A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
(Título do texto de Luís Pessoa)
O inspector Fidalgo está de férias…
Publicado na secção POLICIÁRIO em: 15.Agosto.1992
Tal como ontem (isto é, como fez ontem
20 anos), também hoje o inspector Fidalgo não pôs à prova, com qualquer
problema, a “perspicobisbilhocácia” – como diria o Inspector Varatojo – dos
leitores do PÚBLICO, e aproveitou o espaço para fornecer soluções e
classificações que a seu devido tempo aqui revelámos junto aos problemas, e
forneceu (algumas “dicas”) sobre técnica policial.
Sigamos as suas palavras…
O inspector
Fidalgo está de férias…
… E como tal nem quer ouvir falar de crimes e
criminosos. O mar, a praia, a floresta ainda não ardida, tudo é pretexto para
uns momentos de repouso. Por isso mesmo, o inspector Fidalgo e todos os seus
colaboradores não vos propõem problemas para resolver, antes decidiram dar um
pouco de luz a muitas pequenas coisas que há que saber para se resolverem
muitos casos policiários.
Prestem muita atenção, porque um dia destes os conhecimentos
que vão ser dados podem ser determinantes na solução de um dos vossos casos…
Técnica
policiária
(algumas
“dicas”)
Dactiloscopia – Este palavrão designa a ciência que
estuda os desenhos digitais, as chamadas impressões digitais. Não vale a pena indicar
a sua importância porque todos sabemos que constituem provas fundamentais em
grande parte dos crimes.
Perenidade – os desenhos nunca mudam a partir do sexto
mês de vida uterina e até à putrefacção do cadáver. Desde 1858 que essa
propriedade foi estudada por Hershell;
Imutabilidade – a impressão digital não pode ser
mudada de maneira nenhuma. Nos laboratórios da polícia de Lyon, foi verificado
que nem queimaduras nem limagens fizeram desaparecer as impressões digitais.
Variabilidade – não há duas impressões iguais, nem tão
pouco idênticas. A possibilidade de encontrar impressões iguais está expressa
na fórmula: (A4100n)/(A4100).
Pelo cálculo da Regra de Balthazard, para encontrar
duas coincidências é necessário examinar 16 impressões e para encontrar o
mínimo que a polícia considera indispensável para uma identificação formal, ou
seja, 12 semelhanças, torna-se indispensável examinar 16.777.216 impressões
digitais!
Como
revelar
uma
impressão digital
Por revelar
entende-se transformar uma impressão digital latente em visível (ou aparente).
Os pós mais vulgares para revelar uma impressão digital são pó branco
(carbonato de chumbo), pó preto (carbonato de antimónio), pó vermelho
(sexquióxido de ferro), pó metáslico (pó de alumínio) e pó negro (volframite).
Se não fôr possível obter qualquer destes pós, pode usar pó de talco, pó de
arroz, bicarbonato de sódio, farinha, pó de carvão, etc.
Aplique um dos
pós indicados, com um pincel de pêlos longos (os da barba podem seguir), muito
levemente sobre a superfície onde está a impressão a revelar, soprando-se,
depois, com muito cuidado, o excesso de pó. Também se pode deitar uma certa
quantidade de pó sobre a superfície a revelar e depois faz-se deslizar o pó
pela superfície, ficando revelada a impressão.
Faça uma
experiência e depois diga-nos o que conseguiu.
Homicídio,
suicídio
ou acidente
Uma das maiores dificuldades de qualquer investigador é
definir com alguma segurança como ocorreu a morte e se terá havido razões para
se pensar em homicídio ou suicídio ou se tudo não passou de um mero acidente.
Esta dúvida aplica-se a todas as formas de morte
violenta, tais como enforcamento, estrangulamento, asfixia, afogamento,
ferimentos com arma de fogo ou arma branca e envenenamento.
Como
distinguir as diversas situações que nos permitam dizer com alguma segurança:
Foi crime!... Foi suicídio!... Foi um mero acidente!...
É isso mesmo que iremos abordando
sempre que o espaço e a oportunidade se revelem.
Um
pequeno cantinho de Técnica Policiária que vamos desenvolver às sextas-feiras e
sábados, sempre que pudermos e se todos vocês quiserem. Olhem bem, ali está um
tipo enforcado… Será que se suicidou? Será que o assassinaram?
Vamos ver, está bem?
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