- Tenho medo
que haja acontecido alguma coisa de horrível. Sei que meu irmão está lá dentro.
Ele estava à minha espera pela manhã. Desde que cheguei, senti um forte cheiro
a gás. Bati à porta, mas ninguém me respondeu. Então, cheia de medo, não tendo
coragem de entrar na sala, preferi chamá-los…
O
colaborador do inspector Fauvel aproximou-se da porta que dava para o interior
do apartamento. Estava fechada à chave com duas voltas e a chave na fechadura.
Foi-lhe preciso um certo esforço para a abrir. Quando o conseguiu, espalhou-se
no ambiente um forte cheiro a gás que fez tossir o inspector, o seu ajudante e
a irmã do dono da casa. Repararam então que a porta estava cuidadosamente
calafetada por dentro, o mesmo sucedendo à janela.
O inspector
Fauvel entrou na sala e viu logo o corpo de Roberto Duval, estendido sobre o
divã, no estúdio. A morte havia feito, já há muito, a sua obra… O gás
continuava a sair do tubo do radiador de que havia sido aberta a torneira.
Cautelosamente, o inspector fechou-a. Depois, rapidamente abriu as janelas da
sala e começou a examinar tudo com muito cuidado. Deteve-se mais demoradamente
junto de uma das janelas onde havia sinais de pegadas:
- Olá! –
exclamou ele, debruçando-se sobre uma folha de papel muito visivelmente posta
em evidência sobre a prateleira do fogão.
Nela podiam
ler-se algumas linhas escritas pelo dono da casa. (A irmã identificou logo a
letra como sendo a dele).
O infeliz
havia escrito o que se segue:
«Julien Mandeau
deve vir procurar-me agora. Estamos de relações cortadas; odiamo-nos e ele não
me perdoa o que chama «a minha traição». Espero que a nossa discussão não seja
muito violenta. De qualquer modo, se me acontecer alguma coisa de mal, será ele
o culpado».
O inspector
pousou a folha de papel em cima da mesa e dirigiu-se depois para junto do corpo
de Duval. Tirou o lenço de seda apertado em volta do seu pescoço e colocou-o sobre
o rosto calmo do morto.
Entretanto,
o ajudante de Fauvel, lera também o que estava escrito na folha de papel e,
depois de pensar um momento, disse para o seu chefe:
- Não há
dúvida… Agora já sei o que nos resta fazer… Julien Mandeau bem pode preparar-se
porque vai passar um mau quarto de hora…
-
Parece-lhe? – perguntou o inspector, distraidamente. É claro que ele poderá
dizer-nos algumas coisas interessantes. Mas não vejo em que é que ele possa
estar metido nisto. A verdade é que não foi cometido crime algum, não é
verdade?
Que teria levado o inspector Fauvel a pensar
assim e a pronunciar-se de forma tão enigmática?
(Divulgaremos amanhã, a solução
oficial deste caso)
* *
* * *
Solução do problema # 118
(Diário Popular #
4953 – 21.07.1956)
As duas pessoas citadas estavam fora de causa. Com efeito, a bailarina fôra assassinada entre os dois e os cinco minutos depois da meia-noite. Ora, Warson e «Miss» Bryand tinham começado a fazer as contas às 23 e 45. Ora, mesmo unindo os seus esforços e trabalhando muito depressa, o mínimo de tempo necessário para as fazer seriam 20 minutos. Logo, nenhum deles poderia estar livre antes da meia-noite e cinco…
Jarturice-119 (Divulgada
em 30.Abril.2015)