PROBLEMAS POLICIAIS – 120 - # 117
(Diário Popular # 4946 – 14.07.1956)
«Levei os últimos convidados e membros da equipagem para terra cerca da
uma hora e meia da madrugada» - respondeu o contramestre Raoul Durand, quando
foi interrogado pelo inspector Fauvel. Acrescentou que o proprietário do
«Pirata» - um magnífico iate que se balouçava docemente nas águas – dormia
sempre sozinho, a bordo, no seu camarote, quando andava em viagem, de cruzeiro.
Disse depois:
«Esta manhã, às nove horas, como me tinha
recomendado o senhor Rinassisos, voltei para junto do iate e chamei repetidas
vezes, mas em vão.
Ninguém me respondeu.
Como não conseguisse acordá-lo e receando
que lhe tivesse acontecido alguma coisa, voltei a terra para avisar a
Polícia…».
Com uma grande habilidade (e evidenciando,
também, uma força hercúlea) Raoul Durand, servindo-se da corrente da âncora,
conseguiu içar-se e subir para a ponte do «Pirata», de onde estendeu, depois,
uma escada de corda para que Fauvel, que esperava na lancha, pudesse subir. O Inspector,
também demonstrando muita ligeireza, subiu rapidamente pela escada de corda.
No salão grande do iate, os dois homens
foram encontrar Rinassisos, o rico armador sírio, afundado num «maple» - e
morto. Um revólver de calibre 22 estava caído no chão. Uma cápsula de bala
havia sido projectada e tinha rolado para longe do «maple», perto da porta.
Rinassisos, que apresentava um horrível ferimento na fronte, havia tido,
certamente, morte instantânea. Na mesa próxima, estava uma folha de papel na
qual se podia ler esta frase um pouco disparatada e escrita com letra fina e
apressada:
«Vou suicidar-me dentro de momentos para demonstrar a filosofia da futilidade e a futilidade da
filosofia».
O Inspector ficou a pensar no que via.
Depois, procurou nos bolsos do casaco do morto, sobre os móveis e no chão, mas
não foi capaz de encontrar qualquer caneta de tinta permanente.
O inquérito prosseguiu toda a manhã.
Todas as pessoas que tinham estado a bordo
do «Pirata» na noite anterior haviam podido provar o seu emprego de tempo entre
a uma e meia e as três horas da madrugada, espaço durante o qual se devia ter
dado a morte do excêntrico milionário. Todas, não. Um dos convidados, não tinha
álibi. Era Lucien Le Normand, que, na opinião de todos os outros, estava
completamente embriagado quando saíu de bordo. Alguns afirmaram que ele, à
partida, tinha rugido tremendas ameaças contra Rinassisos. E citavam até as
suas frases: «Se ele recomeçar, não hesitarei em lhe partir a cabeça! Hei-de
mostrar a esse velho pirata que deve saber respeitar-se a noiva de um amigo.
Sim, por que ele andou a meter-se com a minha rapariga, eu sei-o» …
Lucien Le Normand não negava estes factos,
mas tentava explicar ao inspector: «Não me lembro absolutamente de nada entre o
momento em que tive a questão com ele a bordo e aquele em que entrei em minha casa.
Sei bem que não posso ter álibi. Mas espero que o Inspector não vá supor que eu…»
Fauvel, com um sorriso amarelo, fez-lhe
sinal para que se calasse.
No lugar do inspector, que fazia o leitor?
Ter-se-ia inclinado para o suicídio? Ou para o crime? Teria prendido Le Normand
– ou tê-lo-ia deixado em liberdade?
E porquê?
(Divulgaremos amanhã, a solução
oficial deste caso)
* *
* * *
Solução do problema # 116
(Diário Popular #
4939 – 07.07.1956)
Bacaud mentira. Se ele tivesse falado
verdade, devia ter sido obrigado a andar sobre o sangue que se encontrava no
chão do átrio. E como lá não havia pegadas, não era verdade que ele tivesse
entrado pela porta principal e tivesse pegado na mulher caída no solo. Por
força, deveria ter deixado ali marcas dos pés.
Jarturice-117 (Divulgada em 28.Abril.2015)
DIVULGAÇÃO E APRESENTAÇÃO
DE: J A R T U R
jarturmamede@aeiou.pt
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