domingo, 31 de agosto de 2014

POLICIÁRIO 1204

[Transcrição da secção n.º 1204 publicada 
hoje no jornal PÚBLICO]

UMA SOLUÇÃO DAS 1002 NOITES!

Mesmo a terminar o mês que tradicionalmente mais se associa a férias, ficamos com a solução oficial da primeira parte da prova n.º 6, de autoria da dupla Búfalos Associados.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 6 – PARTE I
A MILIONÉSIMA SEGUNDA NOITE”, de BÚFALOS ASSOCIADOS


   Podem sossegar os apreciadores porque ainda não será desta que vai ser posto em causa o final da bela obra que é "As mil e uma noites". De resto, aparecerem novas histórias possíveis de nela serem incluídas, é coisa que pode sempre acontecer. As histórias que a compõem, de origem diversa e popular, foram sendo acrescentadas ao longo dos tempos a partir, ao que se crê, do século IX. No Ocidente passou a ser conhecida numa tradução para o francês em 1704 pelo orientalista Antoine Galland, na forma hoje conhecida e mais tarde traduzida em quase todas as línguas. Mas tudo nos indica que o Patranhas terá inventado os dois documentos com que esperava brilhar naquela noite em casa da Tia Laurinda. Vejamos:
   A carta do padre Dâmaso é certamente falsa. Por dois motivos. Primeiro porque Patriarcado de Lisboa só existiu a partir de 1716. E depois porque aquela data, 10 de Outubro de 1582, nunca existiu. Na verdade, nesse ano Portugal passou do calendário Juliano para o Gregoriano, e dez dias foram pura e simplesmente apagados, entre 4 e 15 de Outubro. Foi uma das consequências do Concílio de Trento, durante o papado de Gregório XIII. E o Patranhas parece estar a mentir quando se contradiz dizendo primeiro que os papeis estavam no meio dos livros da estante e mais tarde que os encontrou numa gaveta. Quanto ao outro texto poderíamos também duvidar do uso da palavra "solidéu" num documento árabe, por ser um adereço de cabeça usado por religiosos cristãos ou judeus, mas enfim, poderia ter sido um efeito da tradução para português. A alternativa seria a palavra "calota". Mas como a carta é falsa, o documento também o será naturalmente.
   Passemos agora às quatro questões colocadas pelo Rei Xahriar à inventiva Xerazade. Eis a resposta dada pela Tia Laurinda:
   -"Vejamos como terão explicado as suas decisões os três pretendentes. Após a colocação dos três solidéus retirados dos cinco, três pretos e dois brancos, passou algum tempo, após o que Ibrahim desistiu. Certamente porque não viu nas cabeças dos rivais na sua frente dois solidéus brancos,  caso contrário teria a certeza de que o seu era preto. Ibrahim pensou assim dar uma prova da sua inteligência, já que não tinha mais certezas. Passa mais algum tempo e Abul pensa: "O Ibrahim certamente desistiu porque não via dois brancos. Logo em nós dois que ainda não falámos, pode haver ou dois pretos, ou um branco e um preto. E o meu pode ser o branco, mas também pode ser preto. Como saber? Não quero falhar e o mais inteligente, com os dados que tenho, será desistir também". O caminho ficou agora livre para Hassan que, tendo percebido as razões das desistências anteriores, já sabe que o seu solidéu é de certeza preto, pois se fosse branco, o Abul teria acertado."  
    Laurinda prosseguiu:-"Isto foi o que os três terão dito no fim, reivindicando a inteligência das suas respostas, com os dados que cada um possuía em cada ocasião. Mas o Sultão demonstrou-lhes que podiam ter sido bastante mais inteligentes:
   -"Meus jovens, a verdade é que qualquer de vocês, rapazes inteligentes, podia ter acertado sem esperar por respostas de outros. Bastava terem interpretado o silêncio como interpretaram as desistências. De início era mais do que evidente para todos que não podiam estar colocados os dois solidéus brancos, caso contrário aquele que os visse teria concluído rapidamente que o próprio era preto, e o único preto. Não aconteceu. Que não estavam dois brancos vocês já sabiam  mas, em face do silêncio de todos, podiam também ter percebido que nem sequer um podia estar, porque se alguém eventualmente visse um branco apenas, sabendo já que não podia haver dois, concluiria logo que forçosamente tinha um preto na própria cabeça e tê-lo-ia dito. Mas o silêncio continuou. Estavam assim todos aptos a dizer, ao fim de um certo tempo, que o seu solidéu era preto, tal como os dos outros, e que os dois brancos tinham ficado no saco. Estas teriam sido a resposta e a explicação mais inteligentes e ao alcance de todos sem necessidade de desistências. Bastava um pouco de raciocínio próprio e confiança no dos outros. E ninguém sabia que eu estava a ser imparcial e tinha respeitado a equidade usando apenas os solidéus pretos, porque se o soubessem teria sido fácil demais.  A verdade é que também isso vocês teriam de descobrir. Mas como as vossas respostas, apesar de tudo, não foram de todo estúpidas, vou poupar-lhes a vida. Noiva é que terão de ir procurar a outro lado."  - Isto era o que o Sultão podia ter dito - continuou Laurinda - e seria a forma que eu usaria para concluir a história, com a mesma clemência que o Rei usou para com Xerazade no conhecido final da obra. Assim tudo acabaria sem sangue derramado."
   A Tia Laurinda mais uma vez dava provas da sua perspicácia e bom senso.  -"Pois é, - disse o Patranhas - o documento árabe nunca existiu, nem o Padre Dâmaso. E até já saiu um problema que lembra este, mas de todo não igual, nos DESAFIOS, no PÚBLICO, em Abril de 1990. De facto tentei enganar-vos."
   E Garrett rematou: "O mais curioso em "As mil e uma noites" é que, ao longo de mais de duas mil páginas de ficção, não ficamos a saber quase nada sobre uma das protagonistas mais conhecidas da história da literatura, a não ser que tinha uma irmã que lhe pedia para contar histórias, era filha de um Vizir e tinha uma notável arte de narrar. Em frases curtas e quase sempre iguais, entre as histórias que vai contando, apenas nos é dito que é discreta. Mas conseguiu, com a sua habilidade, vencer a crueldade do Rei. Acabaram por casar e ter muitos meninos. Se terão sido felizes é que ninguém sabe. Mas que ideia tão cruel que teria sido mandar cortar-lhe o pescoço! Felizmente que o Patranhas inventou tudo isso."
  E a noite acabou com todos a ouvir o belo poema sinfónico "Xerazade" de Rimsky-Korsakov. Vamos fazer o mesmo?



sexta-feira, 29 de agosto de 2014

OLGA LIMA: SEMPRE PRESENTE!

 O texto que segue foi-nos enviado pelo confrade JARTUR e refere-se ao falecimento da mulher de um confrade que é uma referência do Policiário: M. LIMA.
Ao confrade, em nome de todo o nosso MUNDO POLICIÁRIO, manifestamos toda a solidariedade neste momento difícil e complicado.


Prezados  “sherlocs”
      
       
Gostaria de não ter de vos enviar esta mensagem. Esta tristíssima mensagem.

Na passada terça-feira, 26 do corrente, faleceu a saudosa Dona OLGA LIMA, também assim conhecida no “Policiário, esposa do nosso grande amigo e conceituado “Sherlock” Manuel de Lima, que todos nós admiramos como policiarista e campeão dos convívios, M. LIMA.
     
Foi pela boca desse grande Amigo, que hoje me telefonou, que eu soube da lutuosa ocorrência, e lamento não a ter conhecido pelo
jornal, a devido tempo, o que me impediu de lhe prestar, com a minha triste presença, a derradeira homenagem que aqui deixo expressa.
     
ÂNIMO, AMIGO M. LIMA.

DESCANSE EM PAZ,
SAUDOSA AMIGA OLGA LIMA
                                   


       JARTUR MAMEDE

                                 Porto, 29 de Agosto de 2014          

domingo, 24 de agosto de 2014

POLICIÁRIO 1203

[Transcrição da secção n.º 1203 publicada 
hoje no jornal PÚBLICO]


O POLICIÁRIO EM TEMPO DE FÉRIAS: ÉVORA 2012

Em Março de 2012, no dia 29, o Inspector Fidalgo deslocou-se à Universidade de Évora para proferir uma breve palestra, a convite do Departamento de Química.
Da sua intervenção, destaque para algumas considerações, que vamos aqui relembrar, aproveitando a actual “calmaria” devida às férias…

A QUÍMICA DO CRIME…


“Reconheçamos que faz todo o sentido que seja a Química a reivindicar cada vez mais o papel principal no combate ao crime, tal é o desenvolvimento actual da ciência e da técnica na resolução dos casos criminais. O CSI é hoje uma realidade transmitida e ampliada por séries televisivas atractivas e muito dinâmicas, ainda que nem sempre retratem a realidade.
Mas, se a Química é hoje uma componente fundamental para a resolução dos crimes, também não faz mais do que a sua obrigação, porque uma imensa maioria dos crimes cometidos, ditos de sangue (assassínios, agressões, violações, etc.), têm também a sua origem na própria Química (…)
É a “Química” das pessoas, as reacções pessoais que conduzem à grande maioria desses crimes, digamos, circunstanciais, não planeados. Uma palavra dita no momento errado, excessiva, pode despoletar uma reacção fortíssima, desproporcionada, que conduza ao cometimento de um crime. É o vulgar “perdeu a cabeça”… “passou-se”!
Portanto, digamos que uma certa “Química” é causa principal de actos que uma outra “Química” vai resolver… Quase “em família”!

O POLICIÁRIO

O termo Policiário foi desenvolvido pelo Sete de Espadas, a partir da designação que foi dada por Fernando Pessoa que em carta escrita ao seu amigo Adolfo Casais Monteiro referia que estava a trabalhar numa novela policiária, supostamente “O Roubo na Quinta das Vinhas”. Esta carta, de 13 de Fevereiro de 1935, foi o ponto de partida para a designação do nosso passatempo.

É bom que fiquemos já cientes que o crime que mais nos interessa não é o que referimos atrás, como circunstancial, como reactivo, como “Químico”, mas sim aquele que é planeado, estruturado por um cérebro o mais brilhante que for possível.

Também é bom que percebamos que a nossa actividade é levada muito a sério por todos nós, ou seja, mesmo tratando-se da decifração de enigmas ficcionados, de forma lúdica, essa decifração obedece a todas as regras de uma investigação real.

Finalmente, nem tudo se passa em redor do crime. É possível e muitas vezes acontece, haver desafios onde a actividade criminal não está presente, por exemplo, pedir-se aos detectives que descubram qual foi a criança que comeu um bolo que não era suposto ser comido, ou qual dos empregados cometeu um erro numa encomenda, ou qual foi o aluno que pregou uma partida a um professor, etc.

FERNANDO PESSOA, SEMPRE ELE…

Reparem só num pequeno extracto da novela de Fernando Pessoa, já referida, “O Roubo na Quinta das Vinhas”, para termos uma ideia daquilo que a ferramenta Policiário nos pode “ensinar” para a vida:
Diz o Dr. Abílio Quaresma, o investigador de Pessoa, a dado momento:

“Um exemplo: passo por uma rua e vejo um homem caído no passeio. Instintivamente me pergunto: porque é que este homem caiu aqui?
Já aqui vai um erro de raciocínio e, portanto, uma possibilidade de erro de facto. Eu não vi o homem cair ali. Vi-o já caído. Não é, portanto, um facto para mim que o homem caísse ali. O que é um facto para mim é que ele está caído ali (…) Creio ter-lhes mostrado bem como é complicado o que parece tão singelo. É preciso, em qualquer problema, separar cuidadosamente, logo no princípio, os dados e as conclusões…”.

Mais claro, não podia ser…
O Policiário coloca cada participante perante as várias situações possíveis, ou seja, como vítima, como testemunha, como suspeito, como criminoso e como detective. Portanto, o criador do enigma tem que juntar todos os intervenientes, colocar cada qual no seu lugar, estudar e planear a cena onde se desenvolve a acção, deixar os indícios que conduzam à decifração, apontando a um único culpado e ilibando os restantes.

 PRODUTOR / DECIFRADOR / UTILIZADOR…

Quer isto dizer que um produtor de enigmas policiários tem que dominar toda a acção, porque não lhe é apresentado um caso, ele tem é que fazer esse caso.

Ao decifrador cabe interpretar os elementos que lhe são fornecidos e chegar a um resultado lógico.
É nesta lógica que reside, em grande parte “a ferramenta”. O policiarista confronta-se, a todo o momento, com a lógica das ilações que vai retirando dos factos que lhe são apresentados, desenvolvendo, portanto, uma cadeia lógica de raciocínio, que vai poder aplicar na sua vida.
Não é por acaso que as pessoas mais capazes de ler, interpretar, encadear logicamente os dados fornecidos, retirando as ilações necessárias, ficam muito mais apetrechados para a sua vida profissional e pessoal, conseguindo dar respostas mais rápidas e certeiras às questões e constrangimentos que surjam.
Aí, o Policiário assume-se como uma ferramenta importante.

Mas há também a vertente de prevenção. Um policiarista entende melhor as situações, ao ficar perante elas, porque aprendeu a lidar diariamente com elas, na ficção. Assim é muito melhor observador, detecta e aponta pormenores fundamentais para a posterior captura do criminoso, sabe o que é essencial que anote na sua memória visual, auditiva e sensorial. É uma testemunha muito mais confortável para um investigador.

UMA BRINCADEIRA… COM “CABEÇA”

Há histórias engraçadas, jocosas, muito falaciosas, sobre testemunhas e ilusões, como por exemplo a de um crime que é cometido e há duas testemunhas que juram que viram o criminoso. Quando chega o momento da identificação, os dois apontam um certo indivíduo, sem reservas. Já no julgamento, ambos são taxativos na identificação, mas então aparece um irmão gémeo do suspeito, igualzinho! As testemunhas hesitam, não conseguem apontar qual deles viram no local do crime…
Problema insolúvel? Nem por isso, para o juiz, que ordena a reclusão de ambos e retoma o julgamento duas semanas depois. Nessa audiência, um dos manos aparece gordo e anafado, rosado, respirando saúde, enquanto o outro está enfezado, magríssimo…
O juiz não tem dúvidas: manda libertar o gorducho…
A conclusão é simples, “o que não mata, engorda!”



(continua)

terça-feira, 19 de agosto de 2014

PRAZO TERMINA AMANHÃ!



Uma alteração é sempre uma alteração! Representa uma mudança de hábitos que, muitas vezes, causa confusões involuntárias.





Por isso, aqui estamos a recordar aos nossos confrades e detectives que o prazo para envio das propostas de solução aos desafios da prova n.º 6, termina amanhã, dia 


deste mês de



E atenção que as classificações da prova n.º 5 estão a caminho...


domingo, 17 de agosto de 2014

POLICIÁRIO 1202


[Transcrição da secção n.º 1202 publicada 
hoje no jornal PÚBLICO]


HOMENAGENS DO MÊS DE AGOSTO: 
DIC ROLAND E K.O.


Fruto, talvez, de um certo envelhecimento do Policiário, pelo menos no que diz respeito aos confrades que normalmente estão no topo das classificações, no período de pouco mais de um ano, entre 9 de Agosto de 2006 e 24 do mesmo mês, mas do ano de 2007, passámos pela rude experiência do desaparecimento de dois dos nossos Amigos e, ao mesmo tempo, “monstros sagrados” deste passatempo singular: Dic Roland e KO.

Podíamos seguir a táctica da avestruz e ignorarmos.
Podíamos levar até aos nossos leitores os torneios, as classificações, sem mais. Podíamos aplaudir vencedores sem rosto...
Mas, no Policiário não é assim! Nunca foi e nunca será enquanto por cá andarmos.

No Policiário queremos muito mais, queremos conhecer as pessoas, queremos ter um rosto associado a cada pseudónimo, queremos que todos os leitores e concorrentes sejam, também, confrades, companheiros de viagem, que partilhem connosco o prazer de decifrar enigmas e de conviver.

A inexorável lei da vida não perdoa.
Ficamos com uma singela homenagem a dois dos nossos, que deixaram marcas que não serão esquecidas e que certamente vai despertar nos nossos confrades recordações de um passado de convivência e de competição saudável.





DIC ROLAND


Completaram-se no passado dia 9 de Agosto, 8 anos sobre o desaparecimento deste nosso confrade, que deixou uma marca muito profunda no nosso passatempo e em todos os que tiveram o privilégio de com ele conviverem.
Pessoa de enorme estatura moral e intelectual, assumiu desde a primeira hora desta nossa secção, em 1 de Julho de 1992, o Policiário como sua modalidade de eleição, quer na vertente de competição, em que conquistou praticamente tudo na modalidade de decifração ou na de produção, quer na vertente de convívio, em que foi um grande campeão, marcando presença em praticamente todos os eventos onde o Policiário estivesse.
Inicialmente, vivia no Retaxo – Castelo Branco, onde dirigia uma estalagem e apesar de contar já uma certa idade, era vê-lo marcar presença em todos os eventos. Umas vezes levantava-se de madrugada e vinha “por aí abaixo”, outras vinha de véspera, para não correr o risco de não chegar a tempo!
Depois mudou-se para junto da Barragem do Fratel, para dirigir uma outra estalagem, onde chegámos a realizar um excelente convívio Policiário, com visita a Nisa e às Termas da Fadagosa.
Finalmente, “estacionou” em Vila Nova de Santo André, onde criou o grupo Poliandré, com os confrades Vilnosa e Sinid Agiev organizando alguns dos mais extraordinários convívios, sempre com uma vertente cultural associada, fosse uma visita às ruínas romanas de Miróbriga, fosse um safari no Baddoca Park…
A vida pessoal e profissional de Dic Roland passou por Goa onde desempenhou funções oficiais e de lá trouxe uma forma especial de contar histórias e muitos dos seus problemas retrataram momentos aí vividos, com notas do exotismo que associamos ao Oriente e à Índia em particular.
Infelizmente, os seus problemas são muito extensos, feitos numa altura em que dispúnhamos de mais espaço nesta nossa secção, o que os torna de difícil republicação, mas vamos tentar encontrar alguma produção sua que possa ser “encaixável” no espaço de que dispomos, para que os novos “detectives” possam contactar com o que Dic Roland produziu.
A sua capacidade de bem escrever, decifrar e contar histórias, fazia com que cada solução que elaborava para dar resposta aos enigmas de outros confrades, fossem autênticos tratados, quase sempre correctos e certeiros, o que fazia dele um crónico candidato às melhores soluções de cada problema. Também por isso, acabou por dar nome ao actual prémio das melhores soluções.
Possuidor de uma enorme capacidade de comunicação e um gosto especial pela decifração de enigmas e crimes, Dic Roland não deixava ninguém indiferente, sendo uma daquelas pessoas de quem não se pergunta se vai estar presente neste ou naquele evento, porque teria de acontecer algo de muito fortemente impeditivo para não marcar a sua presença.
Oito anos passados sobre a sua morte, o confrade Dic Roland continua bem vivo entre todos os que se revêem na sua exemplar postura de sempre.



K.O.


No mês de Agosto de 2007, foi o confrade Arlindo Matos, o K.O., que se despediu do nosso convívio, depois de um período atribulado, de avanços e recuos face à doença que o atormentava.
Foi no dia 24 que o confrade e Amigo Nove nos transmitiu a dolorosa - já esperada, mas nem por isso menos chocante – notícia:
- O K.O. faleceu!

Conhecemos o K.O. logo no início deste nosso espaço, no ano de 1992. Era já um policiarista antigo, que andara por muitos dos acontecimentos mais marcantes da nossa actividade e que naquele momento regressava “a casa”, à sua casa Policiária.
Decifrador de elevada craveira, entusiasta do Policiário, desde logo se destacou pelas soluções elaboradas que produzia, ao ponto de serem muitas as vezes em que combinava connosco um encontro no parque de estacionamento de um hipermercado no Cacém, para entregar um “embrulho” que continha a sua proposta de solução, à tarde, quando ele regressava a casa em Mem Martins, vindo da “sua” escola, onde leccionava e fazia parte da direcção.
Vencedor por natureza, K.O. acumulou títulos e prémios, espalhou a sua simplicidade, simpatia e entusiasmo por todos os locais por onde o Policiário passou, deixando um rasto de admiração pelas suas qualidades, muito bem secundado pela sua inseparável mulher, a D. Isaurinda, sua verdadeira “alma-gémea” em tudo, sendo difícil encontrar duas pessoas tão completas, tão Amigas dos seus Amigos, tão interessadas com o bem estar de todos à sua volta!...
Não são palavras de circunstância que nos levam a dizer que o Policiário ficou bem mais pobre. Há um vazio físico que fica, mas atenuado pela certeza de que todos nós ficámos bem mais ricos com o tempo que pudemos usufruir da sua companhia.




HOJE, HOMENAGEM AOS CONFRADES DIC ROLAND E K.O.

O Policiário também são memórias!
Memórias antigas ou menos antigas de uma actividade que caminha para um século de existência, sempre com muitas pessoas dentro.
Para isso, para relembrar e homenagear, também servirá o Arquivo Histórico que o confrade JARTUR vai enriquecendo a cada dia que passa, mas igualmente a secção do PÚBLICO e o blogue.
Hoje, regressamos aos nossos queridos e saudosos DIC e KO, como memórias (MUITO BOAS) mais recentes de dois excelentes policiaristas e, SOBRETUDO, seres humanos, convivas, Amigos.










domingo, 10 de agosto de 2014

POLICIÁRIO 1201

[Transcrição da secção n.º 1201 publicada 
hoje no jornal PÚBLICO]



 QUE DISFARCE USOU O LARÁPIO PARA ROUBAR A CANETA VALIOSA: CINDERELA, PINÓQUIO, PRÍNCIPE OU BRANCA DE NEVE?

 Como nos dizia um confrade há poucos dias, “o Policiário não dá tréguas, nem em Agosto”.
É bem verdade, mas foi uma opção que tomámos, depois de muitas tentativas de “encaixar” a nossa época competitiva no calendário das pessoas, respeitando os seus tempos de outros lazeres. Também os 22 anos que já levamos neste espaço, leva-nos aos tempos em que apenas o jornal publicava os desafios e quem não conseguisse arranjá-lo nos locais para onde ia de férias, ficava obrigado a malabarismos vários, desde fotocópias que outros confrades disponibilizavam, até cópias dos problemas que o orientador enviava… As facilidades da via “internet” aconteceram muito depois…
Aconteceu, então, que dividimos a época em duas partes, interrompendo nos meses de Julho e Agosto, tendo verificado que ocorria um “corte” que desmobilizava, ou pelo menos “arrefecia” as células cinzentas… Igualmente tentámos fazer épocas de competição entre os meses de Outubro e Junho, destinando Julho e Agosto a classificações, homenagens, recordações, mas também assim não nos sentíamos bem, parecia que faltava alguma coisa, era estranho haver um campeão de uma época e não de um ano, um Policiarista do Ano, sem ano, enfim, uma qualquer coisa que não jogava…
Acabámos por regressar ao ponto de partida: Competições de um ano civil, com prazos mais alargados nos meses de férias, para que ninguém fique excessivamente pressionado por estar longe e sempre com a “muleta” do nosso blogue Crime Público ou do sítio Clube de Detectives.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL - 2014
PROVA N.º 7 – PARTE II
“IDENTIDADE USURPADA” – Original de PAULO

Charles Grimm Andersen, famoso escritor de contos infantis, estava hospedado no hotel La Fontaine. Foi para esse local que eu me desloquei a seu pedido, com a concordância do diretor do hotel, com o objetivo de descobrir quem lhe roubara uma valiosa caneta de ouro incrustada com diamantes.
O autor tinha convocado algumas das suas personagens mais famosas para discutir com elas possíveis sequências das histórias de que eram protagonistas.
De acordo com a investigação que o detetive do hotel, um tal Hércule Dupin, já fizera, haveria quatro suspeitos que eu deveria interrogar e investigar.
Cinderela que, de origens humildes, surgia agora sempre elegantemente vestida, após o casamento com um príncipe, que lhe devolvera o sapato que perdeu num baile mesmo antes da meia-noite. Pinóquio, um estranho homem de madeira que ganhara vida e tentava transformar-se em humano. O Príncipe, apenas conhecido por este nome, que salvara de um sono de 100 anos uma bela princesa que todos conheciam por Bela Adormecida. A princesa Branca de Neve, acompanhada da sua corte de sete anões, que também se alojara no hotel.
Tendo chegado ao hotel pela uma da madrugada e tendo falado com o incompetente Hércule Dupin,- incompetente por ainda não ter descoberto o ladrão e necessitar da minha ajuda-, decidi ficar acordado toda a noite, vigiando os quartos dos quatro suspeitos.
Consegui descobrir coisas espantosas, que não surgem nas histórias infantis, mas que estas quatro personagens protagonizaram. O Pinóquio dormiu no quarto da Cinderela e a Branca de Neve passou a noite no quarto do Príncipe.
E andavam estas personagens a dar lições de moral e comportamento às crianças, enquanto se divertiam a trair os seus cônjuges.
Decidi interrogar um de cada vez, questionando-os sobre o que tinham feito na noite anterior, para testar a sua apetência para a mentira, e na tarde em que ocorrera o roubo.
Em relação à noite anterior todos referiram ter estado sozinhos nos seus quartos. No que concerne à tarde do roubo, Cinderela disse ter andado sozinha a visitar sapatarias, claro que todas com sapatos de cristal. Pinóquio contou que passara a tarde no quarto. O Príncipe fora visitar um antiquário, pretendendo adquirir uma valiosa coleção de agulhas de costura para oferecer à sua Bela, - e eu bem percebia porquê-. Branca de Neve ficara no quarto a conversar com o espelho mágico que a sua madrasta abandonara.
Lindas respostas. Todos uns grandes mentirosos. Mesmo que alguma verdade existisse no que diziam em relação à tarde em que ocorrera o roubo, não sabia como iria fazer para o comprovar. Cada vez estava mais irritado pelo Hercule Dupin não ter resolvido o caso e ter que me chamar a mim para ultrapassar a sua inépcia.
Enquanto me dirigia ao quarto do escritor para o colocar ao corrente da situação, pensava nos rostos impenetráveis e imóveis, sem mexerem um único músculo, a mentirem-me sobre o que se passara na noite anterior e sem revelarem o mínimo deslize que me permitisse dizer que mentiam.
Charles Grimm Andersen revelou-me a sua preocupação. Temia que além daquele roubo mais alguma coisa pudesse acontecer. Suspeitava que um dos seus convidados não fosse quem dizia. Alguns pequenos incidentes pareciam indicar a presença de um estranho no grupo, com identidade falsa, embora ele não conseguisse descobrir quem seria, e poderia ser esse estranho ou estranha quem roubara a caneta. Sabia que as suas personagens andavam a ter problemas de ordem sentimental, mas que isso não as transformava em ladrões. Para roubar, só um estranho ou estranha. Nunca poderia ser uma das suas criações. Alguém se disfarçara da sua verdadeira personagem.
Eu já tinha uma ideia sobre o assunto e expus-lha, concluindo, embora sem provas, que quem tinha a identidade falsa também poderia ter roubado a caneta.
Quem acha que está com a identidade falsa?
A-    A Cinderela
B-    O Pinóquio
C-    O Príncipe
D-    A Branca de Neve


E pronto.
Resta aos nossos “detectives”, encontrarem a alínea que responde ao problema do confrade Paulo.
Depois, é tempo de enviarem a proposta de solução e este enigma e ao que publicámos na passada semana, do mesmo autor, impreterivelmente até ao próximo dia até ao dia 15 de Setembro, usando um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas férias, para quem as tiver e boas deduções!






domingo, 3 de agosto de 2014

POLICIÁRIO 1200

[Transcrição da secção n.º 1200 publicada 
hoje no jornal PÚBLICO]


ADÉRITO PINTO ASSASSINADO EM CENTRO COMERCIAL

Em pleno período de férias, na praia ou em qualquer outro local, sempre sobra um momento para exercitar as células cinzentas.
Hoje é o desafio do nosso confrade Paulo que nos vai fazer pensar, entre dois mergulhos refrescantes…

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
PROVA N.º 7 – PARTE I
CRIME NO CENTRO COMERCIAL – Original de PAULO

Passavam poucos minutos das nove horas quando a polícia foi chamada. Quarenta minutos depois já toda a equipa responsável pela investigação da cena do crime se encontrava no gabinete da vítima, no mais recente e moderno Centro Comercial da cidade.
A zona de gabinetes onde ocorrera o assassinato ficava logo no piso de entrada, ao qual havia que somar dois pisos subterrâneos, dedicados a estacionamento e a áreas técnicas, e dois pisos acima do nível do solo.
Narciso Morais, o veterano inspector, entrou na área reservada aos gabinetes ocupados pelos elementos responsáveis por aquele espaço de comércio. Uma porta dava acesso a esse pequeno átrio, onde à esquerda ficava o gabinete em que fora encontrado o morto, director-geral do Centro Comercial. À direita ficava o gabinete do director de segurança, Francisco Azevedo. Ao fundo, em frente, havia duas portas. À esquerda a do gabinete do director de marketing e publicidade, José Camões, e à direita a que dava acesso ao gabinete do director financeiro, Rui Balboa.
Antes de entrar no gabinete da vítima, Narciso Morais foi informado de que havia uma câmara que filmava a entrada para aquele espaço reservado às quatro salas, e que se estava a fazer o necessário para obter as gravações.
No local do crime havia uma secretária com alguns documentos em cima, uma confortável cadeira atrás, e mais duas em frente, que se destinariam a pessoas com quem a vítima pretendesse falar. Havia ainda um armário com dossiês. Um computador e uma impressora estavam sobre a mesa.
Adérito Pinto jazia no chão com um ferimento na cabeça, que aparentava, e mais tarde se viria a confirmar, ter sido feito por uma arma de fogo, que as análises balísticas determinariam ser de calibre 9 mm. Num bengaleiro estava o casaco de Adérito, onde foram encontrados o seu telemóvel e a chave do gabinete.
O cadáver não sangrara muito, provavelmente porque a morte fora imediata. Uma análise feita no local do crime, nas zonas visíveis do corpo, logo a pós a chegada da polícia, não mostrava sinais de movimento post-mortem do cadáver. A rigidez cadavérica já tomara conta de todo o corpo. A temperatura do aposento rondava os 20 graus e durante a noite não teria descido muito abaixo desse valor.
Narciso Morais ocupou o gabinete de José Camões, semelhante ao de Adérito, para os primeiros interrogatórios, que lhe permitissem conhecer melhor o ambiente local e os intervenientes.
José Camões disse que na véspera tinha saído por volta das seis e meia. Estivera quase sempre fora do gabinete e não se lembrava de, durante a tarde, se ter cruzado com Adérito. Tinha uma mensagem enviada às seis da manhã a comunicar que ele precisava de lhe falar, de manhã, às nove e meia.
Rui Balboa afirmou que no dia anterior passara pouco tempo no gabinete. Saíra na véspera às cinco horas e tinha entrado nesse dia cerca das nove menos um quarto, uma vez que Adérito lhe mandara um sms, de noite, dizendo-lhe que queria falar com ele às nove horas. A essa hora foi ao gabinete dele. Bateu à porta, como ninguém respondeu, rodou o puxador, a porta abriu e ele viu Adérito no chão. Depois chamou a polícia.
Francisco Azevedo disse que por norma o segurança nocturno não entrava naquela área dos gabinetes. Ele saíra, no dia anterior, eram quase sete horas. Precisara de, um pouco antes de sair, falar com Adérito, mas não o encontrara e a porta do gabinete estava fechada à chave. Também recebera um sms, de madrugada, a marcar um encontro para as dez horas.
Narciso Morais pediu para ver todos os telemóveis, incluindo o da vítima, e o envio e recepção de mensagens estavam de acordo com as declarações. Após o visionamento das imagens da câmara de vigilância foi possível determinar que a vítima entrara na zona dos gabinetes no dia anterior às duas horas e treze minutos e não saíra mais. Rui Balboa saíra na véspera às 17:43 e entrara no dia do crime às 8:47. Francisco Azevedo saíra às 18:55 e José Camões às 18:28. Os dois tinham chegado nessa manhã já após a polícia se encontrar no local. As gravações não mostravam mais ninguém a entrar ou sair daquele espaço.
Narciso Morais circulou pelo Centro Comercial, conseguindo obter mais algumas informações. Adérito ia ser transferido para outro Centro Comercial e iria dar uma sugestão para o seu substituto à administração do grupo económico proprietário do espaço. Rui Balboa e os outros dois directores estavam em conflito. Tinha sido aberto um inquérito interno pois o director financeiro acusara-os de má gestão com consequências graves nas receitas. Francisco e José também estavam incompatibilizados, havendo uma mulher na origem do conflito.
Antes de sair, cerca de treze horas, Narciso Morais ainda passou pelo local do crime. O cadáver preparava-se para ser retirado. Da arma continuava a não existir notícia e ninguém ouvira o disparo.
Deixemos Narciso Morais ir almoçar e pergunte-se: quem acha que poderá ter cometido o crime e porque faz essa afirmação? 

E pronto.
Resta aos nossos “detectives” elaborarem os seus relatórios e remeterem-nos, impreterivelmente até ao dia 15 de Setembro, usando um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas férias, para quem as tiver e boas deduções!