A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
Problema # 41
O INSPECTOR FIDALGO E O
ESCRITOR MANECAS
Original
de: Luís Pessoa
Publicado
na secção POLICIÁRIO em: 18.Agosto.1992
Um caso curioso que o inspector Fidalgo teve na sua
vida foi relacionado com o Manecas, um escritor de livros pornográficos que
tinha um escritório clandestino num rés-do-chão da Rua da Atalaia.
Claro está que a amizade com o Manecas era de uma
época bem anterior, dos tempos em que o inspector ainda fazia as pequenas
coisas que um agente faz, nomeadamente figura de parvo perante os tradicionais
espertalhões que tudo sabem e tudo controlam, mesmo ao nível dos responsáveis
pela ordem e segurança.
O Manecas não só escrevia como editava os livros
pornográficos, o que lhe custava, muitas vezes, alguns amargos de boca, mas
também, isso era sabido, grandes lucros.
Naquela altura, o Manecas andava com uma grande crise
de inspiração e não conseguia inventar nada de novo no reino do sexo, ou, pelo
menos, apresentar como tal.
Claro está que o Manecas não era o maior no reino da
pornografia. Outros valores se levantavam e o Manecas sabia que iria pagar com
o físico, quem sabe se com a vida, a falta de inspiração para os seus novos
escritos.
Foi então que um telefonema anónimo pôs o inspector
Fidalgo na cola de um sábio larápio que se entreteve a roubar os escritos do
nosso Manecas, para grande desespero deste.
-
Ó inspector Fidalgo, juro-lhe que tudo é feito na maior das regras e que nada
há de falso em tudo o que escrevo. Nada. É tudo conforme a lei…
- Não venhas com essa. Diz lá o que sabes e mais nada,
está bem?
- Ó inspector, o que se passou é que eu estava aqui a
trabalhar quando alguém bateu no vidro, ali fora, o que me fez parar.
Naquela noite de temporal, com o vento a soprar a toda
a força, um qualquer tipo a bater à janela?
Eu não sou burro. Vi que se abrisse a janela podia ser
assaltado e continuei a trabalhar com os meus papéis espalhados por tudo quanto
é sítio. Sabe como eu sou, um desorganizado de todo o tamanho. Peguei nos
papéis leves que uso e coloquei-os no parapeito da janela para poder continuar
a trabalhar com calma. Só que o tipo, sei lá quem, continuava a bater à janela
e, depois de muito hesitar, pensei se não seria alguém conhecido a tentar
dizer-me alguma coisa e abri a janela… O vento terrível fez-me recuar,
parecendo um temporal, e de lá saiu uma pistola, bem apontada à minha cabeça, e
uma voz disse: “Dá-me cá a novela que escreves-te”… E eu, com cuidado, recolhi
as folhas do parapeito da janela, com a pistola e o vento a tocarem-me na cara,
e dei-lhe tudo o que pediu… Bolas, não sou um herói, pronto!
O Inspector Fidalgo sorriu. Ai! Ai!, um sorriso do
Inspector Fidalgo queria dizer, sem sombra de dúvida que…
A – O inspector já conhecia o ladrão e ia dar-lhe caça,
porque não é impunemente que se assalta um escritório.
B – O inspector viu claramente que tudo era falso e que
fora o Manecas que dera os originais ao ladrão, por ser cobarde.
C – O inspector verificou que o Manecas estava a mentir
porque o que ele relatou não podia ser verdade, por mais que se pudesse ser
liberal…
D – O inspector viu que o Manecas caiu como um patinho
no conto do vigário e foi roubado porque
não tinha nível para aguentar a parada.
Leia
o problema com atenção, reveja as suas ideias e assinale a sua opção…
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Solução do autor: Publicada na secção POLICIÁRIO em:
22.Agosto.1992
C
– O inspector verificou que o Manecas estava a mentir porque o que ele relatou
não podia ser verdade, por mais que se pudesse ser liberal…
Estava
a mentir, porque com a ventania que estava e usando papel leve, como afirmou,
nunca as folhas ficariam no parapeito da janela, sem se espalharem.
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