A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
Problema # 46
O INSPECTOR FIDALGO E O
ROUBO DO ARMAZÉM
Original
de: Luís Pessoa
Publicado na
secção POLICIÁRIO em: 24.Agosto.1992
Há já muito tempo que o dono de um conhecido armazém
de uma aldeia na Serra da Estrela notava que lhe desapareciam produtos. Não em
grandes quantidades, mas agora um presunto, amanhã um saco de arroz, depois
umas garrafas de vinho e assim por diante.
Já tentara descobrir o autor da façanha, mas, apesar
de algumas esperas e vigílias, nunca pôde saborear o triunfo de apanhar o
larápio com a boca na botija.
Foi então que aproveitou a passagem por lá do seu
amigo de longa data, que sabia trabalhar com a polícia, mas não sabia bem em
quê, e pediu-lhe que o ajudasse a resolver o caso. Não pelo montante dos
roubos, que pouco ou nada significavam no fim de cada mês, mas mais por
curiosidade e para avaliar por que motivo alguém andava a tirar tão poucas
coisas quando podia levar muitas mais.
O Inspector Fidalgo ficou cheio de curiosidade, também
ele, principalmente por ser um desafio interessante. Numa aldeia da serra, onde
quase tudo anda a passo de caracol e todos se conhecem, não havia dúvida de que
espevitava a curiosidade.
Foi ver o local do “crime” e, cautelosamente, pediu um
pacote de farinha, que espalhou metodicamente pelo chão em torno de todo o
armazém.
Este ficava numa cave cujo único acesso se fazia por
umas escadas de madeira, ao cimo das quais se abria uma porta para o exterior.
Os roubos davam-se, por sistema, de madrugada, mas, se alguém estivesse a
observar, nunca mais aconteciam.
Na manhã seguinte, depois de uma noite bem dormida,
que os ares da montanha ajudavam, o Inspector e o seu amigo dirigiram-se para o
armazém, ainda envolto num manto húmido, que a noite fora fresca, e, ao abrirem
a porta, o Inspector debruçou-se cuidadosamente por sobre as escadas e foi
descendo a pouco e pouco, notando que em todos os degraus havia marcas de dois
pés enfarinhados com a biqueira em direcção ao cimo, o que indicava que o
larápio espezinhara a farinha lá em baixo, que se colara aos sapatos, por estes
estarem húmidos, e que fora depois largando pelas escadas, ao sair.
Quanto ao roubo, não fora além de uma miséria de meia
dúzia de coisas alimentares.
Foi então que o Inspector foi confrontado com os suspeitos,
quatro rapazes de quem se sabia há muito que a especialidade era deitar a mão a
tudo o que aparecesse: o João, moço que perdera uma das mãos por causa dos
foguetes: o António, que era um tanto deficiente mental e não articulava muito
bem os movimentos das mãos: o José, que era ligeiramente coxo e tinha muita
dificuldade em subir e descer escadas, e o Manuel, que não ouvia, embora
falasse alguma coisa, aprendida em escola especial, antes de ir para ali.
O Inspector olhou pela janela, lá ao longe, o cume
vestido de branco dos nevões que já caíam e foi-se embora, deixando o amigo sem
resposta… Ele já sabia, mas não ia revelar…
A – Foi o João.
B – Foi o António.
C – Foi o José.
D – Foi o Manuel.
Tome a sua opção e assinale-a…
------------------------------------
Solução do autor:
Publicada na secção POLICIÁRIO em:
29.Agosto.1992
C
– Foi o José.
Os
indícios seguros para a resolução deste caso relacionam-se com as pegadas. Se
havia marcas dos dois pés em cada degrau, com as biqueiras viradas para cima, é
notório que quem as produziu apoiava os dois pés em cada degrau. Só podia ser o
José.
Sem comentários:
Enviar um comentário