OS
95 ANOS DO NASCIMENTO DE
SETE DE ESPADAS
Cumpriram-se no passado dia 1 de Fevereiro, 95 anos
sobre o nascimento da figura mais importante do Policiário português. Sempre
que falamos de Policiário, a referência ao Sete de Espadas aparece como uma
inevitabilidade, tal a sua importância primeiro para a divulgação e depois para
a consolidação deste passatempo exemplar, amplamente reconhecido como um
veículo importante para estimular a leitura, a interpretação, a análise, o poder
de síntese, o espírito observador e científico.
O Sete de Espadas nasceu no Ribatejo, na vila da
Chamusca em 1 de Fevereiro de 1921 e desde muito jovem começou a interessar-se
pelo policial, lendo tudo o que sobre esse tema lhe passava ao alcance. Nesses
tempos, como é óbvio, não havia as facilidades de hoje no acesso à informação e
aos livros.
Em 12 de Janeiro de 1947 iniciava a sua actividade
como orientador de um espaço policiário, no Jornal de Sintra, com o título
Mistério e Aventura, que ele mesmo definia, em subtítulo, como uma “secção
policial orientada por Sete de Espadas”.
Depois foi um nunca mais acabar, na divulgação da
literatura policial e, sobretudo, na vertente da competição policial.
Que me desculpem os confrades mais antigos, aqueles
que viveram com ele as aventuras do Clube de Literatura Policial, das secções
no Camarada, no Cavaleiro Andante e em tantos locais, mas nós apontamos um
marco que nos parece decisivo em toda a História do Policiário: O dia 13 de
Março de 1975.
Nesse dia, em todas as papelarias, quiosques, pontos
de venda de jornais e revistas, apareceu, apenas, mais um número do “Mundo de
Aventuras”, uma revista de histórias aos quadradinhos, editada pela Agência
Portuguesa de Revistas, que já vinha dos anos 40 do século XX, mas que trazia
algo de novo: As últimas páginas eram identificadas como “Mistério… Policiário”
e assinadas por um não menos misterioso “Sete de Espadas”!
Foi, podemos dizê-lo com toda a propriedade, o virar
de página de toda uma geração de jovens, muito jovens mesmo, na casa dos 13, 14
anos, que apareceram em enorme explosão, criando um movimento imparável que nos
trouxe até aos dias de hoje.
Muitos dos actuais policiaristas são produtos dessa
época, eram leitores de histórias aos quadradinhos e descobriram o policiário,
tornando-se detectives!
O primeiro sinal de que algo se movia, foi a grande
afluência à literatura policial, a corrida aos alfarrabistas, a ânsia de ler os
clássicos do policial, antes da procura dos modernos escritores. Depois, foi a
quantidade de malta nova a tratar-se por nomes escolhidos pelos próprios, que
podiam ser de uma personagem dos quadradinhos, de um detective da literatura,
de uma abreviatura do próprio nome, de uma invenção pura… Tudo servia para nos
identificarmos perante os outros. Era o Detective Invisível, o Inspector
Moisés, o Ubro Hmet ou o Satanás… Poucos sabiam o nome real do confrade que
estava à sua frente, nem isso era importante! Poucos sabiam o que faziam os
outros na vida profissional, mas também não era necessário! O importante era o
facto de estarem todos irmanados no mesmo gosto pela dedução, pelo exercício
das “células cinzentas”, estarem disponíveis para se reunirem em Tertúlias
Policiárias e todos os meses percorrerem o país para os Convívios, na altura
única forma de travarmos conhecimento para além das fronteiras próximas.
Recorda-se, ainda hoje, uma semana em que um dos
números do Mundo de Aventuras não apresentou o já habitual espaço policiário,
por motivos de paginação, ou semelhante e houve um coro de protestos de tal
dimensão que a Agência Portuguesa de Revistas foi obrigada a vir a terreiro
prometer que não se repetiria tal ausência!
No centro de tudo, a figura simpática de um homem de
barbas brancas, cabelo ralo, sorriso aberto e simpático: O Sete de Espadas.
Nos dias dos Convívios, era digno de ser visto o
número de pais que chegavam perto do Sete e lhe confiavam os miúdos de 11 ou 12
anos, como se confia a um avô e lhe diziam que eram os próprios miúdos que
insistiam em ir e não aceitavam um não como resposta! E o Sete, com a calma e o
espírito positivo que sempre teve, lá os tranquilizava, dizendo-lhes que na
tribo policiária eles estavam no local certo para crescerem, num são convívio,
numa camaradagem exemplar.
Ainda hoje sentimos isso. Mesmo nós, muitos já avós,
ainda olhamos para o exemplo do Sete como um aspecto importantíssimo no nosso
processo de desenvolvimento. Todos crescemos muito com ele e com o Policiário.
Todos lhe devemos muito daquilo que conseguimos ser. O seu exemplo, de
persistência na demonstração dos benefícios do exercício de uma actividade tão
saudável para o desenvolvimento harmonioso de um espírito científico, como é o
caso do Policiário, em contraposição com as opiniões veiculadas em sentido
contrário, de que falar de crime é incitar à violência, merece ser sempre
realçado.
Daí a justeza desta recordação, numa altura em que se
aproxima a passos largos uma data que passará a ser parte integrante da nossa
História Policiária, quando no dia 1 de Julho de 2017, daqui a pouco mais de um
ano, completarmos – se pudermos e conseguirmos – 25 anos ininterruptos de
Policiário do PÚBLICO, uma tarefa que parecia impossível quando iniciámos a
caminhada! É que esta secção, se teve o seu nascimento formal no dia 1 de Julho
de 1992, verdadeiramente nasceu muitos anos antes, algures pelo ano de 1975,
quando o Inspector Fidalgo encontrou o Sete de Espadas e ficou fascinado com o
Mundo que este lhe abriu!
Mais tarde foi o XYZ Magazine, uma revista ecléctica
em que o Sete de Espadas cumpriu um dos seus sonhos maiores, por entre
dificuldades extremas, relacionadas com a falta de financiamento e de aposta do
movimento editorial da época, que o fez avançar completamente de peito feito,
sem meios financeiros, sem qualquer rede, numa aposta que encerrou uma certa dose
de loucura. Foi com base no Clube dos Amigos do XYZ que o Magazine foi
sobrevivendo, enviado pelo correio aos assinantes, contando com a colaboração
de alguns amigos que se reuniam em sua casa, junto dos Estúdios da Tóbis, no
Lumiar, fazendo o endereçamento e envio pelos Correios, em maratonas que hoje,
a esta distância temporal, aparecem como recordações deliciosas de um tempo em
que fazíamos as coisas acontecer, sempre com a relevância da Amizade e da
Camaradagem.
Foi no dia 10 de Dezembro de 2008 que a notícia do seu
falecimento correu no seio da imensa família policiária, que assim viu partir o
seu principal divulgador, deixando um rasto de pesar entre a imensa legião
daqueles que com ele cresceram física e mentalmente.