NOVO DESAFIO AOS CONCORRENTES
Cumprimos hoje mais uma etapa das nossas competições com a publicação de um desafio de autoria do confrade viseense Paulo.
Entretanto, chamamos a atenção dos nossos “detectives” para o facto de estarem disponíveis as classificações da prova n.º 4 no nosso blogue CRIME PÚBLICO, desde a passada quarta-feira.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 6 – PARTE I
A MENSAGEM SECRETA – Original de PAULO
Um mistério invade o policiarismo português. Apesar das muitas centenas de concorrentes aos problemas publicados, são pouco mais de uma dúzia os que vão escrevendo regularmente textos com enigmas para decifração.
Muitas razões poderão ser encontradas para tão parco número de autores: falta de inspiração, medo da crítica, preguiça, etc. Nenhuma delas é impossível de ultrapassar.
Resolver fazer um problema requer uma ideia para a chave e a construção de uma história que disfarce essa chave. Pode ser uma mentira, um pormenor impossível de acontecer, um facto técnico, ou uma multiplicidade de pormenores passíveis de serem encontrados nos muitos textos já publicados no nosso país.
Várias são as formas de iniciar um problema, mas a primeira palavra de cada parágrafo é a mais importante. Ela pode estimular o leitor para a restante leitura ou diminuir a sua concentração e fazer com que coloque o texto de lado. Por isso há que ter atenção à sequência dessas palavras. Mas a primeira letra dessa palavra é que dá o mote para todo o ritmo da frase. Essa é fundamental. Uma vogal ou uma consoante têm efeitos distintos. Se a palavra se inicia com uma consoante oclusiva o seu efeito é distinto de uma palavra iniciada por uma consoante constritiva.
Muitos autores gostam de iniciar os seus problemas de forma sempre igual. Com um artigo, com um substantivo ou mesmo com uma onomatopeia. Recordo um autor que iniciava os seus problemas por Trim… trim…
Formalizar um problema coloca dificuldades aos autores em dois níveis: criar a chave e escondê-la. Se o autor consegue criar uma chave original, nunca publicada, normalmente inventou-a em determinado contexto e imediatamente fica com a história completa. Quando tem que se inspirar em chaves já conhecidas, tem que ter cuidado para não plagiar todo o texto original.
Mas, para quem nunca escreveu um problema policiário, pode parecer fácil que após se ler num texto uma ideia para a chave se consiga criar uma história original. Não é! A mente fica presa ao texto já conhecido, dificultando o acto criativo. Há que colocar a imaginação a trabalhar.
Distribuir a chave ao longo do texto é um dos segredos dos autores. Se os pormenores da solução se encontram demasiado concentrados torna-se fácil a decifração. O bom autor consegue espalhar por todo o texto pequenas pistas, que só depois de ligadas da forma conveniente fazem sentido e mostram o caminho da solução.
Vários autores consideram que o bom problema tem que assentar em quatro pilares fundamentais: clareza do texto, apresentação de todas as pistas, uso de técnica e ciência conhecidas e uma única solução. Esta perspectiva, discutível, coloca a solução como parte do problema.
Saber erigir esses pilares em paralelo, simultaneamente, tijolo a tijolo, calmamente, de forma coerente como qualquer escritor europeu ou americano que escreva um texto, é a melhor forma de obter um bom resultado.
Raras vezes essa construção falha. Se a planificação é bem feita a obra sai perfeita.
Oferecer um bom cenário para o crime, determinar o número de personagens e a ordem de entrada do criminoso em cena é também importante. Uma má planificação do problema poderá conduzir a um texto difuso, em que situações não previstas inicialmente originem mais do que uma solução.
Outra situação que origina mais do que uma solução nasce da tentativa do autor a esconder demasiado ou de querer aumentar a suspeição sobre várias personagens. Por vezes consegue criar tanta suspeita sobre o inocente que acaba por o transformar também em criminoso.
Hoje em dia existe um excesso de problemas da chamada “caça ao erro”. Por serem mais fáceis de produzir muitos autores seguem esse caminho. Tais problemas acabam muitas vezes por ser injustos para o solucionista, que no meio de meia dúzia de erros deixa escapar um, sendo penalizado na classificação.
Problemas com um crime, com a mera análise do que está no texto, sem ter que haver conjecturas ou especulações são cada vez mais raros e espécie em vias de extinção.
Devemos todos lutar contra essa “ maldição” que está a cair sobre a problemística policiaria.
Simplicidade. É essa característica que deve ter um bom problema. Deve ser simples na perspectiva de chaves claras e objectivas e não na de chaves expostas ao solucionista na forma “branco é, galinha o põe”.
Um problema construído de acordo com os quatro pilares enunciados resiste a tudo. Chegado ao topo pode o autor vaguear, recuar três passos, que o problema não desaba. Pelo contrário, passará a mostrar a sua coerência e a dar sentido à solução.
Revitalizar a escrita dos problemas policiários é um papel que cabe a todos. Que ninguém se retire desse dever.
Escrever um texto é um desafio que cabe a todos os que gostam deste desporto. Não se aceitam desculpas de falta de jeito. O jeito adquire-se com o treino.
Há um primeiro problema que sai mal? Não interessa. Tenta-se escrever um segundo.
A segunda tentativa é falhada? Faz-se outra e mais outra, tantas quantas forem necessárias, que a técnica acaba por se adquirir e um problema bom, ou pelo menos aceitável, verá a luz do dia.
Dêem largas à imaginação. Acham que a vossa ideia cabe em apenas 10 linhas e o problema fica pequeno? Não faz mal. Escrevam outras tantas ou mais, com elementos inócuos para o caso, que vão dificultar a vida ao solucionista e poderão transformar um caso simples num “verdadeiro caso”.
Podem fazer-se problemas extremamente simples com resultados desastrosos para quem responde. Às vezes um pormenor, fundamental, mas bem escondido causa imensa surpresas.
Há em Portugal muitos e bons problemas publicados, alguns deles muito simples. Os novos autores inspirem-se neles, sem os copiar, e verão que brevemente conseguirão escrever problemas de boa qualidade.
Vamos aguardar que uma nova leva de autores de problemas policiários avance. A modalidade está a precisar. Esta actividade não pode sobreviver com tão pouca gente a escrever. Novos autores trarão novos temas e situações novas.
Fortaleçam a língua portuguesa usando-a como veículo exclusivo para a comunicação, evitando termos que usam letras em desuso nas palavras portuguesas. Temos um vocabulário muito rico e vinte e três letras são suficientes.
Um problema policiário escrito por cada um dos concorrentes do policiário seria o corolário perfeito da mensagem que este texto oculta.
Lido o texto, fica o desafio de encontrarem a mensagem nele inserida, explicando de forma clara o modo como conseguiram decifrá-la.
E pronto.
Respostas, impreterivelmente até ao próximo dia 30 de Junho, por um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
Coluna do “C”
Na Taça de Portugal 2007/2008, assistiu-se a uma luta interessante: Os confrades Bernie Leceiro, Búfalos Associados, Dr. Gismondo, H. Sapiens, Inspector Boavida, Minda, Nove e Vicktório ficaram-se pelos oitavos de final; Alce Branco, Inspector Gigas, Mister H e Zé-Viseu cumpriram mais uma eliminatória e terminaram a sua participação nos quartos de final; Daniel Falcão e Detective Jeremias tiveram de ceder a passagem aos dois brilhantes finalistas, Agente Guima e Zé dos Anzóis.
Mercê de uma solução excelente, foi o confrade escalabitano Zé dos Anzóis, actualmente Inspector Aranha, quem levou a melhor, erguendo o troféu.
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