[Transcrição da secção n.º 1212 publicada
hoje no jornal PÚBLICO]
DESVENDADO
O MISTÉRIO DA MORTE DE JONAS!
Hoje temos a solução oficial da primeira
parte da prova n.º 8, de autoria do confrade residente em Alfragide, membro
entusiástico e animador da Tertúlia Policiária da Liberdade, Verbatim.
A sua excessiva extensão, impede a publicação
da solução da parte II, que apenas poderemos divulgar quando houver espaço
disponível. De qualquer forma, deixamos aqui que a resposta correcta é a “2”,
remetendo desde já os nossos leitores para o blogue CRIME PÚBLICO, em http://blogs.publico.pt/policiario,
onde publicaremos a solução que foi dada ao enigma pelo seu autor, Verbatim.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL - 2014
SOLUÇÃO DA PROVA
N.º 8 - PARTE I
O CÚMULO DA
VELOCIDADE – de VERBATIM
O suicídio de Jonas parece pouco
provável porque a bala, encravada no soalho, apenas um metro atrás da cadeira,
na qual Jonas estaria sentado quando foi atingido, nos obriga a supor que ele
teria apontado a pistola, sobre si, com uma acentuada inclinação em relação ao
soalho. Ora, o natural é um suicida apontar a arma segundo um plano um pouco
desviado do plano perpendicular ao seu peito, para um lado ou para o outro
conforme a mão usada, mas sem inclinação em relação ao soalho ou apenas com uma
ligeiríssima inclinação. Portanto, a haver suicídio, a bala teria ido bater
mais longe, talvez numa parede, e, também, fora da faixa que se traçasse atrás
da cadeira.
Em
todo o caso, aquilo que foi observado ajusta-se muito bem a um disparo feito
por outrem, de pé, em frente da vítima, com esta sentada na cadeira. É pois
lícito começar por explorar a hipótese de crime.
Detectam-se, então, indícios de uma
encenação de suicídio: a arma deixada perto do cadáver, como naturalmente desprendida
da mão do suicida, e o gabinete fechado, com a respectiva chave na mesa de
trabalho, como se apenas a vítima o pudesse ter fechado. Mas, tratando-se de
uma encenação e havendo um criminoso, de que modo teria este conseguido fechar
a porta pelo lado de fora deixando a chave lá dentro? De uma maneira muito
simples: obtendo uma cópia daquela chave vulgar ou utilizando a chave de outro
gabinete que funcionasse também na fechadura de Jonas, isto porque, nas casas
antigas, como aquela, havia quase sempre pares de fechaduras iguais ou tão
semelhantes que funcionavam como iguais.
Estaria o criminoso entre as quatro
pessoas interrogadas?
Dimas Ló poderá ter sido o assassino
porque, de acordo com a sua declaração:
a)
Pediu
para arrombar a porta do gabinete de Jonas antes de poder estar certo de ele lá
se encontrar, pois tinha acabado de chegar ao escritório, confessando, até, que
Gomes Leitão só concordara com o arrombamento depois de ter verificado que o
telemóvel de Jonas tocava dentro do gabinete. Note-se que Gomes Leitão dera
pela entrada de Jonas às oito horas mas, como era costume as pessoas fecharem
os gabinetes quando saíam, não quis deixar de se certificar da possível
presença do sócio. Dimas Ló, esquecendo-se de fazer o teste de presença através
do telemóvel, mostrou saber que Jonas se encontrava no gabinete quando, em
função do que declarou, não estaria em condições sequer para o supor, uma vez
que o gabinete fechado e o não atendimento de toques na porta eram sinais de
que o respectivo ocupante não se encontrava ali.
b)
Denunciou
preocupação em sublinhar a hipótese do suicídio ao falar desta como coisa
assente, em concordância com os problemas psicológicos que, segundo ele, Jonas
aparentava e, também, ao dizer que ficara apreensivo pelo facto de Jonas poder
estar fechado no gabinete com uma pistola. A propósito, convém sublinhar, que nenhuma
das outras três pessoas se inclinou para a hipótese do suicídio, mau grado o
quadro que tinham observado quando a porta foi arrombada, o qual apontava nesse
sentido.
Nada de suspeito se detecta em qualquer
dos outros depoimentos. Atente-se a que não é de admirar que Gomes Leitão tenha
ouvido as vozes de Jonas e Botas quando estes estavam no segundo andar e ele se
encontrava a chamar o elevador no rés-do-chão, porque, nos prédios antigos, as
caixas dos elevadores eram muito abertas e situavam-se entre as escadas de
acesso interior, permitindo que se distinguissem vozes entre patamares distando
quatro ou cinco andares entre si.
Se Dimas Ló matou Esteves Jonas, como
poderão ter acontecido as coisas?
De
acordo com o que nos é dado saber podemos supor que Dimas Ló foi para o
escritório antes das oito, a hora a que talvez chegassem os mais madrugadores,
inclusive Jonas. Vimos que não havia ali serviços de portaria e que cada um
entrava e saía livremente. Meteu-se então no gabinete de Jonas, usando um
duplicado da chave para abrir e também fechar a porta, calçou umas luvas e munido,
muito provavelmente, da arma do próprio Jonas, aguardou a chegada deste. Logo
que isso aconteceu, minutos depois das oito, dominou-o sob a ameaça da pistola.
Do que terão falado nada sabemos. Por qualquer motivo entendeu liquidar Jonas
quando o tinha sentado à sua frente. Terá nessa altura ocorrido o disparo que
Gomes Leitão ouviu pouco depois das oito. Esta sequência confere, também, com a
hora de falecimento estimada pelo médico. Não sabemos se Dimas Ló roubou alguma
coisa. Podemos, no entanto, admitir como muito possível que tenha verificado
haver condições para que aquele homicídio passasse por suicídio. Assim, colocou
a pistola junto do cadáver e a chave do gabinete, a usada por Jonas, na mesa de
trabalho. Guardou as luvas no seu bolso, verificou se havia algum ruído no
corredor e, sem sinal de gente nas proximidades, saiu do gabinete, tendo o
cuidado de deixar a respectiva porta fechada à chave. Seguiu depois para a rua
a fim de se dirigir à Tecnicab, onde, por agendamento anterior, já o
esperariam. Ninguém o vira no escritório, salvo a vítima. O álibi era muito
bom. Entretanto, desembaraçou-se das luvas e da cópia da chave do gabinete de
Jonas (a menos que tivesse utilizado a sua própria chave que, por coincidência,
fosse semelhante à de Jonas). Terá feito isto tudo dentro da ideia de que, quando
regressasse, lá pelas dez, talvez o suicídio já estivesse sido dado como coisa
assente. Isso não aconteceu e a sua ansiedade denunciou-o.
A descrição anterior enquadra-se
perfeitamente no que nos foi dado conhecer e o mais certo é ter sido
posteriormente confirmada pelos investigadores do caso.
1 comentário:
Problema e solução- excelentes e claros! Parabéns
Um abraço
Zé
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