[Transcrição da secção n.º 1226 publicada
hoje no jornal PÚBLICO]
DE
MIAMI PARA LISBOA: HOMICÍDIO OU SUICÍDIO?
Iniciamos mais uma época
de competição, em pleno voo de Miami para Lisboa, na companhia do Inspector
João Velhote, alguns passageiros, uma vítima que não chegou viva a terra e um possível
homicida!
Fiquemos com um problema
de autoria de um novo produtor, Rigor Mortis, a quem saudamos pela sua
experiência no mundo da produção de enigmas.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2015
PROVA
N.º 1 – PARTE I
“MORTE
NOS CÉUS” – Original de RIGOR MORTIS
Enfiando o saco de viagem
na bagageira, o inspector João Velhote olhou à sua volta. O avião não estaria
mais que meio cheio, o que era surpreendente, numa viagem de Miami para Lisboa,
naquela época do ano. Antes assim! No fim de uns dias de férias para
descontrair, tinha receado encontrar no regresso um avião cheio de ruidosos e ebulientes
veraneantes…
Talvez por deformação
profissional, observou com atenção os passageiros mais próximos do seu assento,
na coxia esquerda da primeira fila do bloco central da turística. À direita,
depois de uma cadeira vazia, uma mulher na casa dos quarenta, com uma jovem
adolescente tremendamente bronzeada. À esquerda um casal, à conversa com outro
casal sentado logo atrás, todos na casa dos vinte. Atrás deles e atrás de si,
duas filas vazias.
Sentou-se, colocando o
livro que escolhera para ler durante a viagem na bolsa à sua frente, enquanto
ia ouvindo os passageiros à sua esquerda, sem prestar grande atenção. Dois
jovens casais em busca de aventuras… Provavelmente de vários tipos… Bom, talvez
estivesse a exagerar, mas algumas indirectas picantes das jovens, manifestamente
bem dispostas, dirigidas ao homem sentado na coxia logo ao seu lado, bem
parecido e de porte atlético… Sobretudo da que estava sentada na coxia da fila
atrás da sua…
Ignorando-os, deixou-se
afundar na sua cadeira e fechou os olhos…
…Acordou sobressaltado,
ao som de uma babel de vozes alteradas. Quanto tempo dormira? Olhou para o
relógio e surpreendeu-se ao notar que já tinham mais de quatro horas de voo. Lá
se fora o jantar…
– “Arrombem a porta! Está
a sair sangue por baixo da porta!”
Logo à frente, do seu
lado esquerdo, vários passageiros e duas hospedeiras acotovelavam-se junto à
porta do lavabo. Levantou-se da sua cadeira ao mesmo tempo que um passageiro metia
o ombro e forçava a porta do lavabo.
– “Quietos!” – gritou –
“Não entrem aí!”
Cedendo aos seus
instintos profissionais, afastou os passageiros da entrada do lavabo,
surpreendidos pelo seu grito, antes de qualquer deles lá entrar. E, empurrando
um pouco mais a porta, olhou lá para dentro. A cena era terrível. Uma mulher,
sentada na sanita mas totalmente vestida, com a cabeça caída sobre o peito e os
braços à frente dos joelhos, estava esvaída em sangue, com ambos os pulsos
profundamente cortados. O pequeno lavatório estava cheio e o chão coberto do
sangue dela, mas via-se o cabo de uma faca sobre um dos pés. Era a jovem que se
tinha sentado na coxia da fila de trás, à sua esquerda.
Com a ajuda do comissário
de bordo e das hospedeiras, lá conseguiu que todos os passageiros se sentassem,
visivelmente angustiados e inquietos. João Velhote identificou-se como
inspector da polícia e aproveitou para fazer de imediato algumas perguntas.
As hospedeiras
confirmaram que a porta do lavabo estava trancada por dentro, tendo sido
alertadas por um passageiro de que assim estava há mais de meia hora. E sim, de
facto o jantar já tinha sido servido há um grande bocado, bem antes de se terem
reduzido as luzes no interior do avião.
– “Que raio de sítio para
se suicidar”, comentou uma delas.
O companheiro da jovem
morta, Sérgio, disse-lhe que a relação entre ambos não ia muito bem. Durante
toda a estadia nas Bahamas, a companheira, Mónica, tinha-se mostrado muito
esquiva em relação a si, apesar de ter sido ela a sugerir que os quatro fossem
aí passar uma semana. Ele interpretara essa sugestão da Mónica como uma
oportunidade que ela estaria a criar para intensificar a relação entre os dois,
muito ardorosa no passado recente. Claro que se não tivesse sido a Anabela a
pagar, nem ele nem a Mónica teriam possibilidade de o fazer, já que o que
recebiam dos empregos que tinham não dava para isso.
– “Disse-lhe ontem à
noite que seria melhor acabar a relação, se essa era a sua vontade”, concluiu.
A outra jovem do grupo, Anabela,
muito chorosa, confirmou que a ideia daquelas férias tinha sido da Mónica, numa
espécie de despedida de solteira, já que a Anabela e o Roberto, o jovem que a
acompanhava, se iam casar dentro de algumas semanas. Tinha sido uma excelente
semana de férias. Sim, bastante cara, mas as despesas não eram um grande
problema para ela, pois o pai, milionário, dava-lhe uma mesada muito generosa,
mais que suficiente para tal.
O Roberto, o passageiro
que tinha arrombado a porta do lavabo, disse não estar muito surpreendido, já
que a Mónica lhe tinha confessado estar a viver uma fase muito má na sua
relação com o Sérgio. Era estagiário numa empresa do pai da Anabela, de quem
estava noivo, e ansioso pelo casamento. A Mónica? Apenas amigos de há algum
tempo. Tinham namoriscado no início, mas deixara-se disso quando conhecera a
Anabela.
O comissário de bordo
veio dizer ao João Velhote que o avião ia começar a sua descida para Lisboa e
que, portanto, todos tinham que se sentar e apertar os cintos. Referiu-lhe que
o comandante já tinha contactado Lisboa para lhes dizer ter ocorrido um
suicídio a bordo.
– “Ainda bem”, disse João
Velhote, “espero bem que seja a polícia a vir a bordo.”
– “A polícia? Bom,
suponho que sim, mas não me parece que haja muito a investigar, já que se
tratou claramente de um suicídio.”
– “Diz você”, retorquiu o
inspector, mordiscando o lábio superior e expondo os incisivos inferiores por
baixo do bigode grisalho, como sempre fazia quando mentalmente resolvia algum
caso, “mas parece-me bem que não. Acho que foi um homicídio, e a polícia terá
bastante trabalho a analisar a cena do crime, para encontrar as provas
necessárias. Mas encontrá-las-á decerto e confirmará as
minhas suspeitas de quem foi o assassino.”
–“Homicídio? Como, se a
porta do lavabo estava trancada por dentro e só o cadáver lá se encontrava?!”
– “Custa-me a acreditar
que um comissário de bordo experiente como você pense assim…” disse o inspector
João Velhote com um sorriso maroto.
Perguntas:
Suicídio? Ou homicídio?
De que é que o inspector
João Velhote suspeitava?
E pronto!
Resta
aos nossos “detectives” darem as respostas, impreterivelmente até ao próximo
dia 28 de Fevereiro, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
-
Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-
Por e-mail para um dos endereços:
-
Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções!
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