segunda-feira, 23 de julho de 2012

JARTURICE OU... JARTURADA - 23

A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA


Problema # 21


O INSPECTOR FIDALGO E O CAÇADOR FURTIVO
Original de: Luís Pessoa Publicado na secção POLICIÁRIO em: 23.Julho.1992

Atirador de mérito, com muitos prémios ganhos nos torneios que levavam a cabo todos os anos, o inspector Fidalgo tinha uma particular aversão aos caçadores. Muito embora não fosse um defensor acérrimo da natureza e dos seus animais, não aceitava também as teorias do equilíbrio para justificar a caça, porque na verdade foi o homem que eliminou os animais carnívoros que deviam controlar as espécies de herbívoros e roedores e agora caçava em nome desse equilíbrio. E se o pretexto para caçar era o exercício físico, então correr fazia o mesmo efeito e não era preciso andar a perseguir os animais indefesos.

Para ele, já lhe bastava ter de andar atrás de criminosos e muitas vezes alvejá-los.

Naquele dia, o Jacinto tivera algum azar. Na realidade, eram tantos os caçadores e tão anarquicamente andavam pelo meio do mato que qualquer tiro podia acertar em qualquer deles. Calhou ao Jacinto, segundo parecia.

Na verdade, estendido no chão, por entre uns arbustos pequenos, o Jacinto fora alvejado, tendo morrido ali mesmo, ingloriamente.

O inspector Fidalgo debruçou-se sobre o corpo e observou o peito nu da vítima, onde se via a marca do impacto mortal, mesmo em cheio. Provavelmente rumo ao coração.

- Um tiro certeiro… - pensou.

A pouco e pouco, iam-se juntando os caçadores que comentavam o ocorrido dizendo que havia montes de inconscientes que atiravam sobre tudo o que se movia. Não distinguiam uma lebre ou um coelho, que era sobre o que deviam atirar, de uma pessoa. E um coro de vozes levantou-se para condenar as autoridades que concediam licenças de qualquer maneira e feitio.

Pela posição do cadáver e tendo em atenção a morfologia do terreno, era fácil verificar que o disparo mortal não ocorrera a mais de oito metros de distância e o inspector Fidalgo não sabia por onde começar. Na realidade, nem sabia porque estava ali, porque toda a gente falava de acidentes de caça e isso já nem notícia era.

A pouco e pouco, uma pequena multidão foi-se juntando, quase todos numa atitude de resignação e de quase alegria e aceitação, principalmente por não terem sido eles os contemplados.

Foi então que alguém se adiantou aos demais e se dirigiu ao inspector:

- Inspector, chamo-me Nelo e sou caçador há muitos anos, muito antes de haver estas carnificinas e da época em que havia um código de honra entre os caçadores. Não sei se o inspector é caçador ou conhece a caça, mas quero-lhe chamar a atenção para uma pequena particularidade que o pode ajudar a resolver esta caso…


A – Nelo queria dizer ao inspector que o morto não era caçador.
B – O Nelo indicou ao inspector que uma caçadeira nunca poderia matar um homem.
C – O Nelo disse ao inspector que uma caçadeira nunca faria um ferimento daqueles.
D – O Nelo explicou que nunca um caçador agiria daquela maneira imprudente e nunca um acidente daqueles poderia acontecer.

Se é caçador, está em vantagem, mas não muita…

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Solução do autor: Publicada em: 25.Julho.1992




C - O Nelo disse ao inspector que uma caçadeira nunca faria um ferimento daqueles.


O que o Nelo queria dizer ao inspector era que um tiro de caçadeira a oito metros de distância nunca poderia deixar apenas um orifício na vítima. A dispersão do chumbo deixaria ficar uma imensidão de pequenos furinhos.

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