[Transcrição da secção n.º 1214 publicada
hoje no jornal PÚBLICO]
O MESTRE M. CONSTANTINO FILOSOFANDO SOBRE MAÇÃS:
CULPADAS OU INOCENTES?
Termina hoje a época competitiva
no que refere à publicação de desafios e termina da melhor maneira com um
problema do Mestre, ou seja, com a “marca registada M. Constantino”, garantia
de qualidade:
CAMPEONATO NACIONAL E
TAÇA DE POORTUGAL
PROVA N.º 10 (ÚLTIMA)
– PARTE II
“A CULPA É DA MAÇÔ –
Original de M. CONSTANTINO
Eva, a bíblica mãe de todas as
mulheres do planeta Terra, ao convencer o frouxo e imprevidente Adão a
compartilhar consigo a maçã da árvore proibida, não só sepultou a inocência
humana como originou a perda do único paraíso terreal. Daí, provado o deleitoso
sabor da “fruta”, jamais parou… pais, seus filhos, filhos dos filhos… enquanto
o gasto e “chifrudo” Adão, a braços com a falta de uma costela, mirrado pela
artrite imposta pelos anos, esconde as exaustas vergonhas com uma parra, ela
serpenteava, nua de corpo e de pudor…
Milénios sucedem-se a milénios.
Ao longo de muitas vidas, gerações de gerações, Adões e Evas acusam a mesma
demanda…
E a culpa é da maçã!
Entre o bem, o mau, o execrável,
vive-se da “fruta”, mata-se e morre-se pela “fruta”. Um anelo tentante alicia
milhões de Evas. Entretanto, aparece sempre um Adão com jeito especial para lidar
com o ardil da serpente, o feitiço de engodo…
Muitas Evas, menos cuidadas,
ovelhas tresmalhadas aos olhos do lobo mau – de preferência as mais abonadas –
nutriam-lhe a voracidade.
Viera de longe, Nada o ligava à
remota paisagem. Ao longo de muitas vidas criadas, correspondentes a outros
horizontes, deixava um rol avantajado de Evas endinheiradas, adúlteras
reduzidas à penúria pela chantagem, suicídios estranhos, desaparecimentos
misteriosos sem explicação. Não receava os maridos, irmãos ou familiares, certo
que estes temiam pela sua reputação, já que as investigações policiais
raramente lhe passavam perto.
Dizia-se Alberto du Buiãs, de
ascendência francesa, menos de quarenta anos de idade, esbelto e atraente,
olhes azuis (no presente), moreno de dentes brancos e sorriso demolidor.
Frequentava o casino local, onde
se fazia notar pela indiferença pelas perdas, ressarcidos os ganhos resultantes
do conhecimento e companhia de belíssimas mulheres. Parece não ter tido
dificuldades em se introduzir no clube desportivo da “alta-roda”, mercê da
descontraída posição social – o título de barão – e a atraente audácia. Ali se
tornou conhecido e companheiro assíduo de Glória e Dina, duas amigas de
infância, frequentaram a mesma escola particular e moravam na mesma rua da zona
elegante da cidade. As raparigas estavam encantadas, apaixonadas, todavia nunca
discutiam entre si as suas intimidades e emoções.
Glória, de 26 anos, loura,
delgada de cintura e seios proeminentes, ousados, divorciada recente, recebia
uma grossa mesada e adquirira 4 milhões, de indemnização, para calar o
escândalo de ter encontrado o ex-marido, político influente, na cama, com uma
colegial de 14 anos.
Dina, mais alta que a amiga,
igualmente esbelta, belíssima morena de 29 anos, viúva de um industrial vítima
de uma competição automóvel, herdara um negócio orçado em quinze milhões, a par
de acções, obrigações e títulos vários, valiosos.
Não tinham filhos ou outros
familiares, excepto um vago irmão desta última, de paradeiro desconhecido.
Ambas desportivas; para além do
treino de manutenção, Glória era uma excelente atiradora com qualquer arma,
Dina destacava-se na luta e defesa pessoal.
Tudo isto era do conhecimento do
“barão” que, racionalmente, cortejava ambas, sem se decidir. Inesperadamente,
nos primeiros dias da semana, Glória não aparecera no seu clube, o seu veículo
desportivo foi assinalado na cidade vizinha. Quando voltou deu-se o contrário,
foi Dina que não apareceu. Ninguém, nem elas, comentaram o significado das
ausências. Tudo voltou à normalidade.
Alberto comprou duas lindas
salvas de prata iguais. Levou uma a Dina; deixou-a sobra a mesa da sala com uma
pirâmide de maçãs, que ele próprio compôs. Procedeu de igual modo com Glória.
Sabia que apreciavam. Nessa tarde, Dina visitou a amiga e, feliz, contou que
ela e Alberto aguardavam um navio de cruzeiro para partirem numa volta ao mundo
e casariam a bordo. Não esperava a reacção de Glória:
- Oh, não! Isso é impossível! Não
pode ser… negociei… fiz um acordo… vou ficar sem nada… prefiro morrer!
Apanhou uma arma da estante. Dina
viu o dedo puxar o cão e a trava de segurança; a arma dirigir-se para o peito,
saltou levando a mão para o alto. A arma caiu no chão e disparou-se, atingindo
Glória. Foi este o depoimento que telefonicamente prestou à judiciária e ficou
gravado. Telefonou a Alberto.
Quando este ainda estava à porta
tentando acalmá-la, chegaram os inspectores Mateus e Elias. Entraram na sala.
Este começou por fotografar tudo, enquanto Mateus se debruçava sobre o corpo
estendido no chão, meio de lado. Notou o buraco de entrada da bala um pouco
acima do mamilo esquerdo e o de saída no lado oposto, onde caíra sobre um
ligeiro charco de sangue. A arma, perto dos pés, foi levantada com um lápis
delgado enfiado no cano, depois de desenhado o contorno no chão; viu que estava
carregada e voltou a colocá-la no lugar. Foi junto à estante, perto onde se
encontravam armas de todas as espécies, entre as de duelo e defesa pessoal,
todas carregadas e com gatilhos muito sensíveis, próprios de um atirador experiente.
Ouviu o depoimento de Dina, que coincidiu com o registado na Polícia, enquanto
Alberto, parecendo mostrar forte emoção, sentou-se tapando os olhos com as
mãos. Dina andava de um lado para o outro, como atordoada. Ao passar pela
pirâmide de maçãs em cima da mesa, pegou na de cima e lamentou:
- Querida amiga, nem provou as
maçãs de Alberto…
Mordeu a maçã e começou a
comê-la… de repente soltou um grito estridente, levou a mão à garganta, a
respiração tornou-se estertorosa, deu um passo e caiu com convulsões intensas.
Alberto ouviu o grito, viu o pequeno pedaço de maçã na mão da moça e gritou:
- Engasgou-se… engasgou-se!
Correu para ajudar mas Mateus
adiantou-se; conseguiu abrir a boca de Dina, mas não viu o pedaço de maçã e
sentiu o cheiro de amêndoas amargas. O rosto da vítima tornou-se violáceo… deu
um suspiro profundo… o último. Procurou sinais de vida, não os encontrou.
- Está morta! Anunciou.
- A culpa foi da maçã!... Fiquei
sem uma boa amiga e agora, sem a minha noiva! Tenho que sair daqui, preciso de
ar! Posso sair, inspector?
- Não, não pode. Precisamos do
seu depoimento. E acrescentou, pegando no telemóvel: E a porra do médico
legista que não chega! Deve estar a jogar às cartas com os do laboratório…
É a vez dos leitores. Face ao
exposto, quais as conclusões a tirar?
1- Um homicida?
2- Dois homicidas?
3- Um suicídio?
4- Dois acidentes?
E pronto.
Resta aos nossos “detectives”
dizerem-nos, impreterivelmente até ao próximo dia 5 de Dezembro, para o que
poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23,
2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que
o encontrem.
Boas deduções!
Sem comentários:
Enviar um comentário