domingo, 28 de fevereiro de 2016

POLICIÁRIO 1282



OS 95 ANOS DO NASCIMENTO DE
SETE DE ESPADAS

Cumpriram-se no passado dia 1 de Fevereiro, 95 anos sobre o nascimento da figura mais importante do Policiário português. Sempre que falamos de Policiário, a referência ao Sete de Espadas aparece como uma inevitabilidade, tal a sua importância primeiro para a divulgação e depois para a consolidação deste passatempo exemplar, amplamente reconhecido como um veículo importante para estimular a leitura, a interpretação, a análise, o poder de síntese, o espírito observador e científico.
O Sete de Espadas nasceu no Ribatejo, na vila da Chamusca em 1 de Fevereiro de 1921 e desde muito jovem começou a interessar-se pelo policial, lendo tudo o que sobre esse tema lhe passava ao alcance. Nesses tempos, como é óbvio, não havia as facilidades de hoje no acesso à informação e aos livros.
Em 12 de Janeiro de 1947 iniciava a sua actividade como orientador de um espaço policiário, no Jornal de Sintra, com o título Mistério e Aventura, que ele mesmo definia, em subtítulo, como uma “secção policial orientada por Sete de Espadas”.
Depois foi um nunca mais acabar, na divulgação da literatura policial e, sobretudo, na vertente da competição policial.
Que me desculpem os confrades mais antigos, aqueles que viveram com ele as aventuras do Clube de Literatura Policial, das secções no Camarada, no Cavaleiro Andante e em tantos locais, mas nós apontamos um marco que nos parece decisivo em toda a História do Policiário: O dia 13 de Março de 1975.

Nesse dia, em todas as papelarias, quiosques, pontos de venda de jornais e revistas, apareceu, apenas, mais um número do “Mundo de Aventuras”, uma revista de histórias aos quadradinhos, editada pela Agência Portuguesa de Revistas, que já vinha dos anos 40 do século XX, mas que trazia algo de novo: As últimas páginas eram identificadas como “Mistério… Policiário” e assinadas por um não menos misterioso “Sete de Espadas”!
Foi, podemos dizê-lo com toda a propriedade, o virar de página de toda uma geração de jovens, muito jovens mesmo, na casa dos 13, 14 anos, que apareceram em enorme explosão, criando um movimento imparável que nos trouxe até aos dias de hoje.
Muitos dos actuais policiaristas são produtos dessa época, eram leitores de histórias aos quadradinhos e descobriram o policiário, tornando-se detectives!
O primeiro sinal de que algo se movia, foi a grande afluência à literatura policial, a corrida aos alfarrabistas, a ânsia de ler os clássicos do policial, antes da procura dos modernos escritores. Depois, foi a quantidade de malta nova a tratar-se por nomes escolhidos pelos próprios, que podiam ser de uma personagem dos quadradinhos, de um detective da literatura, de uma abreviatura do próprio nome, de uma invenção pura… Tudo servia para nos identificarmos perante os outros. Era o Detective Invisível, o Inspector Moisés, o Ubro Hmet ou o Satanás… Poucos sabiam o nome real do confrade que estava à sua frente, nem isso era importante! Poucos sabiam o que faziam os outros na vida profissional, mas também não era necessário! O importante era o facto de estarem todos irmanados no mesmo gosto pela dedução, pelo exercício das “células cinzentas”, estarem disponíveis para se reunirem em Tertúlias Policiárias e todos os meses percorrerem o país para os Convívios, na altura única forma de travarmos conhecimento para além das fronteiras próximas.
Recorda-se, ainda hoje, uma semana em que um dos números do Mundo de Aventuras não apresentou o já habitual espaço policiário, por motivos de paginação, ou semelhante e houve um coro de protestos de tal dimensão que a Agência Portuguesa de Revistas foi obrigada a vir a terreiro prometer que não se repetiria tal ausência!
No centro de tudo, a figura simpática de um homem de barbas brancas, cabelo ralo, sorriso aberto e simpático: O Sete de Espadas.
Nos dias dos Convívios, era digno de ser visto o número de pais que chegavam perto do Sete e lhe confiavam os miúdos de 11 ou 12 anos, como se confia a um avô e lhe diziam que eram os próprios miúdos que insistiam em ir e não aceitavam um não como resposta! E o Sete, com a calma e o espírito positivo que sempre teve, lá os tranquilizava, dizendo-lhes que na tribo policiária eles estavam no local certo para crescerem, num são convívio, numa camaradagem exemplar.
Ainda hoje sentimos isso. Mesmo nós, muitos já avós, ainda olhamos para o exemplo do Sete como um aspecto importantíssimo no nosso processo de desenvolvimento. Todos crescemos muito com ele e com o Policiário. Todos lhe devemos muito daquilo que conseguimos ser. O seu exemplo, de persistência na demonstração dos benefícios do exercício de uma actividade tão saudável para o desenvolvimento harmonioso de um espírito científico, como é o caso do Policiário, em contraposição com as opiniões veiculadas em sentido contrário, de que falar de crime é incitar à violência, merece ser sempre realçado.
Daí a justeza desta recordação, numa altura em que se aproxima a passos largos uma data que passará a ser parte integrante da nossa História Policiária, quando no dia 1 de Julho de 2017, daqui a pouco mais de um ano, completarmos – se pudermos e conseguirmos – 25 anos ininterruptos de Policiário do PÚBLICO, uma tarefa que parecia impossível quando iniciámos a caminhada! É que esta secção, se teve o seu nascimento formal no dia 1 de Julho de 1992, verdadeiramente nasceu muitos anos antes, algures pelo ano de 1975, quando o Inspector Fidalgo encontrou o Sete de Espadas e ficou fascinado com o Mundo que este lhe abriu!
Mais tarde foi o XYZ Magazine, uma revista ecléctica em que o Sete de Espadas cumpriu um dos seus sonhos maiores, por entre dificuldades extremas, relacionadas com a falta de financiamento e de aposta do movimento editorial da época, que o fez avançar completamente de peito feito, sem meios financeiros, sem qualquer rede, numa aposta que encerrou uma certa dose de loucura. Foi com base no Clube dos Amigos do XYZ que o Magazine foi sobrevivendo, enviado pelo correio aos assinantes, contando com a colaboração de alguns amigos que se reuniam em sua casa, junto dos Estúdios da Tóbis, no Lumiar, fazendo o endereçamento e envio pelos Correios, em maratonas que hoje, a esta distância temporal, aparecem como recordações deliciosas de um tempo em que fazíamos as coisas acontecer, sempre com a relevância da Amizade e da Camaradagem.
Foi no dia 10 de Dezembro de 2008 que a notícia do seu falecimento correu no seio da imensa família policiária, que assim viu partir o seu principal divulgador, deixando um rasto de pesar entre a imensa legião daqueles que com ele cresceram física e mentalmente.


1 comentário:

Anónimo disse...

Um abraço, Sete!!!!