domingo, 1 de outubro de 2017

POLICIÁRIO 1365



ADIADA PUBLICAÇÃO DO NONO PROBLEMA

Começamos esta semana com um pedido de desculpas aos nossos “detectives”, porque não foi possível assegurar a publicação do problema que estava preparado para a continuação da nossa competição.
Dificuldades inesperadas, do foro pessoal do coordenador deste espaço, impediram que tivéssemos as condições para cumprirmos todos os prazos, incluindo a nível de classificações, que registam algum atraso.
Por esse motivo, ultrapassados em grande parte os constrangimentos, assim pensamos, vamos retomar o ritmo normal e ir recuperando os atrasos, de forma que, em termos finais, todas as competições se apresentem concluídas em devido tempo.
Apelamos aos nossos confrades, “detectives” e leitores em geral, para que estejam atentos ao blogue Crime Público, em http://blogs.publico.pt/policiario onde poderão seguir mais de perto as incidências desta situação anómala.
Entretanto, enquanto levamos a cabo a recuperação dos atrasos e aguardamos a publicação da parte I da prova n.º 9, vamos recordar uma das facetas mais relevantes do nosso Policiário, durante muitas décadas, quando uma chamada telefónica era uma raridade extremamente cara e difícil, para já não falarmos das deslocações físicas pelas nossas estradas e caminhos, que eram autênticas aventuras! Nesses tempos, era a carta e o postal que serviam de veículo para os contactos mais distantes e as reuniões em tertúlias policiárias locais e regionais, a forma mais importante para discutir a resolução dos problemas e criação de grupos, cujas amizades perduram para toda a vida.
    
TERTÚLIAS POLICIÁRIAS
UMA FORMA DE ASSOCIATIVISMO CULTURAL

Uma das marcas registadas do Policiário ao longo das muitas décadas que já leva de actividade, são as Tertúlias Policiárias.
A sua forma de funcionar foi variada, dependendo da localização e composição, mas teve sempre como função principal promover o contacto entre pessoas que tinham como interesse a literatura policial e a troca de impressões sobre a actividade desenvolvida nas secções policiárias que existiam por todo o país, em publicações regionais.
Quando procuramos situar esta forma de associação ligada ao Policial, vamos encontrar novamente a figura do inevitável Sete de Espadas, desde logo por ter sido o impulsionador de muitas secções policiárias e nessa qualidade ter propiciado a aparição de tertúlias em muitas localidades onde havia vários concorrentes.
Famosa, terá ficado a Tertúlia Policiária Ribatejana, muitas vezes mencionada como a mais organizada e importante, por onde passaram muitos dos vultos que fizeram o policiário tal como o conhecemos. Mas outras houve, espalhadas pelo país, um país onde quase nada chegava; onde as comunicações não existiam ou eram precárias e dispendiosas; onde o acesso à cultura ou a um simples livro era privilégio raro. Nesse país que muitos de nós ainda conheceram, um livro policial era partilhado nas tertúlias, muitas vezes lido em voz alta à luz de candeeiros de petróleo ou velas de cera! Juntavam-se os centavos necessários para uma assinatura de um jornal ou revista e todos liam os desafios publicados, discutiam-nos e faziam as respostas, que depois eram enviadas por correio, num postal por ser mais barata a tarifa.
Há, ainda, histórias feitas de verdade ou de lenda, de confrades que andavam muitos quilómetros de bicicleta, pela noite dentro, para irem às reuniões das tertúlias, sempre à noite porque de dia se trabalhava… E histórias de encontros com polícias que julgavam estar na presença de contrabandistas ou de conspiradores noctívagos!
Estas histórias são património do Policiário e merecem ocupar um lugar de destaque, pelo que incentivamos os nossos confrades mais antigos, que estiveram ligados a estas formas de associação, a trazerem-nos as suas memórias desses tempos e de todos os tempos, também aquilo que eles próprios ouviram contar dos seus antecessores, para que possamos transmitir às novas gerações de policiaristas a matriz que nos trouxe até aqui e deixarmos esses testemunhos que não se podem perder no esquecimento.
O Policiário é como se estivesse no nosso ADN e a maioria de nós já não conseguiria viver sem ele e estes tempos actuais são de mudança, também para nós, com o nosso confrade Jartur empenhado no Arquivo Histórico da Problemística Policiária Portuguesa, que está a “desenterrar” centenas de páginas de secções que estavam esquecidas e que graças à sua perseverança, estão a encontrar a luz do dia e a revelar que o Policiário foi, afinal, muito mais vasto, importante e profundo do que suspeitávamos, superando mesmo as expectativas mais optimistas. E, mais que isso, ainda esconde “segredos e tesouros” que não imaginamos até onde irão. Será também tempo de iniciarmos o trabalho de ouvirmos os nossos confrades mais antigos, para memória futura, sobre as recordações desses tempos em que o Policiário preenchia muitas das lacunas espirituais de quem queria ler, conhecer, desenvolver um raciocínio lógico, conviver com quem tinha os mesmos interesses e objectivos, enfim, quase tudo o que a lógica política e social da altura queria evitar.
Esta nossa secção é uma homenagem às Tertúlias Policiárias, no seu todo, não fazendo distinções que seriam sempre injustas, porque cada uma delas representou, em todas as épocas e em todos os locais, uma bolsa de cultura, um grito contra o isolamento, um querer estar com quem se gosta de estar, uma reunião de amigos…


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