II TORNEIO NACIONAL
DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Solução
do problema n.º 9
«R A P T O»
Apresentada
pelo autor: «INSPECTOR LAVADINHO»
em 08 de Agosto de 1958
Na solução de qualquer «caso» - embora
fácil como o presente - deve usar-se como base elementar, a ginástica mental -
que tão arredada tem andado dos problemas policiais - representada por
observação, raciocínio e dedução.
Ao observar as pègadas, fortemente
impressas num terreno de difícil aderência, pensei que pretendiam com elas
chamar a nossa atenção e que ou era pessoa não habituada a andar de sapatos de
salto alto ou, então, não era uma mulher como nos queriam fazer crer. E não
seria lógico que uma mulher, ao transpor o muro de buxo, alterasse a posição do
pé que assentou do outro lado, devido à prisão das pernas originada pelas
saias? No entanto isso não aconteceu, o que corroborou a ideia da existência de
um homem no caso.
Depois, observado o solo junto à
parede, verificámos que estava desprovido de quaisquer provas, tais como caliça
ou marcas de assentamento de escada. Se alguém pretendesse entrar pela janela,
a uns dois metros do solo, sem o auxílio de escada, forçosamente bateria na parede
caiada ocasionando a queda de partículas de caliça; e o local não foi varrido
pois, como o rapto teve lugar ao meio-dia, já o jardineiro tinha largado o
serviço. Portanto, ninguém entrou pela janela. Ora, se ninguém entrou e a
criança desapareceu, deduzimos que...
Sem perigo de ser observado pelo lado
da rua, devido ao gradeamento, e pelo restante pessoal da casa, pela
proximidade da hora do almoço, o jardineiro calçou os sapatos de mulher, que
prèviamente escondera no canteiro, e iniciou a penosa e caricata caminhada até
ao pé da janela onde se encontrava a ama pronta a entregar-lhe a criança. Ao
recebê-la mais difícil se tornou o equilíbrio sobre os saltos altos e, sem
outra alternativa, descalçou-se e caminhou para a casa da arrecadação, onde achámos
os sapatos que ele escondera, e esperou pelo alarme a dar pela cúmplice.
Enquanto não chegámos, o homem, alegando serem horas do almoço, transportou a
criança escondida até sua própria casa e, à hora habitual, regressou, só, ao
trabalho.
Inspector
Lavadinho
Divulgada em 04.Abril.2016
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