A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
O INSPECTOR QUEIXINHAS E O MILIONÁRIO
Original de: Luís Pessoa Publicado na secção POLICIÁRIO em: 25.Julho.1992
O inspector Queixinhas examinava de novo o corpo do milionário Pedro Reis que tinha sido encontrado pela empregada numa das salas secretas por trás dos espelhos. Tinha sido esfaqueado, cerca das 16h30. O inspector tinha já resolvido muitos casos, mas este parecia insolúvel.
Pedro Reis era dono de diversas fábricas. A sua casa era muito invulgar. Tinha uma grande sala rodeada de espelhos apenas interrompidos pela porta que dava para o corredor de entrada. Atrás dos espelhos, havia divisórias secretas que eram invisíveis do exterior mas de onde era possível ver a sala.
Foi numa dessas divisórias que foi encontrado o corpo. Na sala havia umas escadas que davam acesso a uma galeria, no piso superior, da qual se via a sala, excepto a parede por baixo, precisamente a da porta de saída.
Era preciso começar por interrogar as únicas duas pessoas encontradas na casa, a empregada e o João Zeco.
Empregada: “Às quatro e meia, eu ia avisar o senhor Reis que havia visita para ele. Entrei pela porta que liga a cozinha à sala secreta onde ele se encontrava e vi-o morto. É tudo o que sei.”
- Quantas portas para o exterior, tem a casa?
Empregada: “Tem duas. A principal e a das traseiras que dá para a cozinha.”
- Conhecia o senhor João Zeco?
Empregada: “Não. Nunca tinha vindo cá a casa. Mandei-o esperar na galeria do 1.º andar.”
- E ate às 16h30estave sempre na cozinha?
Empregada: “Não. Depois de mandar o senhor Zeco entrar, fui dar um recado urgente ao jardineiro e demorei-me lá uns dez minutos.”
João Zeco: “Trabalho na fábrica do senhor Reis e vim aqui porque ele me mandou chamar. Disse que queria falar comigo sobre uma possível promoção. Mandaram-me esperar na galeria. Subi e fiquei ali alguns minutos a observar aquela estranha e fantástica sala. De repente, olhei para a parede em frente e vi um homem virado para mim. Logo a seguir, ouvi um grito da empregada vindo de trás dos espelhos. Fiquei assustado. Mas depois voltei a olhar e já não vi ninguém.”
- Como era esse homem?
João Zeco: “Era gordo e… não tinha o braço direito. Estou certo disso!”
O inspector Queixinhas procurou suspeitos e tratou de os interrogar; eram dois e a qualquer deles faltava um braço
Luís Neves: “O braço direito perdi-o num acidente há muito tempo. E realmente não me dava muito bem com o Reis. Pode até dizer que eu o queria matar, mas não o fiz. Tenho um álibi. Muita gente me viu na reunião da empresa. Estive lá a tarde inteira a tratar de uns assuntos.”
José Ricato: “Eu estava irritado com ele. Mas não posso ter sido eu. O senhor disse que tinha sido uma pessoa sem o braço direito. Eu não tenho o esquerdo, logo não me pode incriminar. Em todo o caso fui passear pelo campo e, embora ninguém me tenha visto, digo-lhe que estou inocente.”
Depois de investigar, o inspector descobriu que o crime foi cometido entre as 16h20 e as 16h30. A mulher do jardineiro disse ter visto um homem a sair pela porta da cozinha, enquanto o marido falava com a empregada. Segundo o depoimento desta mulher, esse homem voltou a entrar, pela porta principal, para, poucos instantes depois, sair a correr.
O inspector pensou. Este homem misterioso, ao ver para dentro da sala, terá suposto que também uma testemunha do interior o poderia ver a ele? E, nesse caso, terá pensado eliminar a testemunha mas acabado por fugir ao ouvir o grito da empregada?
O inspector Queixinhas já tinha as suas ideias…
Pergunta-se:
Quem matou o milionário?
Que indícios podem incriminá-lo?
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Solução do autor: Publicada em: 15.Agosto.1992
O Inspector Queixinhas, concluiu que o culpado fora José Ricato. Tinha motivo e possibilidade matar o milionário e era o único sem álibi. A sua única defesa era não ter o braço esquerdo, quando o João Zeco viu um homem sem o direito, mas isso também tem uma explicação: José Ricato, depois de cometer o crime, voltou pela porta principal. Mal entrou na sala, João Zeco, na galeria mesmo por cima dele, viu a imagem do Ricato reflectida no espelho. Essa imagem é invertida e, portanto, quando ele afirma que é o braço direito, trata-se na verdade do braço esquerdo.
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