O confrade Rip Kirby relembrou que não tem acesso ao PÚBLICO lá nos "brasis" e por isso aqui fica secção de hoje.
RECORDAÇÃO DO DET. MISTERIOSO
Passa no próximo dia 24 mais um aniversário do desaparecimento - precisamente num domingo em que se levantou mais cedo para não falhar mais um convívio policiário, na cidade de Torres Vedras - de um dos vultos mais carismáticos do policiário nacional, o confrade Detective Misterioso, de Cacilhas, que dá, a partir desta próxima época, nome ao troféu de “N.º 1 do ranking”.
Assim se referia ao facto o mestre M. Constantino na sua obra monumental “O Grande Livro da Problemística Policiária”, edição da Associação Policiária Portuguesa, num pequeno texto evocativo da figura deste nosso confrade excepcional, com o título “Perda Irreparável”:
“ Quase a findar o ano, quando se preparava para, mais uma vez, comparecer no Convívio Anual de Torres Vedras, exactamente na madrugada de 24 de Novembro de 1990, faleceu um dos mais activos mestres da Problemística Policiária Portuguesa: Domingos Prata Rodrigues, o Detective Misterioso.
É uma perda irreparável... Exímio decifrador, área em que destacou a pontos de ser considerado quase imbatível, foi igualmente produtor de mérito, contista, fundador da Tertúlia Policiária de Almada, destacava-se, sobretudo, como Campeão na Modéstia, na Camaradagem, na Amizade!”.
É este vulto importante da nossa história policiária, com quem tivemos a felicidade de conviver inúmeras vezes ao longo de muitos anos, um pouco por todo o país onde os nossos convívios chegavam, que hoje homenageamos singelamente, publicando um dos seus desafios, que convidamos os “detectives” a decifrarem:
ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…
Um desafio do DETECTIVE MISTRIOSO
A santa venerada na capela era o orgulho do povo daquela aldeia Beirã.
Todos os que entravam no Templo não se cansavam de admirar a bela imagem que, apesar de moldada em gesso, resplandecia beleza! O seu rosto irradiava um sorriso enternecedor e, só de o ver, as pessoas sentiam um bem-estar e grande felicidade dentro de si. As suas vestes, também moldadas, eram de um lindo azul celeste e o manto, cravado de muita pedraria, cujo brilho penetrava no olhar de quem nele fixasse a vista, maior beleza dava à sua configuração.
Imagem muito antiga, levava o povo a dizer que todas aquelas pedras deveriam valer uma fortuna!
Até que um dia foi o pandemónio e a estupefacção na aldeia. Todas as pedras do manto da Santa tinham desaparecido. A indignação foi tanta que alguns diziam à “boca cheia”, se apanhassem o ladrão, fariam justiça pelas próprias mãos.
Ora aconteceu que, em gozo de férias numa aldeia vizinha se encontrava o Agente Prata e, a pedido dos seus familiares que o albergavam no seu mês de merecido lazer, concordou dar um jeito no assunto…
Assim, ele aí vai a pé com o seu familiar Serrano, para lhe indicar o caminho (o Agente Prata não tem carro, utilizando sempre os transportes públicos ou os carros dos amigos), até à aldeia onde o caso se passou.
Aí chegado e depois de se identificar, foi conduzido ao templo pelo encarregado da sua conservação e abertura ao povo nos dias de culto.
Pelo caminho, o Raul Silva (assim se chamava o homenzinho), foi dizendo ao Agente Prata que, naquela manhã, quando entrou na capela para proceder à sua limpeza, algo de estranho notou. Havia qualquer coisa que não estava certa com o ambiente habitual, até que verificou faltar o faiscar da pedraria do manto da Santa.
Pressentindo o pior, correu para a imagem, tendo constatado que a pedraria tinha desaparecido e no seu lugar só se viam as cavidades onde as pedras anteriormente tinham estado fixas! Na véspera, quando ao anoitecer tinha estado na capela, nada faltava, disso tinha a certeza.
Chegados à capela, o Agente Prata verificou que a porta não apresentava vestígios de arrombamento. Percorreu toda a área à volta do templo e averiguou a existência, na terra amolecida, de várias pegadas sobrepostas e em vários sentidos, notando-se no entanto, junto a uma janela que dava para o interior, algumas pegadas bem visíveis, de botas cardadas, no sentido da entrada e vice-versa. A referida janela também mostrava sinais de ter sido forçada.
No interior do Templo e junto à figura da Santa, o investigador, com a ajuda de uma pequena lupa, verificou que as entradas dos orifícios onde as pedras tinham estado embutidas, apresentavam riscos e falhas de gesso e no interior dos mesmos, partículas prateadas estranhas ao material da imagem. As pegadas de botas cardadas eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada de digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou para si todas as suas descobertas.
Dos nomes fornecidos pelo Raul Silva, de alguns suspeitos, baseando-se nas pessoas que diziam constantemente que a pedraria da Santa faria muitas pessoas felizes, o investigador ouviu:
Marquinhas, uma rapariga de 30 anos, vestindo roupa de trabalho de campo e calçando botas de borracha, declarou nada saber do roubo nem de quem o teria praticado. Não negou ter, por mais de uma vez, mencionado o possível valor das pedras que ornamentavam o manto da Santa.
Alberto Costa, homem por quem os 60 anos há muito tinham passado, tez curtida pelo sol no seu labutar diário na árdua faina do campo, vestindo roupa de trabalho e calçando botas cardadas, nas quais eram bem notados pedaços de terra húmida, declarou:
- Chamam-me o “Rei Herodes” por eu nunca ir à Missa, porque já me habituei a esse tratamento, deixei de ligar a isso. No entanto, o facto de não ir à Missa não me levaria a roubar os valores da imagem, tanto mais que sei respeitar qualquer casa de Oração.
Também não negou a referência feita ao valor das pedras.
Manuel António, 35 anos, trabalhador da construção civil, usando roupa domingueira, disse:
- Na verdade tenho-me referido frequentemente à felicidade que aquela pedraria faria a uma casa de família, mas não fui eu que roubei as pedras preciosas. Já há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas.
António Galvão, trinta e poucos anos, mal vestido, quase descalço, pouco amigo de trabalhar, não sendo bem visto na aldeia, devido aos frequentes roubos que fazia, nos galinheiros e não só, prestou as seguintes declarações:
- Na verdade, disse por mais de uma vez que, com todas aquelas pedras na minha mão, não necessitaria de voltar a trabalhar… Mas nunca me passou pela cabeça roubá-las! Mas olhe aí, senhor doutor, eu ontem, quando o sol de estava a pôr, vi o “Rei Herodes” andar perto da capela!
Neste momento, o Agente Prata pensou como tinha sido fácil descobrir o ladrão das pedras da Santa. Sorriu e voltou a pensar como adorava que os seus grandes amigos e colegas de profissão, Inspector Rodriguinho e o seu ajudante Lumafero, estivessem ali, com ele, para juntos gozarem aquele momento hilariante… Sim, é que a pedraria roubada não tinha valor algum, visto todas as pedras serem falsas!
E já imaginando o valente copo de “tintinaite” do bom vinho do “Dão” que beberia logo que chegasse à sua aldeia (por empréstimo), lá foi ele de regresso à casa dos seus parentes.
Antes, porém, deixou três perguntas:
1- Como soube ele que as pedras eram falsas?
2- Quem foi o autor do roubo?
3- Como se teria passado o caso?
A solução deste enigma será publicada na próxima semana.
Boas deduções!
D. PIO PERDEU… O PIO
Solução, curta e concisa, apresentada pelo seu autor A. Raposo ao desafio que publicámos na passada semana:
A acção passa-se no Inverno, em Portugal. Nessa época, as andorinhas emigram para as zonas quentes de África. Saem de Portugal no fim do Verão.
D. Perlimpim não poderia ter visto um casal de andorinhas, pelo que vai até às masmorras.
Num comentário igualmente curto, diremos que se trata de um problema muito simples, de pormenor único, mas sem deixar de exigir muita e muita atenção. Assim fica feita a prova de que este nosso confrade não faz só “bicos de obra” para dar cabo das “cinzentas” dos nossos “detectives”!
Coluna do “2”
FALTAM 43 SEMANAS PARA A EDIÇÃO N.º 1000
Os convívios policiários retomam a tradição, uma tradição que já vinha de longe, dos tempos em que o nosso mestre “Sete de Espadas” percorria o país em grandes manifestações de camaradagem e amizade.
Desta vez, a marca foi deixada pelo grande encontro da Amadora, numa organização da Tertúlia Policiária da Linha de Sintra (TPLS), que incluiu duas exposições na sede da Sociedade Filarmónica (SFRAA). Uma, a principal, sobre a vida e obra do Sete de Espadas, que contou com material inédito e de grande valor para história do policiário português, inaugurada pelo próprio homenageado; a outra foi sobre a Associação Policiária Portuguesa (APP), na altura em grande actividade editorial e produtora de eventos policiais.
Estávamos no ano de 1995 e a nossa secção preparava-se para um acontecimento marcante em termos competitivos, já que no ano seguinte a prova maior era constituída pelas Olimpíadas Policiarias - em linha com os Jogos Olímpicos de Atlanta 96 – com um formato inovador.
3 comentários:
Grande amigo o Misterioso, tão grande. que apesar de já ter abalado há 20 anos continua perto de todos nós que com ele convivemos.
Não viveu o suficiente para sofrer o desgosto de assistir a algumas deslealdades de que ele seria incapaz.
Rip Kirby
Obrigado, LP, pela (sempre) oportuna homenagem ao Detective Misterioso. E o problema policial reapresentado aumentou ainda mais as minhas recordações. É que conheci perfeitamente a Silvã, a aldeia onde o Misterioso ia passar um mês por ano, a casa de familiares da esposa e onde colocou a acção do texto.
Situa-se no concelho do Sátão,numa estrada que começa na antiga entrada dessa (então) vila, a seguir a Contige, junto à rotunda construída em volta de um enorme e centenário eucalipto. Essa estrada vem parar à zona de Nesprido/Povolide, onde encontramos o paredão da Barragem do Dão.
Quando estava por lá, o Misterioso (PRATA Rodrigues, o investigador do problema) telefonava-me, aparecia mais do que uma vez em minha casa e eram grandes tardes de conversa, prolongada quando o ia levar à Aldeia. Era um homem com quem adorava conversar, sobre muitas coisas para além do policiário. Homem que viveu mundo, com uma grande cultura geral, grande policiarista, amigo de eleição.
Recordar é homenagear os que nos são (para sempre) queridos!!!
Que saudades...
Um abraço
Zé (Viseu)
A razão de ser das homenagens é essa mesma, activar as nossas recordações.
Também nós lá estivemos depois de um dos convívios de Viseu, quando lá fomos levá-lo, provar uma "pinga" e aviar uns chouriços assados, com O Gráfico, O Alva, o Satanás, o Primo 2...
Vamos fazendo a nossa parte, para evitarmos o esquecimento daqueles que nos são caros.
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