domingo, 24 de outubro de 2010

A SOLUÇÃO DE MISTER H

Problema de Rápidas: C - Não podia sentar-se à sombra do Oceanário para ler a revista.
 Problema Tradicional: Este problema debruça-se sobre a morte de Almerindo Cabral, indivíduode muitas posses materiais mas sem descendência directa. As outraspersonagens e suspeitos deste problema são os familiares da vítima(não incluo o inspector Trindade nem os empregados neste rol pois nadahá no texto que os posicione de forma que podem ter intervenção namorte da vítima). Atendendo à descrição feita da vítima, parece-me que era uma pessoaagarrada à sua família, os tais que ele fazia questão de ter junto desi a cada dia 11 de Novembro, o seu aniversário. Assim sendo, odinheiro é um provável móbil que se encaixa a qualquer um dossuspeitos. Pela descrição feita das personagens destacam-se do rol o irmãoAdelino - a quem é atribuído algum descontentamento por não ter sidoele o bafejado com a herança do tio do Brasil apesar de ser o maisvelho; e o sobrinho António que parece ser quem mais gosta do dinheirodo falecido.Olhando com alguma atenção vejo que todo o problema parece apontarpara António, quase toda a acção gira em torno dele: chega atrasado,deixa-se ficar para trás, foi visto a entrar por uns lados e a sairpor outros. o texto parece indicar que ele andou a fazer das suas. Os indícios não são muitos: ferimento chamuscado e com resíduos depólvora no temporal direito indica convictamente que a causa de mortefoi um disparo com a pistola encostada ou muito próximo da cabeça davítima; a disposição corporal de braços abertos em cruz e a pistola namão direita afasta a possibilidade de suicídio (se o falecido nãotinha dedos na mão direita obviamente que não podia puxar o gatilhocom essa mão). Por aqui não dá para apanhar ninguém. Os depoimentos também são muito parcos (no caso dos empregados,António e Adelino que muito pouco dizem) ou inexistentes (para osrestantes personagens), sendo impossível agarrar aí uma mentiradescarada. Um ponto omnipresente ao longo de todo a acção é o pormenor das horas.Terá de ser por aí que se chega o assassino, apesar da informação domédico legista sobre a hora da morte ser demasiado vaga para daí sepoder tirar qualquer conclusão (que teria sido entre as 11.20 e as12.45 era bastante óbvio pois nenhum ouviu tiro antes das músicas e ocadáver foi achado às 12.30 ou 12.45 caso se acredite ou não que orelógio estava de facto adiantado).Quando António chega e é acusado de estar atrasado ele retorque que naverdade é o relógio da sala de jantar que se encontra adiantado.Ninguém contesta nem lhe dão razão, simplesmente o relógio é acertadode acordo com a informação fornecida por António. Estaria o relógioestava verdadeiramente adiantado? Uma coisa é certa, para todos queestavam presentes na sala de jantar foi aceite que sim e por issotodas a informação horária por eles providenciada deve ter esse factoem conta.Felizmente há alguma informação que é independente das horas indicadaspelo povo que estava na sala de jantar, nomeadamente a que nos éprovidenciada pelos empregados que, não tendo razão por que mentir,considerarei fidedigna. Partindo então do pressuposto que osempregados falam de forma precisa e verdadeira, sabe-se que:- os empregados não foi viram nem ouviram nada estranho, portanto otiro terá sido enquanto tocava a música (e por isso não se ouviu) enão apareceu nenhum individuo estranho que pudesse apontar no sentidodo crime ter sido feito por algum elemento externo às personagens quese encontravam dentro de casa ou para lá foram.- ouviu-se o Tango dos Barbudos, o Fado das Trincheiras e depoisoutros temas de Fernando Farinha, portanto ou o crime ocorreu enquantotocava o Fado das Trincheiras ou o foi durante o Tango dos Barbudos eo criminoso fez questão de trocar a música quando esta acabou. Existemvárias versões destas músicas e não descarto que possa existir algumálbum especial que inclua as duas mas o facto de após o Fado dasTrincheiras ter tocado mais um monte de músicas de Fernando Farinha (otal miúdo da Bica, um natural do Barreiro como o autor) indicia queeste era um álbum só de Fernando Farinha e como tal, o Tango dosBarbudos seria de outro álbum que alguém teria trocado, restando saberse a vítima ou o assassino. Para responder a esta dúvida fui ouvir asreferidas canções. (um mero aparte para dizer que o meu gosto musicalem nada encaixa. tenho de pensar em fazer um problema que remeta paramúsica do século XXI.). O Fado das Trincheiras é. um Fado, temguitarrada do principio de fim e não vejo onde é que o ruído de umdisparo poderia passar despercebido, o que remete a realização docrime para o momento em que tocava o Tango dos Barbudos. Durante aduração do Tango propriamente dito não detectei um momento ideal paraesconder o disparo (embora o ritmo do tango me pareça bem melhor que odo fado) no entanto, na versão que achei e que me parece ser a que oveterano de guerra ouviria, o tango começa com o som de um disparo deartilharia, seguindo-se outros disparos, ricochetes e rajadas demetralhadora, o que me parece perfeito para camuflar um outro disparo,este na realidade. Assim sendo a conclusão é que foi o criminoso quemudou a música.- quando tocava o Tango dos Barbudos todos os suspeitos estavamjuntos na sala de jantar com a excepção de António e Adelino, ficandoportanto eles como principais suspeitos- António é o mais que provável criminoso pois é visto ir para dentrode casa pela porta principal antes da primeira música (mas não vai àsala de jantar) e a sair pela mesma porta pouco depois de começar asegunda música para depois entrar pela porta da cozinha. Assim sendoposiciona-se de forma perfeita para que seja ele a entrar no quarto dotio pôr a música a tocar e matá-lo ao som dos disparos da música,espera pelo fim da música e troca o álbum para que pensei que o tioainda estaria vivo e vai juntar-se aos outros na sala de jantar. Arazão para reclamar com as horas e fazer com que atrasem o relógio épara baralhar a investigação e provavelmente, com fé na capacidade domédico legista para dar uma hora precisa para a morte conseguir-sedeste modo ilibar-se (o criminoso deve ter visto demasiados CSI, poisna vida real dificilmente o intervalo é preciso ao minuto). Oposicionamento da arma na mão da vítima poderia ser uma tentativa deparecer suicídio mas se o homem não tinha dedos na mão a ideiaparece-me demasiado estúpida para sequer especular que seja mais doque um sitio em que ele decidiu deixar a arma.O detalhe das horas e do acerto do relógio permite não só ilibarAdelino como ainda contribui para salientar o envolvimento de Antóniona morte do seu tio:- o relógio estava certo inicialmente quando começou o Tango dosBarbudos e eram 11.40 embora as pessoas na sala tenham acabado pordizer ao detective que eram 11.25 por influencia de António que fezatrasar o relógio- O Tango dos Barbudos dura um pouco menos que 3 minutos e meio,juntando 3 minutos do Fados das Trincheiras, conclui-se que quandoAntónio entra na sala de jantar seriam cerca de 11.47 embora quemestava na sala tenha acabado por depor que seriam 11.32 (o textorefere que eles disseram que António chegou às 11.35, o que me parecesuficientemente próximo) por influência do atrasar de relógio induzidopor António.- Adelino chega 5 minutos depois, portanto às 11.52, embora as pessoasna sala de jantar tenham referido nos depoimentos que seriam 11.38devido ao atrasar do relógio. Os empregados dizem que Adelino voltou acavalo às 11.50 e com isto fica corroborado que de facto o relógio nãoestava adiantado mas sim certo pelo que António estava a tentarcamuflar as suas maroscas quando inventou que o relógio estavaadiantado induzindo todos os presentes na sala de jantar a deporincorrectamente as horas a que tudo se sucedia (estes aniversárioseram muito ritualísticos pelo que é natural que António soubesse quehabitualmente ninguém ali estaria com relógio para poder contradizê-losobre as horas certas). Para além disso este ponto também ilibaAdelino pois indica claramente que ele chegou às 11.50, hora em que oTango dos Barbudos já tinha tocado. Uma questão final se coloca com naturalidade: porque razão a policianão detectou que o relógio estava errado quando chegaram? A resposta ésimples: após comunicada a morte de Almerindo, todos correram para oseu quarto com excepção de António que chegou dois minutos depois,tempo mais do que suficiente para voltar a acertar o relógio e destemodo não permitir que ninguém descobrisse que ele estava a inventarquando disse que o relógio estava adiantado.
Mister H

Sem comentários: