domingo, 26 de agosto de 2018

POLICIÁRIO 1412




ANTÓNIO ERNESTINO DE LIMA RODRIGUES
UMA HOMENAGEM NECESSÁRIA E JUSTA


Uma missiva do nosso confrade Karl Marques, residente em Torres Vedras trouxe-nos novas de um dos vultos mais importantes do Policial, não na vertente competitiva, que nunca abraçou de modo continuado, mas como escritor, principalmente como contista de vastos recursos, também ele torriense, mas desde há algum tempo residente em Santarém. Foi editor, foi livreiro, escreveu bastante, publicou muito, principalmente de outros autores, enfim, teve uma vida ligada ao Policial.
Falamos de Lima Rodrigues, do escritor António Ernestino de Lima Rodrigues, que foi provedor do Policiário durante muitos anos, nesta nossa secção, onde ganhou fama por ser justo e directo na análise dos diferendos classificativos que iam surgindo. A sua missão principal era essa mesma, ser o elo de ligação entre os leitores “detectives” e o coordenador da secção Policiário.
Durante todos esses anos, em rodapé de cada edição, aparecia a referência ao provedor, nessa altura residente em Sobral de Monte Agraço.
Depois, novas directivas, outros rumos, fizeram com que essa fórmula fosse abandonada, em grande parte porque eram cada vez menos os “conflitos” em termos de pontuações, passando a ser resolvidos directamente com o coordenador da secção.
Lima Rodrigues é um escritor que apostou muito no conto de características policiais, em que o factor dramático e imprevisível está sempre presente, como que dando autênticos socos no estômago dos seus leitores, não os deixando indiferentes perante a crueza, quase violenta, das histórias contadas.
Assim ficou bem vincado no seu mais famoso livro de contos “Histórias Que Eu Não Contei”.

Em tempos mais recentes, o nosso confrade Jartur, outro dos enormes vultos do Policiário, muitas vezes aqui citado pelo excelente trabalho que vem desenvolvendo na recolha de secções e trabalhos publicados desde sempre em Portugal e que vem reunindo no Arquivo Histórico da Problemística Policiária Portuguesa (AHPPP), referiu num pequeno texto evocativo da efeméride:

“Em Junho de 1981, apareceu o n.º 1 da publicação mensal “SELECÇÕES MISTÉRIO”, que se definia, no seu Estatuto Editorial, “como um órgão de imprensa divulgador de temas e assuntos que abrangerão todo o vasto campo da literatura em geral e da policial, e de mistério em especial, ficção científica, ovnilogia, parapsicologia, espiritismo, passatempos (Bridge, Charadas, Damas, Palavras Cruzadas, Xadrez, etc.) e de um modo geral tudo o que se relacione com mistério ou fenómenos insólitos…” 
O seu director foi Lima Rodrigues, e tinha como Coordenadores de Edição: Domingos Cabral, M. Constantino e Victor Dimas.
Foram seus colaboradores: A. Varatojo, Carlos Alberto, Eurico da Fonseca, Fernando Fernandes, Fernando Peres, Fernando Saldanha, Gentil Marques, Gustavo Barosa, Hélia, João Artur, Jorge Rizini, José M. Pote, Luís Campos, Luís Gomes, Mariália, Martinho Lopes, Raul Ribeiro, Roussado Pinto, Sena Carneiro e Severina, alguns dos quais já ocupam no nosso ânimo um enorme lugar de muita e respeitosa saudade.
Tão larga plêiade de “policiaristas”, não poderia deixar de produzir escritos de grande qualidade, que todavia não vamos citar caso a caso, já que apenas nos desejamos ocupar do que à HISTÓRIA DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA se refere. E nessa conformidade, festejamos o aparecimento da secção “MISTÉRIO POLICIAL”, produzida e coordenada por Domingos Cabral, que iniciou o percurso da rubrica com o problema escolhido, que já fora publicado na secção “Gabinete do Insp. Varatojo”: “ERAM DE CAVALINHO”, da autoria de César Púlimo.
Esse, e os restantes problemas publicados nos 8 números que a revista durou, estarão disponíveis, para os interessados, num pequeno caderno do Arquivo Histórico da Problemística Policiária Portuguesa.”
                                                                                                                                     
Pois bem, o confrade Karl Marques revela-nos que encontrou no jornal Badaladas, que se publica em Torres Vedras, duas cartas de autoria de Lima Rodrigues, em que este se lamenta por estar internado na Santa Casa da Misericórdia de Santarém, após uma intervenção cirúrgica que, afirma, o terá deixado tetraplégico e apela aos amigos para que o visitem, minorando a solidão.

O Policiário, já por diversas vezes o afirmámos, não é apenas um grupo de pessoas que gosta de resolver enigmas policiais e que se reúnem de vez em quando, mas sim, principalmente, uma verdadeira tribo, irmanada em valores que prezam o bem-estar de cada um dos seus membros, mesmo quando estes de afastam, por motivos diversos. Estar no Policiário é, antes do mais, um estado de espírito e nenhum policiarista deixará de dizer presente a um dos nossos que precise de apoio.

Lima Rodrigues não é um daqueles detectives que ganharam títulos, troféus e campeonatos, não foi campeão nacional nem policiarista do ano, não é reconhecido como um grande decifrador, nem tão pouco como produtor, enfim, não andou a concorrer connosco na tentativa de chegar ao topo, nem tinha características nem vontade para o fazer, mas esteve sempre presente, como editor de livros, como director de uma das revistas mais bem-feitas de que há memória, como contista, como provedor do policiário…
O nosso Mundo Policiário tem de estar agradecido a Lima Rodrigues pelo muito que fez pela sua credibilização.

Aqui deixamos o testemunho de que o confrade António Ernestino de Lima Rodrigues é um dos nossos heróis policiários, que não pode ser ignorado nem esquecido, tendo já o seu lugar assegurado na nossa galeria dos vultos mais importantes, a quem muito devemos.




3 comentários:

Anónimo disse...

Será no Lar de S. Domingos?
Já tentei saber mas não me deram resposta. Sou um "velho" companheiro que o conheceu há uitos anos. Por favor, digam-me onde ele está

JoelCosta

Anónimo disse...

Obrigado LP pela prova de que o Policiário é mesmo serviço público. Somos policiaristas pelo coração e pelo coração pertencemos a esta tribo. Obrigado por tudo. Melo

Anónimo disse...

Segundo um dos artigos do post anterior (20 de Agosto) está na Santa Casa da Misericórdia de Santarém