PROBLEMAS POLICIAIS – 118 - # 115
(Diário Popular # 4932 – 30.06.1956)
- Julgava que ela tinha sido vítima duma indisposição… - explicava
Raymond Bourd ao Inspector Fauvel.
-
Mas como é que você percebeu? – perguntou-lhe o inspector.
- É muito simples. – respondeu Bourd – O
prédio só tem quatro grandes apartamentos. Gabrielle Masson vive no primeiro
andar; o segundo está vago e eu moro no terceiro. A porteira vive no rés-do-chão
com a família. Quando eu pus o aparelho de rádio a tocar, eram precisamente 18
horas. Estavam a dar o sinal horário. Foi nesse momento que cheguei à janela e
vi Paulette Renoir chegar ao volante do seu automóvel pequenino. Gabrielle saiu
do carro e parecia muito doente quando entrou na porta da escada. Entretanto,
Paulette voltou a pôr o carro em marcha e foi-se embora. Um minuto depois, ouvi
Gabrielle fechar a porta do seu apartamento. Não voltei a pensar no caso, até
porque só conhecia a rapariga de vista…
- Está
enganado, senhor Bourd – interrompeu Victorine Roche, uma senhora de idade que
estava ao corrente de tudo o que se passava (no prédio e nas vizinhanças…) e
que vivia no primeiro andar do prédio em frente.
E continuou:
- Eu também
estava à janela quando chegou o automóvel. Ora, eu conheço bem a Paulette,
embora só de vista. Por isso, posso dizer que não era ela quem guiava o carro.
Era uma outra rapariga que já tenho visto em casa de Gabrielle, uma tal Hélène
Lack. Não vinha homem nenhum no automóvel. Eu sabia pela porteira que Gabrielle
levava agora uma vida um bocado desordenada… Mas nunca pensei que ela acabasse
tão tragicamente!
Tão
tragicamente! A boa senhora calara-se e o inspector ficara a pensar nas suas
palavras. Gabrielle fora encontrada morta no seu quarto, nessa mesma noite. Uma
amiga batera à porta longo tempo, em vão. Chamara a porteira. Ambas haviam
desconfiado de qualquer coisa.
Foi então que chamaram a Polícia. À
primeira vista, parecia que Gabrielle, regressada de um «cock-tail», onde
certamente havia bebido demasiado, se tinha enganado, ao tomar um medicamento,
e se envenenara.
- Peço desculpa, senhora Victorine
Roche – disse, então, Raymond Bourd – mas quer parecer-me que se neste caso
alguém se engana, não sou eu…
- Tem a certeza de que o automóvel
era o de Paulette Renoir? – perguntou o inspector à vizinha do prédio da
frente.
- Isso não posso afirmar com
segurança. – respondeu ela – Não percebo nada de automóveis. Mas se há alguém
enganado nesta história, tenho a certeza de que é o senhor Bourd. Eu sei bem o
que digo…
O inspector interrompeu então os
dois para dizer em voz seca, cortante:
- Um dos dois está a mentir
deliberadamente. Quando tiver terminado o inquérito, saberei porquê.
Qual dos dois mentiria? E como é que o inspector o
descobriu?
(Divulgaremos amanhã, a solução
oficial deste caso)
* *
* * *
Solução do problema # 114
(Diário Popular #
4925 – 23.06.1956)
Numa carta dirigida a uma mulher nunca se
diria «a sua filha e a mãe dela»… Pois, neste caso, a mãe era a pessoa a quem a
carta era endereçada. Aquele que escrevera a carta teria então dito: «a sua
filha e você»… Mas já é possível, escrevendo a um homem, dizer: «a sua filha e
a mãe dela»…
Jarturice-115
(Divulgada em 26.Abril.2015)
DE: J A R T U R
jarturmamede@aeiou.pt
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