domingo, 21 de fevereiro de 2016

II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL

   
                                                                                                                                              
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

Solução do problema n.º 2           

  Publicado na revista “FLAMA” # 517 / em 31 de Janeiro de 1958

UM CASO SIMPLES
Apresentada pelo autor: «Sherlock Amador»

            No caso que o Inspector Arsil teve que investigar, referente à morte do professor Idalécio, constatou - para prisão da testemunha presente - os seguintes factos:
            Em primeiro lugar, se a vítima vivia como um eremita, isto é, só… como conseguiu o amigo do morto entrar na vivenda? Não declarara ele que, ao renovar as suas visitas, deparara com aquela triste cena? Se assim é, quem lhe abriu a porta, pois o próprio Inspector teve de esperar que lha abrissem para poder entrar? Logicamente, a testemunha mentia.
            Em segundo lugar, aparece ao Inspector a posição do corpo que, de forma alguma, podia corresponder ao desenrolar dos factos. Se o corpo estava ajoelhado e debruçado sobre a pequena mesa, e se o sangue que jorrava da ferida tingia o tampo da mesa, como poderia ver-se sangue nos sapatos do morto? Mesmo que o sangue tivesse escorrido para o chão - facto que o Inspector verificou não se ter dado - nunca esse sangue chegaria aos sapatos, visto a sua posição não condizer com a perpendicular do bordo da mesa.
            Tudo isto levou o Inspector a pensar que, se houve delito, ele devia ter sido praticado noutro local qualquer. O facto de o corpo estar debruçado sobre a pequena mesa que estava debaixo do oratório - o qual, de uma maneira geral, está sempre colocado numa parede não havendo, deste modo, espaço para a manobra do atacante - mais reforçou a ideia de Arsil.

                As manchas viscosas encontradas no quarto deram-lhe a confirmação do facto, embora ele fingisse, perante a testemunha, que não lhe interessavam.
            Também o pormenor de a vítima estar em mangas de camisa lhe chamou a atenção. Com o frio que fazia, tanto fora como dentro de casa - o próprio Inspector teve de aconchegar-se melhor quando se dirigiu à janela que estava aberta - era lógico que o professor estivesse agasalhado, visto tratar-se de um indivíduo já duma certa idade. Também o facto de a janela estar aberta chamou a atenção do Inspector para a esperteza do culpado. Este, ao abrir a dita janela, apenas teve uma ideia: procurar fazer o arrefecimento da sala para que se produzisse a rigidez cadavérica o mais rapidamente possível, a fim de dar a ideia de que a morte se dera algumas horas antes.
            Mas, em face das manchas encontradas ainda estarem viscosas, permitiu ao Inspector deduzir que o ataque fora praticado havia pouco tempo. Logo, forçosamente, se notaria o espasmo cadavérico produzido pela contracção muscular no empunhar da arma. Ora o que o Inspector verificou foi que o morto tinha a mão espalmada sobre a pistola, donde se deduz que aquela fora ali colocada propositadamente.
            A reforçar toda esta teoria do Inspector, vieram as declarações do amigo do amigo do morto quando, ao referir-se à arma, disse ter visto várias vezes o professor Idalécio carregar o «tambor» com seis balas de aço. Sucede, porém, que sendo a arma encontrada uma automática Browning, nunca a testemunha poderia ter visto tal operação. Como é do conhecimento geral, uma automática não possui tambor, mas sim carregador, fazendo aquele parte dos revólveres e não das pistolas.
            Para completar as suas deduções, existia o facto de a vítima ser, relativamente leve para que o atacante pudesse, com relativa facilidade, transportá-la do local do crime - quarto de dormir - para a sala onde foi encontrada, seguindo-se a composição da «mise-en-scène».

                                                           «Sherlock Amador»      


                                                                                                          Jarturice II TNPP – 002.2

Divulgada em 18.Fevereiro.2016

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