O
SENHOR AFONSINHO FOI PARA OS ANJINHOS
Embora
com atraso de uma semana, vamos publicar o problema do Inspector Fidalgo que
compõe a primeira parte da prova n.º 9.
Entendemos
ser devida uma explicação aos nossos leitores e “detectives” já que não se
trata de nenhum mistério ou tabu, nada disso, mas apenas e só o surgimento de
uma dúvida quanto à validade do argumento que íamos utilizar e a falta da sua
confirmação a tempo de publicação.
Perante
isso, na ausência de certezas, foi produzido o problema alternativo, que é hoje
apresentado. Não será um problema com o grau de exigência que planeámos, nem
teve a maturação que deveria ter, mas está aqui, exposto à resolução de todos
os confrades.
Devido
ao atraso na publicação, também o prazo para a sua decifração é alargado em
conformidade, para que ninguém se sinta prejudicado.
Com
um renovado pedido de desculpas, aqui fica o desafio:
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2017
PROVA
N.º 9 – PARTE I
“A
MORTE DO SENHOR AFONSINHO” – Original de INSP. FIDALGO
O
senhor Afonsinho era uma figura singular naquele meio rural onde as famílias
ainda ditavam as leis. Não em sentido formal, não havia leis específicas que as
famílias criassem e fizessem executar, como é óbvio, mas os subconscientes dos
conterrâneos reconheciam imediatamente neles um poder de autoridade em cada
palavra que proferiam.
O
senhor Afonsinho, está bem de ver, tinha tudo para ser personagem principal de
um problema policiário. Era rico, não tinha filhos, vivia numa casona enorme,
com requinte e estilo. Enfim, tinha tudo para ser a vítima perfeita, excepto um
mordomo, que dá sempre jeito quando queremos explanar um crime.
Mas
não vivia sozinho porque havia um batalhão de empregados que cuidavam de cada
um dos assuntos que à mansão diziam respeito, mas que só podiam entrar com
autorização do próprio, nenhum tinha chave ou acesso sem a sua acção. E esses
registos ficavam assinalados, com hora de entrada e de saída. Os únicos
dispensados deste ritual eram os seus primos direitos, o Afonso e a Teresinha,
que embora não residissem, faziam questão de ali passar longos períodos de boa
vida. O Afonso era um rapaz de boa compleição física, mas pouco parecido com o
primo, que era homem para cento e muitos quilos de músculos bem trabalhados no
ginásio muito bem equipado do piso térreo. O Afonso era mais para o gordo, com
uma barriguita teimosa e um gosto para os doces e para a cerveja. A Teresinha
era uma moça esbelta e frágil, uma destroçadora de corações, como comentava o
irmão, na risota.
O
senhor Afonsinho apareceu morto, como é natural e bom num problema policial.
Deitado no chão do escritório, um vasto compartimento atulhado de livros,
dossiers e folhas avulsas, jornais, revistas e outras coisas mais, num quase
perfeito caos. Junto á porta, deitado no soalho de madeira perfeitamente liso e
plano, olhando o tecto como se procurasse alguma coisa, o cadáver do senhor
Afonsinho aguardava destino. Junto à sua mão direita, estava uma pequena
pistola FN 6,35 mm. A toda a volta da cabeça, pintalgando o soalho, havia
salpicos de um vermelho acastanhado, com forma oval e laivos na parte exterior,
mais estreita, sinais de que alguma agitação houvera por ali, originando a sua
projecção. O Inspector mirou e remirou a cena, de vários ângulos, à procura da
razão do eventual sangramento, mas estava difícil de encontrar, até que o seu
ajudante lhe apontou um pequeno orifício, escondido entre madeixas de cabelo
desgrenhado, um pouco acima da orelha esquerda. Era mesmo um pequeno orifício
de bordos limpos, mas notava-se que havia queimaduras em seu redor.
-
Foi à queima-roupa! – adiantou o assistente - mas foi limpo, limpinho…
-
Hum… - resmungou o inspector.
Pelo
corredor, até àquele local, viam-se marcas que indiciavam que o corpo fora
arrastado e ali deixado… E os sapatos não mentiam, com os calcanhares raspados
e danificados:
-
Repare, senhor inspector, estas marcas de arrastamento, sem espinhas! Foi morto
fora daqui! É só descobrir onde e quem o arrastou!
-
Hum…
Perante
um incentivo tão importante como esta dupla resposta do inspector, o assistente
foi buscar uma maleta e começou a alinhar frascos e frasquinhos:
-
Inspector, vamos já tirar as dúvidas… Uma gota de tintura de Guaiaco em cima de
uma das manchas, agora uma gota de essência velha de terebentina e… cá está:
verde alface!
-
Hum…
-
Ainda vai mais uma para tira-teimas… Deixe cá ver nesta outra mancha… uma gota
de soluto alcoólico saturado de benzidina e a seguir uma gota de água oxigenada
e… Verde alface! Ó Inspector, não restam dúvidas, são dois exames diferentes
que dão o mesmo, não concorda?
-
Hum…
-
Ó Inspector, pela primeira vez tenho a certeza de que vou dar cabo de quem fez
esta atrocidade, posso mandar chamar os dois irmãos, posso? Mais ninguém aqui
pode ter chegado, já confirmamos isso. Se os espremermos bem vamos saber a
verdade da própria boca! Posso chamá-los?
-
Hum…
E
pronto!
Resta
aos nossos “detectives”, depois de fazerem as leituras que acharem
convenientes, elaborarem as propostas de relatório sobre o que terá ocorrido e
as conclusões que é possível extrair e, impreterivelmente até ao próximo dia 10
de Novembro fazerem-nos chegar, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
-
Pelo Correio para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-
Por e-mail para:
-
Por entrega em mão ao orientador do espaço, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções!
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