domingo, 17 de junho de 2018

POLICIÁRIO 1402




DECIFRADO O DESAPARECIMENTO
DO AMOR ETERNO

A decifração do caso do desaparecimento do valioso camefeu napolitano vai ser hoje conhecida e ficamos a saber como o confrade Verbatim deu resposta às questões que se levantaram, para que cada “detective” comece a deitar “contas à vida” em termos classificativos.
Devido à extensão desta solução, apenas na próxima semana teremos a decifração da parte II desta prova, igualmente de autoria do confrade de Alfragide, um intrincado desafio matemático que fez “assar” muitas células cinzentas!

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2018
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 4 – PARTE I
“O PRECIOSO CAMAFEU NAPOLITANO” – de VERBATIM

Há duas pessoas que mostraram poder saber mais do que deviam.
Carla Gomes, que só trabalhou em casa dos Freitas no dia da festa:
- Associou, de imediato, a designação de Amor Eterno a uma peça da colecção de camafeus, pois foi “logo direita à vitrina”. Em contraste, Cátia Silva, a trabalhar ali há três anos, nem chegou a perceber, ao princípio, o que se passara.
- Declarou que nem quisera acreditar que alguém tivesse “roubado” o Amor Eterno, isto quando o Conselheiro falara apenas de algo fora do seu sítio.
- Disse, ainda, que o Amor Eterno “era uma pregadeira bem linda, com um fecho de ouro”, mostrando ter um conhecimento particularizado da beleza e do modo como a peça estava montada.
Por outro lado, Gonçalo Garcia:
- Aproveitou para sugerir que o cachecol dobrado de Adérito Mendes poderia ter servido para este “esconder algum objecto, como uma jóia ou coisa parecida”. Não sabendo, em princípio, o que fora roubado, foi logo lembrar-se de uma peça semelhante à desaparecida…
- Com a sugestão anterior, Gonçalo Garcia não se importou de lançar reais suspeitas sobre Adérito Mendes, embora embrulhadas em elogios sobre a probidade deste último.
Considerando estes cinco indícios e sabendo-se que Carla foi recomendada por Balbina Garcia e entregou a esta um saco com a taça onde viera o pudim e tendo em conta a referência dos Garcia ao Amor Eterno, como acabado de contemplar, quando já estavam de saída, é legítimo colocar a hipótese de o casal Garcia e Carla Gomes se terem conluiado para, de modo premeditado, praticarem o roubo tal como se indica a seguir.
Os Garcia, querendo apoderar-se do valioso camafeu Amor Eterno, que eles sabiam encontrar-se mal defendido no interior da casa dos Freitas, planearam uma operação de roubo, que lhes permitisse ficar a salvo, mesmo que algo corresse mal. Recrutaram Carla Gomes para o trabalho mais exposto, explicando-lhe muito bem o que deveria fazer e recomendaram-na para ajudar na festa. Na altura considerada adequada, pelo que conheciam da casa e das festas dos Freitas, dariam sinal a Carla para retirar o camafeu desejado, a fim de ela o esconder, depois, na taça onde viera o pudim trazido por Balbina Garcia. Uma vez surripiada a peça, os dois membros do casal Garcia, deixando-se ficar para o fim, representariam a rábula de uma olhadela para a vitrina com o intuito de darem a entender que o Amor Eterno lá estava. Ficariam assim ilibados de o fazer desaparecer. Esperariam que Carla lhes entregasse o Amor Eterno com a taça do pudim, na altura das despedidas. Quando se desse pela falta, no dia seguinte ou depois, a Cátia que aguentasse…
Esta hipótese não é contrariada por qualquer dos factos conhecidos nem pelas declarações das pessoas ouvidas e elucida essas declarações.
Mas devemos conferir a plausibilidade de outras hipóteses.
A simulação de um roubo por parte dos Freitas não faz sentido porque eles, se assim fosse, não teriam deixado as coisas chegarem ao ponto de apenas poderem assacar a autoria do roubo a uma ou outra das empregadas (pois, nesse caso, o Amor Eterno teria sido visto, no fim, pelo casal Garcia) nem depois as ilibariam com uma revista.
Podemos admitir que alguém escondeu o camafeu no cachecol de Adérito Mendes. Nesta suposição, a peça teria sido subtraída depois do casal Garcia ter abandonado o escritório, naqueles dois ou três minutos que mediaram entre essa saída e a entrada da dona da casa para vir colher o cachecol. Não parece provável o aproveitamento de tão estreita e perigosa janela de oportunidade. Por outro lado, quem tivesse feito isso não teria deixado o cachecol abandonado para este poder ser colhido, como aconteceu, por uma pessoa estranha ao roubo.
Podemos ainda imaginar que Cátia Silva retirou o Amor Eterno na estreita janela temporal atrás referida e que o escondeu na própria casa dos patrões para, daí a poucos dias, o recolher e fugir. Este modo de agir não se coadunaria com uma pessoa que dispunha de cinco meios-dias por semana naquela casa e, sobretudo, deixaria sem boa interpretação uma parte das declarações produzidas.
Finalmente, podemos supor que Carla praticou o roubo sozinha. Nesse caso, teríamos igualmente uma estreita janela de oportunidade para o roubo, não se compreenderiam as declarações de Gonçalo Garcia nem se saberia como ela teria feito sair o camafeu do apartamento.
Existe, portanto, uma hipótese dominante, aquela que envolve o casal Garcia e Carla Gomes.
O plano dos Garcia falhou em dois aspectos: o Conselheiro deu pelo desaparecimento do camafeu no próprio dia e dois dos autores do roubo não conseguiram exibir um absoluto desconhecimento do acto praticado. Deste jeito, o engenhoso álibi que seria proporcionado pelo pretenso visionamento do Amor Eterno na vitrina, imediatamente antes de as visitas saírem, acabou por ter efeitos contraproducentes.




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