sábado, 4 de agosto de 2012

JARTURICE OU... JARTURADA - 35


A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

Problema # 30
O INSPECTOR FIDALGO “VIAJA” NO ESCURO
Original de: Luís Pessoa                                              Publicado na secção POLICIÁRIO em: 4.Agosto.1992

Nada metia mais receio ao inspector Fidalgo que a hipótese de um dias ficar cego. Lá que houvesse um acidente, uma qualquer mazela, enfim, não seria agradável, mas não o assustava; agora ficar cego, ter na sua frente um permanente buraco negro, isso sim, metia-lhe medo.
Já na tropa, quando tivera que fazer exercícios em que o prato forte era andar por debaixo da terra, em condições de absoluta escuridão, o terror apoderara-se dele e não se gabava da sua atitude, mas também não a ignorava ou varria das suas recordações.
Foi naquele dia de Abril que reviveu tudo isso pela audição da história fantástica de um dos suspeitos, em que o terror pela escuridão assumia outros contornos, mas significava o mesmo.
Tudo começou num corte de corrente eléctrica que se prolongou por várias horas. O Jorge andava a divertir-se nas discotecas da cidade, quando tudo ficou escuro. A princípio, ninguém estranhou e até acharam piada, mas com a continuação todos foram abandonando os divertimentos e recolheram a suas casas. Com precisão, ninguém poderia garantir a que horas teria saído fulano ou sicrano e não havia informações sobre o Jorge. A realidade é que na sua casa, onde vivia com o irmão mais velho, por quem nutria um ódio quase feroz, principalmente pelo modo como ele o criticava pela vida anárquica que levava, o irmão apareceu morto, espetado por uma faca tipo ”rambo”.
Apurada a hora da morte, esta rondava as 23 horas e 30 minutos. Por mais que clamasse a sua inocência, um velho marinheiro reformado, habituado a ver no escuro da noite do mar alto, afirmou tê-lo visto sair de casa por volta dessa hora.
O Jorge, esse, dizia que não era verdade e que só saíra da discoteca depois da meia-noite. Ninguém o confirmava nem o desmentia e a única testemunha era o velho marinheiro.
Interrogado pelo inspector Fidalgo, sempre foi dizendo que aguentou na discoteca até à meia-noite e meia e, como a luz não havia maneira de chegar, foi para casa. Custou um pouco descobrir a casa completamente às escuras, sem haver sequer luar e mais difícil foi acertar com tudo dentro de casa, recorrendo à memória para dar as voltas necessárias. E foi ao entrar na sala que, conforme afirmou, reparou no corpo estendido, com os olhos muito abertos, indiciando que estaria na presença de um cadáver.
 Aos tropeções, sem poder já discernir sobre o local onde punha os pés, naquela escuridão, fugiu para a rua, onde o ar fresco o fez recuperar um pouco de sangue-frio.
Quem foi ou como o fez, isso, não sabia!
O inspector Fidalgo olhou para a parede branca e imaginou-se no negro profundo da escuridão, no terror de nada ver ou sentir, perante a atrofia dos sentidos…

A – O Jorge esteve na discoteca até depois da hora do crime e não o podia ter cometido.
B – O ódio era tanto que desejou a morte do irmão e, misteriosamente, conseguiu.
C – O Jorge não podia ter morto o irmão porque vinha da discoteca e não podia saber onde o irmão estava ou o que fazia, devido à escuridão.
D – O Jorge não poderia dar com o irmão nas condições que descreve e, portanto, mentiu nas declarações, tendo cometido o crime.
Seleccione a resposta certa e aponte-a no cupão…
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Solução do autor:                                          Publicada na secção POLICIÁRIO em: 08.Agosto.1992

D – O Jorge não poderia dar com o irmão nas condições que descreve e, portanto, mentiu nas declarações, tendo cometido o crime.
Na maior escuridão, ver o irmão estendido no chão com os olhos abertos é obra! Nunca poderia ter visto o que afirmou ter visto, a menos que… Hipótese D.

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