domingo, 20 de setembro de 2015

POLICIÁRIO 1259



Hoje vamos “desatar” a meada que os confrades Búfalos Associados nos trouxeram com a sua produção e verificar, no outro desafio, qual dos espiões era mesmo um “infiltrado”!
Isto quer dizer que vamos ter acesso às soluções dos dois desafios da prova n.º 7 e assim darmos mais um passo em frente para encontrarmos os vencedores da época.
Chamamos a atenção dos nossos “detectives” para a publicação dos resultados das diversas provas – e brevemente também desta - que podem ser consultados no blogue Crime Público, em http://blogs.publico.pt/policiario ou na página Clube de Detectives do confrade Daniel Falcão, em http://clubededetectives.net .


CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2015
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 7

PARTE I – “SANGRIA DESATADA” – Original de BÚFALOS ASSOCIADOS


            Primeira questão: terá sido suicídio ou crime? E neste caso, quem pode ter sido o assassino? Na verdade todos os que rodeavam o Bairrada podiam ter motivos para o matar.
            Comecemos pelo pessoal da casa. O Palmela, a Ermelinda e o Borba apresentaram alibis credíveis para o período entre o fim do jantar de sábado e as sete e meia da manhã de domingo e estão portanto ilibados. O Alvarinho apresentou o testemunho de uma senhora casada e de posição que, depois de muitas hesitações, declarou ter estado com ele até às seis horas da manhã. A ser verdade, também não podemos incriminá-lo de autor da morte do pai, a qual, segundo a polícia, ter-se-á verificado antes daquela hora. E note-se que, uma senhora que mostrou relutância em assumir um comportamento menos correcto, não deve ter mentido pois comprometeria deveras e em vão a sua reputação. É de crer que só o afirmaria sendo verdade.
            O Bairrada, perturbado e desiludido da vida, ameaçava há uns tempos suicidar-se. Foi o que terá feito naquela noite em que sabia estar sozinho em casa. Pela madrugada, terá aberto as torneiras da água quente, meteu-se na banheira e cortou as artérias ulnar com um "x-acto" de forma a perder sangue até à morte por esvaimento. A perda de consciência e a morte terão feito submergir a cabeça. Foi assim que o mordomo o encontrou, o que aparentemente poderia indicar ter sido afogado por alguém que lhe tivesse empurrado a cabeça para debaixo de água. Mas a própria polícia veio a eliminar essa hipótese ao determinar a causa da morte: perda de sangue e não afogamento. Sinal de que nos pulmões não foram encontrados vestígios de água. Suicídio, portanto, pois já estaria morto quando a cabeça mergulhou.
            Vejamos agora o que terá acontecido ao recheio do cofre. Comecemos por pontuar a mensagem deixada pelo Bairrada:
            "Deixo esta vida e não levo saudades vossas. Quem for esperto encontrará no cofre tudo o que tenho. A chave está lá. O segredo é:
            à esquerda o de cima para cima e em baixo sobe um;
            depois em cima desce um e os quatro de baixo sobem; 
            depois em cima desce um e em baixo só sobem dois;
            depois só em baixo sobem quatro, em cima nada desce."

            O inspector, recordando-se da influência do Japão e dos seus costumes naquela família, não teve dificuldade em reconhecer o registo de quatro dígitos tal como seriam marcados num ábaco, instrumento usado sobretudo no Oriente (Japão, China, ou Coreia, por exemplo) para executar operações aritméticas de adição, subtração, multiplicação e divisão. O cofre aberto mostrava ainda marcado o segredo, que conferia com a mensagem encontrada: 1974. Afinal tinha razão quem sugerira uma data importante para o Bairrada.
            Expliquemos melhor: O ábaco (no Japão, Soroban) é um instrumento utilizado como máquina de calcular, constituído por um quadro, normalmente de madeira, chamado"waqu" dentro do qual há várias pequenas barras verticais ("keta") nas quais deslizam pequenas bolas que têm valores definidos. Uma barra horizontal ("hari") divide as bolas superiores (apenas uma em cada keta e com o valor de 5 unidades) das bolas inferiores (quatro em cada keta e com o valor de 1 unidade cada). Assim, em cada barra (keta), somando os valores das bolas, podemos
encontrar um total máximo de 9 unidades. O registo de um valor faz-se encostando as bolas à barra horizontal, ou seja, as de cima descendo e as de baixo subindo. Aplicando ao nosso problema e à mensagem do Bairrada, temos:
            À esquerda sobe só uma bola das de baixo: 1
            Depois desce uma bola de cima (5) e sobem quatro de baixo, total: 5 + 4 = 9
            Depois desce uma bola de cima (5) e sobem duas de baixo, total: 5 + 2 = 7
            Depois sobem apenas as quatro bolas de baixo, total: 4
            Só o Alvarinho, por ter feito os seus estudos no Japão, onde ainda hoje se usa o Soroban em substituição das calculadoras, estaria em princípio habilitado a facilmente decifrar o enigma e abrir o cofre.
             Note-se que o filho teve muito tempo para esvaziar o cofre, antes do regresso do mordomo às sete e meia. Terá chegado muito antes das sete, abriu com a sua chave, deu com o espectáculo da água em cascata, subiu as escadas, viu o pai que já estava morto e no quarto ao lado encontrou a mensagem. Resolveu então aproveitar o ensejo, meter num saco o recheio do cofre e debandar deixando a porta da rua no trinco e as pegadas na saída. Esqueceu-se foi de destruir a mensagem que o "acusaria" do roubo. Ou talvez tivesse pensado que assim não ficariam dúvidas sobre o suicídio. Mas sobre o roubo também não ficaram. Resta referir que afinal o Bairrada não tinha chegado a fazer qualquer testamento, para mal dos bombeiros. E do Alvarinho, que não deixou de ser acusado de roubo pelo Ministério Público.


PARTE II – “UMA HISTÓRIA DE ESPIONAGEM” – Original de “??”

Alínea A – John.
Para além das características “sui generis” de todos os candidatos a espiões, o John cometeu um erro crasso, certamente por se ter encolerizado, porque o treinamento que os verdadeiros espiões têm dá-lhes ferramentas para se despirem de todas as suas origens e assumirem os personagens que encarnam.
O John ao ficar fortemente irritado cometeu o erro de traçar o algarismo “7”, coisa que nenhum habitante da Ilha faria e só os continentais fazem. Acabou por despir a pele que trazia e deixou vir ao de cima a sua origem.

Era ele o espião!

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