II
TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Solução do problema n.º 2
Publicado na revista “FLAMA” # 517 / em 31
de Janeiro de 1958
UM CASO SIMPLES
Apresentada pelo autor: «Sherlock Amador»
No caso que o
Inspector Arsil teve que investigar, referente à morte do professor Idalécio,
constatou - para prisão da testemunha presente - os seguintes factos:
Em primeiro lugar, se
a vítima vivia como um eremita, isto é, só… como conseguiu o amigo do morto
entrar na vivenda? Não declarara ele que, ao renovar as suas visitas, deparara
com aquela triste cena? Se assim é, quem lhe abriu a porta, pois o próprio
Inspector teve de esperar que lha abrissem para poder entrar? Logicamente, a
testemunha mentia.
Em segundo lugar,
aparece ao Inspector a posição do corpo que, de forma alguma, podia
corresponder ao desenrolar dos factos. Se o corpo estava ajoelhado e debruçado
sobre a pequena mesa, e se o sangue que jorrava da ferida tingia o tampo da
mesa, como poderia ver-se sangue nos sapatos do morto? Mesmo que o sangue
tivesse escorrido para o chão - facto que o Inspector verificou não se ter dado
- nunca esse sangue chegaria aos sapatos, visto a sua posição não condizer com
a perpendicular do bordo da mesa.
Tudo isto levou o
Inspector a pensar que, se houve delito, ele devia ter sido praticado noutro
local qualquer. O facto de o corpo estar debruçado sobre a pequena mesa que
estava debaixo do oratório - o qual, de uma maneira geral, está sempre colocado
numa parede não havendo, deste modo, espaço para a manobra do atacante - mais
reforçou a ideia de Arsil.
As manchas viscosas
encontradas no quarto deram-lhe a confirmação do facto, embora ele fingisse,
perante a testemunha, que não lhe interessavam.
Também o pormenor de a
vítima estar em mangas de camisa lhe chamou a atenção. Com o frio que fazia,
tanto fora como dentro de casa - o próprio Inspector teve de aconchegar-se
melhor quando se dirigiu à janela que estava aberta - era lógico que o
professor estivesse agasalhado, visto tratar-se de um indivíduo já duma certa
idade. Também o facto de a janela estar aberta chamou a atenção do Inspector
para a esperteza do culpado. Este, ao abrir a dita janela, apenas teve uma
ideia: procurar fazer o arrefecimento da sala para que se produzisse a rigidez
cadavérica o mais rapidamente possível, a fim de dar a ideia de que a morte se
dera algumas horas antes.
Mas, em face das
manchas encontradas ainda estarem viscosas, permitiu ao Inspector deduzir que o
ataque fora praticado havia pouco tempo. Logo, forçosamente, se notaria o
espasmo cadavérico produzido pela contracção muscular no empunhar da arma. Ora
o que o Inspector verificou foi que o morto tinha a mão espalmada sobre a
pistola, donde se deduz que aquela fora ali colocada propositadamente.
A reforçar toda esta
teoria do Inspector, vieram as declarações do amigo do amigo do morto quando,
ao referir-se à arma, disse ter visto várias vezes o professor Idalécio
carregar o «tambor» com seis balas de aço. Sucede, porém, que sendo a arma
encontrada uma automática Browning, nunca
a testemunha poderia ter visto tal operação. Como é do conhecimento geral, uma
automática não possui tambor, mas sim carregador, fazendo aquele parte dos
revólveres e não das pistolas.
Para completar as suas
deduções, existia o facto de a vítima ser, relativamente leve para que o
atacante pudesse, com relativa facilidade, transportá-la do local do crime -
quarto de dormir - para a sala onde foi encontrada, seguindo-se a composição da
«mise-en-scène».
«Sherlock
Amador»
Jarturice II TNPP – 002.2
Divulgada em 18.Fevereiro.2016
Sem comentários:
Enviar um comentário