algum tempo, sabia-se que o
Sebastião namorara com a filha dele durante muito tempo e que chegaram a ter
data marcada para casamento, mas a chegada da filha de Alarcão fez cair por
terra todos os planos, mas o interrogatório não revelou muito mais.
A filha do padeiro, por seu lado, declarou não saber nada
sobre o assunto, já que nessa madrugada e manhã estivera com a mãe a fazer o
pão que o pai levava a casa das pessoas, o que se confirmou.
Alarcão manteve a sua história e mostrou-se muito ofendido
por alguém alimentar sequer a suspeita de que ele seria capaz de fazer tal
atrocidade ao moço, mesmo querendo, como ele queria, que ele largasse a sua
filha, de vez.
O Inspector não precisou de muito tempo para descobrir que
alguém não dizia toda a verdade nesta história e que apesar do Sebastião jamais
poder surgir do nevoeiro, esse alguém também não o poderia fazer durante muito,
muito tempo...
Caro detective: Elabore um relatório sem se esquecer que
não basta dizer quem mente. É preciso justificar, apresentando as provas.
E pronto.
Apresentado o primeiro caso, chegou o tempo dos nossos
“detectives” de debruçarem sobre ele e elaborarem as propostas de solução, que
deverão ser enviadas, impreterivelmente até ao dia 28 de Fevereiro, usando um
dos seguintes meios:
-Pelos
Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-Por
e-mail para um dos endereços: lumagopessoa@gmail.com; pessoa_luis@hotmail.com
ou luispessoa@sapo.pt.
-Por
entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
ALERTA AOS NOVOS “DETECTIVES” PARA EVITAR SURPRESAS
Para
os confrades que pela primeira vez se vão abalançar na decifração deste caso,
queremos deixar uma saudação especial e dar-lhes um conselho, sem qualquer
paternalismo, para que não elaborem a solução sem o devido estudo do problema.
Muitas vezes a pressa é inimiga do acerto. Ler muito bem o problema, anotando
aquilo que mais chama a atenção, para posterior análise, ver as contradições,
os erros nas declarações dos intervenientes, fazer um esboço num papel, são
coisas que ajudam a perceber a cena proposta pelo autor e podem ser
determinantes para uma boa solução.
Recordamos,
também, que a qualidade da solução pode ser fundamental para assegurar a
passagem à eliminatória seguinte da Taça de Portugal, uma vez que, por se
tratar do primeiro desafio, serão apurados os autores das melhores 512 soluções
recebidas. As eliminatórias seguintes já serão resolvidas em “um contra um” e
aí, desde que um confrade supere o seu opositor, com qualquer pontuação, será
apurado. Nesta fase, no entanto, não será assim. É mesmo necessário assinar uma
das 512 melhores para poder seguir em frente!
Boas
deduções!
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