RESOLVIDOS OS PROBLEMAS
CRIPTOGRÁFICOS
A Criptografia fez a sua aparição na competição desta
época, cumprindo uma das vertentes que o Policiário cultivou no passado, mas
foi perdendo espaço ao longo dos tempos. O confrade Daniel Falcão resolveu, em
boa hora, recuperar uma tradição que, de uma forma geral, era cumprida, de
termos um desafio deste tipo.
Infelizmente, muitos dos grandes cultores desta
modalidade já desapareceram do nosso convívio, alguns deixaram bons textos sobre
a matéria, que são difíceis de encontrar, pelo que lançamos aqui um apelo aos
confrades que tenham disponibilidade de tempo e disposição, para que nos tragam
mais sobre a Criptografia, que, ao contrário do que poderão pensar muitos dos
nossos confrades mais jovens, não era apenas usada no lazer da decifração de um
bom desafio, mas teve importância fulcral em muitos dos acontecimentos mais
importantes do último século, nomeadamente nas chamadas guerras mundiais, em
que, quer na espionagem, quer nas ordens e estratégias para a frente de
batalha, todas as informações eram criteriosamente criptografadas para impedir
o inimigo de saber os passos que se pretendiam dar.
Vamos, pois, ficar com as soluções oficiais dos dois
desafios de Daniel Falcão.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE
PORTUGAL – 2017
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 8
PARTE I – “CRIPTOGRAFIA PARA TODOS”
– de DANIEL FALCÃO
O desafio proposto
aos policiaristas pretendia não só que nos esclarecessem sobre a mensagem
escondida pela cifra apresentada, como também que aplicassem o sistema
utilizado numa frase que intitula um post
de Luís Pessoa, publicado no blogue Crime
Público.
Assim, a cifra
apresentada escondia uma mensagem que estava bem à vista: CRIPTOGRAFIA PARA
TODOS.
Por isso, a maior
dificuldade não estava em encontrar a mensagem escondida, mas em determinar
qual o processo utilizado para a obter, sabendo que se tratava de um anagrama
e, consequentemente, de uma cifra de transposição.
Como se pode
observar na imagem seguinte, as letras da mensagem original foram distribuídas
em várias linhas, formando uma forma triangular. A cifra foi obtida de baixo
para cima e da esquerda para a direita:
A I G P R C T A R T I O P A O D A F O R S
Na segunda parte
do desafio, pretendia-se que fosse aplicado o mesmo sistema para cifrar a
mensagem: UM INESPERADO QUARTO DE SÉCULO LP.
Tal como a imagem mostra, o resultado seria:
E R D P N M U C T O E E I U O Q R S L D U A O E A L S
P
PARTE II – “QUATRO SUSPEITOS E UMA
PISTA” – de DANIEL FALCÃO
A vítima, o
engenheiro de telecomunicações, já tinha sido ameaçado, mais de uma vez, por
aqueles quatro homens. E, por isso, como tinha agendado encontros com os quatro
para aquela tarde, resolveu precaver-se.
Antes mesmo de
iniciar as reuniões, puxou para junto de si uma folha A4 e, depois de fazer
alguns cálculos, aproveitando os conhecimentos que obtivera no decurso da sua
graduação, escreveu quatro números, uns a seguir aos outros: 424, 403, 374 e
343.
As reuniões, tal
como esperava, foram bastante acaloradas. Muito provavelmente, quem passasse no
corredor, em frente à porta do escritório, não teria dificuldade em ouvir. Mas
tudo correra como habitual, ameaças e mais ameaças.
O que ele receava
é que um deles, já fora do horário de expediente, regressasse para concretizar
as ameaças. O que, de facto, aconteceu.
Quando se
preparava para sair, a porta abriu-se repentinamente e um dos homens apareceu
na entrada. Enquanto o seu algoz se aproximava e se preparava para disparar, só
teve tempo para pegar na esferográfica que estava sobre a folha onde escrevera
os quatro números e marcar com um círculo o número 374.
Ao receber o
impacto da bala no peito, ficou vidrado a olhar para o homem à sua frente,
vendo-o virar as costas e sair. Ainda teve forças para se inclinar para a
frente e apontar com o indicador o algarismo oito no seu telefone. Esperava que
ajudasse a interpretar a pista que deixara.
Como os quatro
homens residiam em diferentes localidades, a vítima sabia que podia utilizar os
indicativos telefónicos para identificar cada um deles: 276 para Francisco Manuel Sousa de
Chaves, 259 para José Carlos Vieira de Vila Real, 252 para Luís Jorge dos
Santos de Santo Tirso e 227 para Manuel da Costa Antunes de Espinho.
Mas não podia usar
estes números pois eram demasiado óbvios. Por isso, decidiu converter os
números da base decimal (0 a 9) para uma base octal (0 a 7). Tendo sido o facto
consumado, sentindo que já não teria tempo para telefonar para o serviço de
urgência, aproveitou os segundos finais de vida para apontar para o algarismo oito,
a base da codificação.
Os investigadores,
neste caso, os detetives da secção Policiário, atentos ao número oito apontado
pelo dedo indicador da vítima, imediatamente associaram à base octal, o que os
levou a presumir que o número 374 estaria na base octal e, consequentemente, os
levou a convertê-lo para a base decimal, da seguinte forma: primeiro, 3 vezes 8
elevado a dois (3 x 64 = 192), mais 7 vezes 8 elevado a um (7 x 8 = 56), mais 4
vezes 8 elevado a zero (4 x 1 = 4); depois a soma dos valores encontrados (192
+ 56 + 4 = 252).
O problema estava
resolvido, fora o Luís Jorge dos Santos (alínea C), residente em Santo Tirso, cujo
indicativo telefónico é o 252, quem assassinou o engenheiro de
telecomunicações.
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