A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
Problema # 14
O INSPECTOR FIDALGO E A
CASA ESTRANHA
Original
de: Luís Pessoa
Publicado
na secção POLICIÁRIO em: 15.Julho.1992
Era realmente uma casa muito estranha. Pertencia a um
antigo emigrante num
país nórdico, que ganhara, indiscutivelmente muito mais dinheiro do que bom
gosto. Parecia um castelo, com paredes altas e fechadas, com uma arquitectura
bastante discutível em termos estéticos.
O inspector Fidalgo ficou parado por
alguns momentos a admirar aquela obra bizarra. Para a estrada só se abria uma
porta estreita e duas pequenas janelas, ao nível do rés-do-chão, elevando-se,
daí para cima, uma parede compacta, sem qualquer abertura, até uma altura de
dois andares bem altos. Entre a estrada e a casa, estendia-se um jardim bem
cuidado, vedado por um muro baixo, onde assentava um gradeamento com cinco
metros de altura, e um portão igualmente alto. A parte de trás era em tudo
semelhante, com a diferença de que a parede era compacta até à altura do
primeiro andar e só depois se abriam janelas tímidas e pequenas. Digamos que a
arquitectura era a mesma mas inversa.
Dentro, o rés-do-chão era constituído por um imenso
salão, que abria para a frente e sem aberturas para trás e no andar de cima
ficavam os quartos, que davam para trás, sem qualquer janela ou varanda para a
frente.
Habitavam a casa o seu proprietário,
entrevado e por isso a dormir na sala, num sofá, porque já não conseguia subir
as escadas, e, no andar de cima, a governanta, mulher idosa e antipática, e o
filho do dono da casa.
Foi no rés-do-chão que se deu o
crime. Um tiro desferido a curta distância acabou com a vida do proprietário. O
filho não voltou a ser visto e a polícia andava em perseguição dele. A velha
estava em transe e quase não conseguia articular palavra.
Com muita calma e doses de
paciência, o inspector Fidalgo pôde recolher o seu depoimento:
- Eu estava a arrumar os quartos, lá
em cima quando ouvi uma explosão. Fui à janela para ver se sabia o que se
passava, mas apenas vi o filho do senhor a fechar o portão e a fugir, a correr,
pela estrada abaixo. Estranhei e vim cá a baixo e foi quando vi o senhor a
esvair-se em sangue, com uma bala na cabeça. Fiquei completamente louca, sem
saber o que devia fazer, e só quando pensei um bocadinho é que me lembrei que
devia chamar a polícia… Não encontrei arma nenhuma…
O inspector Fidalgo ficou pensativo
um momento, antes de fazer a sua opção…
A – O proprietário suicidou-se por estar farto de ser
um inválido.
B – O filho matou-o para herdar a
sua fortuna, julgando que não era descoberto.
C – A velha matou-o e inventou toda
a história para incriminar o filho da vítima.
D – A velha e o filho da vítima
estavam combinados para matar o velho.
Este problema já tem outras
características por ser um tanto descritivo o que constitui um obstáculo maior
para a sua decifração. Atenção, pois, e notem que num problema policiário
apenas conta aquilo que é e aquilo que não é, e nunca o que pode ser. Como
sempre, escolha a solução que julga acertada…
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Solução do autor: Publicada
em: 18.Julho.1992
C – A velha matou-o e inventou toda a história para
incriminar o filho da vítima.
Se
a casa não tinha janelas para a frente, no andar de cima, a velha nunca poderia
chegar à varanda e ver o filho da vítima a fechar o portão, etc…
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