A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
Problema # 48
O INSPECTOR FIDALGO E A
MORTE DA DONA-DE-CASA
Original
de: Luís Pessoa
Publicado na
secção POLICIÁRIO em: 26.Agosto.1992
Tarde de Maio, abafada, de autêntica trovoada adiada.
Uma forte chuvada viria mesmo a calhar, quanto mais não fosse para refrescar o
tempo.
O inspector Fidalgo detestava esta atmosfera de calor
sem sol, de céu enevoado sem chuva, enfim, uma confusão diabólica. E, quando
foi chamado à Rua das Flores para verificar a morte de uma dona-de-casa, foi
contrariado que se atirou para a rua, abandonando o seu ar condicionado… Enfim,
vida de inspector.
A senhora morrera quando passava a ferro. O marido,
inconsolável, gritava a todo o mundo a sua desgraça, no que era acalmado por
vizinhos e amigos que iam surgindo de todos os lados. O costume, em vida todos
se comem como cães, na morte todos se armam em santinhos e amiguinhos! À
portuguesa!
- Quem descobriu a senhora? – interrogou o inspector.
- Eu… - disse entre choros o marido. – Entrei na
cozinha e vi-a mesmo a ter o ataque de coração, ou lá o que foi… Só a vi a…
desculpe a emoção, mal consigo falar… cair desamparada agarrada ao coração,
assim, no peito… Está a ver…
O ambiente estava irrespirável. A janela estava
fechada, o que tornava o ar ainda mais carregado e quente. Em cima da tábua de
passar a ferro, um velho lençol esperava a sua vez para ser alisado e dobrado…
Uma operação que talvez não viesse a ver tão brevemente…
- O que fez o senhor quando aqui chegou?
- Eu… Nada… Não havia nada a fazer… Cheguei à porta e
vi a mulher de costas para mim, oscilando um pouco… Perguntei o que se passava…
Mas como resposta apenas a vi voltar-se para mim, agarrada ao peito, do lado do
coração, largou o ferro e… Caiu no chão, ali mesmo onde está agora. Tentei reanimá-la,
mas não consegui… Não, não mexi em nada… Corri para o corredor, chamei por
socorro, e… vieram estes meus amigos… Não toquei em nada de nada. Nem me
lembrei de tal coisa… Compreende…
O inspector Fidalgo compreendia…
Perguntou aos presentes se alguém mexera em algum
objecto da cozinha, sendo a resposta negativa. Todos chegaram em resposta ao
pedido de socorro e chamaram as autoridades.
O lençol continuava à espera, o que acontecia também
com o pobre e triste ferro, antigo, que esperava que alguém o viesse de novo
activar para poder dar o seu calor a outras peças de roupa.
O inspector Fidalgo já sabia o que se tinha passado.
A – A pobre mulher desmaiara com o calor e dera-lhe um
ataque de coração.
B – A mulher foi envenenada por um qualquer estranho e
o marido apenas assistiu à parte final.
C - A mulher foi envenenada pelo marido, que ainda por
cima lhe atirou com o ferro à cabeça para a matar.
D – O marido está implicado na morte da mulher, não
sendo verdade as declarações que proferiu.
Mais um problema, o penúltimo desta semana. Como já
foi dito, escolha a sua resposta.
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Solução do autor:
Publicada na secção POLICIÁRIO em:
29.Agosto.1992
D – O marido está implicado na morte da mulher, não
sendo verdade as declarações que proferiu.
Pelo texto e pelas declarações do marido da vítima,
verifica-se que a mulher morrera de ataque do coração ao passar a ferro, o
marido não mexeu em nada, nem ninguém mexeu fosse no que fosse, mas a verdade é
que o ferro estava à espera que alguém o activasse de novo, o que queria dizer
que fora desligado depois da morte, ou… a morte não ocorreu ao passar a ferro e
a cena foi mal encenada!
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