Damos hoje a resposta ao problema do
confrade Verbatim, que fez a cabeça em água a muitos dos nossos “detectives” e
fez com que algumas instituições bancárias e Banco de Portugal tivessem de dar
alguns esclarecimentos!
De certa forma, isso acontece sempre que os
assuntos são mais especializados e ficaram na memória do Policiário algumas
situações de empresas e organismos entrarem em contacto com as publicações onde
os problemas se publicavam, a perguntar o que se passava porque não tinham mãos
a medir para dar resposta aos inúmeros pedidos de informações! Assim aconteceu,
no passado, com a CP, com a TAP, com o Instituto de Meteorologia e outros.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 6 – PARTE I
“FALSÁRIOS INCOMPETENTES”, de VERBATIM
As
notas de vinte euros apreendidas pela polícia apresentavam uma numeração
constituída por uma letra seguida de onze algarismos, tal como as notas que nos
passam pelas mãos. As letras dos quatro grupos referidos – M, U, V e X – também
são correntes entre nós, em
particular a M.
Verificamos,
ainda, que se obtêm sequências numéricas se retiramos o último algarismo aos
números das notas, tal como acontece com os conjuntos de notas novinhas que
recebemos no banco, cuja ordenação numérica só descortinamos depois de desprezar
o último dígito.
Esse
décimo primeiro algarismo é um elemento de controlo. Se o leitor conferir umas
tantas notas de euros, verificará que, tirando a prova dos noves aos números
iniciados pelas letras M e V, obtém sempre 4 como resto. Já o mesmo não
acontece quando a letra inicial é diferente daquelas duas, como é o caso de U e
X. Mas se atribuirmos às letras M e V o valor 5, a U o valor 4 e a X o valor
7, concluiremos que a prova dos noves dos números de doze algarismos daí
resultantes dá sempre zero.
É desse modo que está concebido
o sistema de validação dos números das notas de euros: cada letra, que
identifica o país emissor, tem um valor de 1 a 9 e o resultado da prova dos noves do
número de doze algarismos (onze mais o dígito do valor da letra) é sempre zero.
Portanto, o último algarismo, o de controlo, assume o valor necessário para que
o resultado da prova dos noves seja nulo.
(Algumas correspondências:
Portugal M - 5, Espanha V - 5, França U - 4, Alemanha X - 7, Áustria N - 6,
Itália S - 2, Grécia Y - 8, Bélgica Z - 9, Irlanda T - 3).
Ora bem, qual foi o erro dos
nossos falsários? Talvez por se terem concentrado sobre notas emitidas em Portugal (M com o
valor 5) e em Espanha (V
também com o valor 5), terão concluído que os números de onze algarismos de
qualquer nota de euros deveria apresentar 4 como resto da prova dos noves, tendo
acabado por aplicar esse princípio, erradamente, a notas começadas por outras
letras, no caso presente U, da França e X da Alemanha.
E quem estaria metido na tramóia
da distribuição do material falsificado? Mestre Ernesto, de certeza, porque:
- Mentiu sobre a origem do
dinheiro, ao afirmar que o tinha levantado no banco, onde, como sabemos, nunca
lhe entregariam maços de notas novas com a numeração errada;
- Entrou em contradição sobre a
data dos movimentos de valores. Com efeito, os levantamentos de todo o
dinheiro, que disse ter efectuado na semana anterior, não conferem com o
incidente relatado por Tino Maluco, ocorrido dois meses atrás, o qual leva a
crer que, nessa altura, as caixas já andariam a transportar numerário;
- Mostrou ter uma história
demasiado bem preparada para contar, no caso de ser apanhado com alguma
quantidade inusitada de dinheiro. Para lhe conferir maior crédito, até a
entremeou com uma alusão à sua semi-clandestinidade, como se fosse o seu único
desvio à legalidade;
- Finalmente, com uma história
tão boa para explicar a origem do dinheiro, não foi capaz de apresentar a
melhor de todas as comprovações, ou seja, a indicação precisa das entidades
bancárias onde fizera os levantamentos.
Arsénio Mendes, o dono da
vivenda e do armazém anexo, também não pode ficar de fora dos suspeitos da
tramóia, pois terá despedido o miúdo só por ter pegado numa caixa do Mestre, o
que não é lógico, a menos que se admita que ele terá sentido o perigo do rapaz querer
ir ver o que as caixas continham.
No caso deste desafio, tendo-se
em conta que os números de identificação dos mais diversos artigos costumam
incluir dígitos de controlo, chegar-se-ia a informação pertinente pesquisando
na internet com as palavras “notas euro dígito controlo”. Claro que é
necessário ser crítico e fazer contraprova do que aparece, porque circula muita
informação errada.
Também há livros em que esta
matéria é tratada, como o interessantíssimo “Da Falsificação dos Euros aos
Pequenos Mundos” de Jorge Buescu, Gradiva. (Na primeira edição desta obra, vem
a indicação de que o número das notas de vinte euros emitidas em Portugal
começa sempre por um 3, a
seguir ao M. Isso já não é assim. Numa amostragem, feita em 2011, verifiquei
que começavam por 8 todos os números das notas de vinte euros precedidos da letra
M).
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