domingo, 22 de outubro de 2017

POLICIÁRIO 1368



RESOLVIDOS OS PROBLEMAS CRIPTOGRÁFICOS

A Criptografia fez a sua aparição na competição desta época, cumprindo uma das vertentes que o Policiário cultivou no passado, mas foi perdendo espaço ao longo dos tempos. O confrade Daniel Falcão resolveu, em boa hora, recuperar uma tradição que, de uma forma geral, era cumprida, de termos um desafio deste tipo.
Infelizmente, muitos dos grandes cultores desta modalidade já desapareceram do nosso convívio, alguns deixaram bons textos sobre a matéria, que são difíceis de encontrar, pelo que lançamos aqui um apelo aos confrades que tenham disponibilidade de tempo e disposição, para que nos tragam mais sobre a Criptografia, que, ao contrário do que poderão pensar muitos dos nossos confrades mais jovens, não era apenas usada no lazer da decifração de um bom desafio, mas teve importância fulcral em muitos dos acontecimentos mais importantes do último século, nomeadamente nas chamadas guerras mundiais, em que, quer na espionagem, quer nas ordens e estratégias para a frente de batalha, todas as informações eram criteriosamente criptografadas para impedir o inimigo de saber os passos que se pretendiam dar.
Vamos, pois, ficar com as soluções oficiais dos dois desafios de Daniel Falcão.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2017
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 8
PARTE I – “CRIPTOGRAFIA PARA TODOS” – de DANIEL FALCÃO

O desafio proposto aos policiaristas pretendia não só que nos esclarecessem sobre a mensagem escondida pela cifra apresentada, como também que aplicassem o sistema utilizado numa frase que intitula um post de Luís Pessoa, publicado no blogue Crime Público.
Assim, a cifra apresentada escondia uma mensagem que estava bem à vista: CRIPTOGRAFIA PARA TODOS.
Por isso, a maior dificuldade não estava em encontrar a mensagem escondida, mas em determinar qual o processo utilizado para a obter, sabendo que se tratava de um anagrama e, consequentemente, de uma cifra de transposição.
Como se pode observar na imagem seguinte, as letras da mensagem original foram distribuídas em várias linhas, formando uma forma triangular. A cifra foi obtida de baixo para cima e da esquerda para a direita:


A I G P R C T A R T I O P A O D A F O R S

Na segunda parte do desafio, pretendia-se que fosse aplicado o mesmo sistema para cifrar a mensagem: UM INESPERADO QUARTO DE SÉCULO LP.
Tal como a imagem mostra, o resultado seria:

E R D P N M U C T O E E I U O Q R S L D U A O E A L S P






PARTE II – “QUATRO SUSPEITOS E UMA PISTA” – de DANIEL FALCÃO

A vítima, o engenheiro de telecomunicações, já tinha sido ameaçado, mais de uma vez, por aqueles quatro homens. E, por isso, como tinha agendado encontros com os quatro para aquela tarde, resolveu precaver-se.
Antes mesmo de iniciar as reuniões, puxou para junto de si uma folha A4 e, depois de fazer alguns cálculos, aproveitando os conhecimentos que obtivera no decurso da sua graduação, escreveu quatro números, uns a seguir aos outros: 424, 403, 374 e 343.
As reuniões, tal como esperava, foram bastante acaloradas. Muito provavelmente, quem passasse no corredor, em frente à porta do escritório, não teria dificuldade em ouvir. Mas tudo correra como habitual, ameaças e mais ameaças.
O que ele receava é que um deles, já fora do horário de expediente, regressasse para concretizar as ameaças. O que, de facto, aconteceu.
Quando se preparava para sair, a porta abriu-se repentinamente e um dos homens apareceu na entrada. Enquanto o seu algoz se aproximava e se preparava para disparar, só teve tempo para pegar na esferográfica que estava sobre a folha onde escrevera os quatro números e marcar com um círculo o número 374.
Ao receber o impacto da bala no peito, ficou vidrado a olhar para o homem à sua frente, vendo-o virar as costas e sair. Ainda teve forças para se inclinar para a frente e apontar com o indicador o algarismo oito no seu telefone. Esperava que ajudasse a interpretar a pista que deixara.
Como os quatro homens residiam em diferentes localidades, a vítima sabia que podia utilizar os indicativos telefónicos para identificar cada um deles: 276 para Francisco Manuel Sousa de Chaves, 259 para José Carlos Vieira de Vila Real, 252 para Luís Jorge dos Santos de Santo Tirso e 227 para Manuel da Costa Antunes de Espinho.
Mas não podia usar estes números pois eram demasiado óbvios. Por isso, decidiu converter os números da base decimal (0 a 9) para uma base octal (0 a 7). Tendo sido o facto consumado, sentindo que já não teria tempo para telefonar para o serviço de urgência, aproveitou os segundos finais de vida para apontar para o algarismo oito, a base da codificação.
Os investigadores, neste caso, os detetives da secção Policiário, atentos ao número oito apontado pelo dedo indicador da vítima, imediatamente associaram à base octal, o que os levou a presumir que o número 374 estaria na base octal e, consequentemente, os levou a convertê-lo para a base decimal, da seguinte forma: primeiro, 3 vezes 8 elevado a dois (3 x 64 = 192), mais 7 vezes 8 elevado a um (7 x 8 = 56), mais 4 vezes 8 elevado a zero (4 x 1 = 4); depois a soma dos valores encontrados (192 + 56 + 4 = 252).
O problema estava resolvido, fora o Luís Jorge dos Santos (alínea C), residente em Santo Tirso, cujo indicativo telefónico é o 252, quem assassinou o engenheiro de telecomunicações.




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