domingo, 3 de junho de 2018

POLICIÁRIO 1400




O INFALÍVEL AMÉRICO

A história de Américo é a história de muitas pessoas a quem se reconhecem dons que nem sempre podem ser infalíveis. A memória pode pregar-nos muitas partidas e este caso parece indiciar que houve argolada de um indivíduo que entendia reunir 100% de probabilidades de não falhar.
Estamos perante a prova n.º 5 de autoria de Ferdinando Search, com que se vai atingir o meio da competição desta época.


CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2018
PROVA N.º 5 – PARTE I
NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA? – Original de FERDINANDO SEARCH


Há muitos anos que o Américo fazia o seu trabalho com muita dedicação, mas também com alguma sobranceria, de muitos episódios alegres e tristes que presenciou e outros que ele mesmo causou.
Passava a vida a gabar-se, junto dos colegas, que a sua memória visual era de tal forma desenvolvida que nada lhe escapava. Olhava para um tipo e tomava-lhe logo a pinta, não o deixando mais em paz.
O Américo fazia o que gostava de fazer. O seu posto de trabalho era no aeroporto, olhando com muita atenção todos os passageiros que iam desembarcando, comparando-os com os “ficheiros” que o seu cérebro armazenara durante décadas.
- 100% de eficácia! – gostava de exibir, sobretudo quando falava para os seus colegas mais novos, que achavam o máximo que ele conseguisse, com certeira acuidade, tirar das filas um e dois ou três passageiros e confrontá-los com anteriores entradas no país, onde fizeram das suas, ao ponto de serem declarados indesejáveis, na melhor das hipóteses.
Esta característica revelava-se muito útil e o Américo era respeitado, sendo as suas sugestões sempre aceites por todos, até porque davam sempre certo!
Naquela tarde, no entanto, as suas capacidades não pareciam estar em alta, quando mandou sair de uma das filas um homem baixo mas forte, de tez morena, com fortes traços de ser indiano. Américo reconheceu-o de imediato, por uns anos antes ter causado desacatos numa recepção de pessoas importantes, ali mesmo, em pleno aeroporto.
Na altura, recordava-se, o cidadão indiano foi mesmo detido e expulso do país, com proibição de regresso. Mas agora ali estava, de regresso, contrariando a sentença proferida…
- Mister, já sabe que não pode entrar em Portugal, não é verdade?
- Como diz? Não posso, porquê? Se tenho tudo em ordem…
A resposta em bom português não surpreendeu Américo, que já estava à espera disso.
- Sabe bem porquê. Há uns anos foi detido aqui mesmo por ter confrontado um líder político sobre um caso qualquer passado na Índia e foi proibido de regressar!
- Ora essa, não é verdade! É a primeira vez que venho a Portugal, nunca aqui estive! Sou natural da Índia, mas estou há muitos anos em Moçambique, na cidade da Beira, onde moro e venho pela primeira vez. Falo bem português porque em Moçambique é o que se fala, sabia? Tenho passaporte, estou legal e não percebo nada do que diz sobre eu ter já estado aqui, não é verdade!
- Pois, pois, faça o favor de vir para esta sala, para esclarecermos tudo…
Mais de uma hora depois, o imbróglio mantinha-se. O Américo reforçava que conhecia o indivíduo e este reafirmava que não era verdade. Nomes para cá, nomes para lá, passaporte para um lado, passaporte para outro e nada! Cada qual não saía da sua, até que o chefe de Américo teve de intervir e depois de fazer os testes possíveis, interrogatório mais aprofundado e busca nas bases de dados informáticos, confirmação de reservas e outras coisas, acabou por pedir desculpa ao passageiro, permitindo-lhe a entrada.
Para Américo, foi uma espécie de murro no estômago, ele que ostentava uma auréola de infalível, foi ali mesmo desautorizado, para mais na presença de um grupo de “maçaricos”, que olhavam para ele como olhariam um dinossauro!
- Mas, chefe, ele é mesmo…
- Chega, Américo! Temos de ser rigorosos, não podemos atropelar os direitos de quem chega para nos visitar. Não há provas, temos de aceitar!
- Mas…
- Não há mais mas nem meio mas, ficamos por aqui. Toca a trabalhar, meus senhores…
O Américo não ficou nada satisfeito, no fundo acabou por ser derrotado pela sua intuição que nunca o abandonara, até então. Nem quis ficar a assistir à entrada do cidadão indiano morador em Moçambique, que percorreu todo o caminho em amena conversa com o chefe, que procurava assegurar-se que não apresentaria qualquer queixa, pedindo-lhe desculpas pelo ocorrido. No parque das viaturas de aluguer assistiu à assinatura dos papéis da viatura que reservara a partir de Moçambique e logo depois à sua partida, rápida e expedita, rumo a Sintra, onde se situava o hotel.
- Uff! Ainda bem que não vai haver queixa… O Américo ia arranjando uma boa trapalhada…
Será que o desabafo do chefe tem razão de ser? O Américo estava mesmo enganado? Justifique todas as suas afirmações.

E pronto!
Chegamos ao momento em que a “batata quente” é passada aos nossos “detectives”, que terão de ler cuidadosamente o texto, decifrar o caso e, impreterivelmente até ao próximo dia 30 de Junho, enviar as propostas de solução, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelo Correio para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por entrega em mão ao coordenador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!





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