domingo, 15 de março de 2015

POLICIÁRIO 1232

[Transcrição da secção n.º 1232 publicada 

hoje no jornal PÚBLICO]

PRIMEIRAS SOLUÇÕES DE 2015

Entramos numa nova fase das competições deste ano, com a publicação das primeiras soluções oficiais, ou seja, as soluções que foram dadas pelos próprios autores.
Relembramos que não é taxativo que apenas sejam consideradas correctas e merecedoras da totalidade da pontuação as soluções semelhantes às dos autores. O que é regra entre nós é que nenhum concorrente será penalizado por uma resposta idêntica à do autor, mesmo que depois venha a ser considerada incorrecta. Uma vez que o problema foi aceite com aquela solução, ela permanecerá válida para efeitos de pontuação.
No entanto, serão igualmente consideradas válidas, aquelas que estiverem devidamente fundamentadas e que cheguem a conclusões diversas do autor.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2015
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 1 – PARTE I
“MORTE NOS CÉUS” – Original de RIGOR MORTIS

 A faca utilizada para cortar os pulsos da Mónica, que estava aos seus pés, só podia ter sido retirada de um tabuleiro da refeição servida a bordo. Cortar profundamente ambos os pulsos com uma faca relativamente pouco afiada, como são as que se utilizam nesses tabuleiros, teria sido praticamente impossível para a Mónica. Talvez conseguisse cortar um deles, mas a seguir, com a emoção e a perda de sangue, certamente não conseguiria o outro. Além disso, ele próprio tinha ouvido os comentários picantes e bem dispostos da Mónica, antes de o avião levantar voo, nada condicentes com alguém que estivesse à beira de uma depressão tão profunda que levasse ao suicídio. Mas outra pessoa poderia ter cortado os pulsos da Mónica, fazendo-a antes desmaiar com uma pancada na cabeça, ou simplesmente sufocando-a até perder os sentidos. Com algum cuidado e com a ajuda do lavatório existente no lavabo, poderia até fazê-lo sem se sujar quase nada com o sangue da vítima. Quanto ao facto de o lavabo estar trancado, o comissário de bordo, experiente sem dúvida, saberia com certeza que as portas dos lavabos de um avião podem ser abertas ou trancadas por fora, bastando para tal levantar a pequena placa com a etiqueta “Lavatory” e pressionando o trinco manualmente. Ainda que não fosse suposto que qualquer passageiro o fizesse… Claro que isso significava que a Mónica tinha entrado no lavabo com alguém, de sua livre vontade, aproveitando a relativa escuridão da cabina do avião, com as luzes desligadas para facilitar o sono aos passageiros. Muito possível, se ela fosse sexualmente tão ardorosa como o Sérgio referira.
Quem? O Sérgio não, seguramente, depois de uma semana a esquivar-se dele. Muito possivelmente o Roberto… Se este a seduzisse para fazerem parte do “milehigh club” aproveitando o facto de os respectivos companheiros estarem a dormir, como a maioria dos passageiros… Roberto que, embora tivesse cedido aos encantos da Mónica durante a estadia nas Bahamas – ideia dela, não para reatar a relação com o Sérgio, mas precisamente para seduzir o Roberto – teria todas as razões para acabar de vez com a relação, já que o casamento com a Anabela lhe seria muito mais vantajoso, financeiramente falando. Um suicídio viria mesmo a calhar… Para um homem de porte atlético como ele, dominar fisicamente a Mónica não seria difícil. E algum vestígio de sangue que porventura lhe tivesse ido parar à roupa seria facilmente explicado se fosse ele mesmo o primeiro a entrar no lavabo e a pegar no corpo da Mónica. Uma análise forense cuidadosa encontraria muito provavelmente sinais de uma pancada na cabeça da Mónica, ou do seu sufocamento, bem como algum vestígio de sangue na roupa do Roberto, além de alguma impressão digital deste no interior do lavabo, ou mesmo na faca.


PROVA N.º 1 – PARTE II
“UM CRIME NO ALENTEJO” – Original de RIP KIRBY

Alínea C – O Assassino foi o Vítor.

No meu quarto, junto da minha cama, existe um relógio do tipo do usado neste problema.
Uma noite destas, ao entrar no quarto, vi o mostrador a piscar e isso deu-me a ideia para este problema. Contudo tenho uma vaga impressão de que a ideia não é inteiramente original, mas actualmente quase que é impossível encontrar algo que seja verdadeiramente original.
As velas, meio consumidas, sobre a secretária no posto da GNR fazem-nos pensar que naquele dia aconteceu um corte na corrente eléctrica na rede da zona. Essa convicção mais se acentua quando ao chegarmos ao quarto da vítima vimos o relógio eléctrico com o mostrador piscando, o que é sinal de que a energia faltou.
Não é vulgar um posto da GNR ser iluminado por velas pelo que é de acreditar que as velas que lá vimos por altura do telefonema eram novas quando lá foram colocadas. Como vimos, elas estavam meio consumidas, o que indica que elas estiveram acesas durante cerca de duas horas. O mostrador do relógio piscando no quarto da vítima marca 00:40, o que significa que a corrente eléctrica votou 40 minutos antes.
Considerando o tempo calculado que as velas no posto da GNR estiveram a arder e a hora marcada no relógio, concluímos que o corte de corrente teria durado cerca de duas horas – o que é confirmado pela Fulgência, que não serviu o chá às 17h00, como de costume, por isso não ser possível. Naturalmente por estar às escuras. Em Dezembro num dia de temporal às 17 horas praticamente já é noite.
Esta explanação tem por finalidade apenas justificar a resposta certa.
Leonardo respondeu que desde as 16h00 estivera na varanda observando a fúria da natureza. Pode parecer uma resposta descabelada, mas eu muitas vezes, quando tenho oportunidade, faço isso, pelo que considero uma resposta aceitável. Na verdade, uma tempestade, embora perigosa, é digna de ser admirada.
Paulo afirmou que tinha chegado a casa cerca das 17h00 e já chovia a bom chover. Tomou um banho e vestiu-se como nós o vimos. A roupa molhada, no quarto de banho, é a confirmação daquilo que ele diz. Claro que isto não seria impeditivo para que ele fosse o autor do crime, mas como não temos nada mais evidente deixamos este suspeito em suspenso.
Não encontramos qualquer motivo para acusar a Fulgência, mas tal como no caso anterior também nada impede que ela tenha a sua própria culpa.
Finalmente o Vítor, que afirma ter estado toda a tarde a fazer um trabalho no computador. Como vimos, no quarto dele há um computador de secretária que precisa de energia eléctrica para trabalhar.
Portanto não havendo energia desde perto das 17h00 concluímos que Vítor está a mentir; logo, a solução certa deste problema encontra-se na alínea C — O Assassino foi o Vítor.


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