Publicamos
hoje um desafio diferente, de autoria de uma dupla famosa, que já foi campeã de
Portugal de produção e, também por isso, a merecer atenção redobrada.
O mundo das
Charadas veio marcar presença no Policiário. Uma pesquisa na internet poderá
ser um bom auxiliar para que os “detectives” percebam a engrenagem charadista.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 8 – PARTE I
“A TIA LAURINDA E O TESOURO DO CAPITÃO KIDD”
Original de BÚFALOS ASSOCIADOS
Acabada a
leitura o Inspector Garrett pousou o livro sobre a mesa à sua frente. Não era a
primeira vez que o lia, porém sempre com o mesmo prazer. Em tempos começara por
ser uma recomendação da tia Laurinda, essa curiosa figura que o tinha iniciado
no gosto pela literatura policial. A família Garrett, com origens na Irlanda
tinha chegado a Lisboa, vinda do Porto, em 1948, ano em que a tia Laurinda com
onze anos foi frequentar o Liceu D. Filipa de Lencastre. Foi por essa altura
que começou a ler a revista Camarada, tendo-se deixado logo cativar pela secção
"Mistério e Aventura" assinada pelo saudoso Sete de Espadas e ainda
por uma outra página onde se aprendiam os princípios básicos do charadismo.
Incrível criatura a minha tia Laurinda, pensou Garrett, o seu entusiasmo pelo
policiarismo, que a acompanhou toda a vida, não era vulgar entre as senhoras do
seu tempo e ela dificilmente encontrava assunto de conversa com as amigas.
Algumas até lhe chamavam "Miss Marple de Algés" com alguma ironia
maldosa que em nada a afectava.
Por volta
dos trinta anos a tia Laurinda casou com um "brasileiro de torna
viagem" de nome Sepúlveda que, em terras de Vera Cruz, tinha feito uma
fortuna considerável que, no entanto desbaratou a jogar no Casino da Póvoa. Mas
a tia Laurinda nascera com uma estrelinha da sorte. O Sepúlveda, possuidor de
um charme que o tornava irresistível para o comum das mulheres, envolveu-se
numa aventura amorosa com uma riquíssima viúva americana de passagem por
Portugal. E a paixão foi tão forte que a multimilionária levou o tio Sepúlveda
para o Brasil, onde tentou convencê-lo a divorciar-se, o que nunca veio a
acontecer. E, numa noite de tempestade ao largo da Baía, o iate particular em
que o casal viajava naufragou e ambos morreram de uma assentada. Acontece que a
americana, como prova do seu amor, tinha feito testamento de todos os seus bens
a favor do amante e, em consequência disso, a tia Laurinda viu-se detentora de
uma invejável fortuna como nunca imaginara.
João Garrett
voltou a pegar no livro. Edgar Pöe fora sempre uma das leituras da tia
Laurinda. "Foi ele que estabeleceu as bases da novela policiária" -
costumava ela dizer.
Depois de um
longo processo judicial, a fortuna da ricaça veio enfim parar-lhe às mãos.
"Antenas de Ouro", chamavam-lhe as vizinhas. Mal elas sabiam que a
Laurinda sorria porque de novo se lembrava de Edgar Pöe. E decidiu converter
uma grande parte da herança em jóias que mandou fazer, as quais passou a
guardar em lugar seguro e a que chamava "O Tesouro do Capitão Kidd".
A peça mais
valiosa da colecção era, claro, uma inspiração de Pöe: um grande insecto em
ouro maciço ornado com três valiosos rubis em sítios que davam ao conjunto o
aspecto de uma caveira. As antenas eram fieiras muito finas de pérolas
verdadeiras encastradas em ouro.
Um dia a tia
sofreu um grande desgosto. A moradia no Algarve para onde se mudara, foi
assaltada e ela viu-se privada de muitos dos seus bens. O desgosto foi tão
grande que viria a morrer algum tempo depois. Mas à hora da morte ainda pôde segredar
ao sobrinho que Edgar Pöe a tinha salvado de perder tudo. -" Lê o Pöe e
encontrarás "O Tesouro do Capitão Kidd" - foram as suas últimas
palavras.
- “Abençoado
naufrágio do Sepúlveda!” - pensava Garrett olhando o mar algarvio da varanda da
moradia que herdara de sua tia, bem como as lições de charadismo. Depois de ter
relido o Pöe, encontrou por cima do fogão de sala, num porta-cartas de cartão,
um sobrescrito amarrotado aparentemente sem valor que escapara ao roubo,
retirou dele um velho papel escrito pelo punho da tia e seguiu as instruções
nele contidas até encontrar o tesouro.
Eis o que
dizia o papel: (adic.) A ulceração causava tal sofrimento ao idoso
que ele se sentia como um insecto (3,2). / (parag.) Uma alternativa
dá-nos sempre a riqueza da escolha (1,2). / (apoc.) O que está preso por
um filamento, apesar de tudo existe (3,2). / (prot.) Quem cogita
acaba sempre a enriquecer o depósito (2,3). / (epen.) É preciso saber em
que flanco fica cada balcão (2,3). / (parag.) Afirmarei
que há sempre uma recta perigosa (2,3). / (apoc.) A parreira
fornece a bebida que aumenta o descaramento (3,2). / (epen.) Há sempre
um caminho que leva ao café (2,3).
Pergunta-se:
Que contos de Edgar Allan Pöe inspiraram a tia Laurinda e qual foi a frase que
indicou ao Inspector Garrett a localização do tesouro?
E pronto.
Agora é a vez dos nossos
“detectives” analisarem o problema e enviarem as propostas de solução, impreterivelmente
até ao próximo dia 10 de Outubro, usando um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para
PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do
PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador
da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções e, se for o caso, boas
férias!
1 comentário:
A edição impressa contém um erro que pode impedir os solucionistas de resolver a última charada. Aqui, estão correctamente sublinhadas as palavras CAMINHO e CAFÉ. No jornal (em que as palavras chaves não estão sublinhadas mas a negrito) a palavra CAMINHO não está a negrito. Tirar-se-á pelo sentido (proximidade e sílabas) mas convém não dificultar o que de si já não é fácil. Obrigado
Um abraço
Zé
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