A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
Problema # 32
O INSPECTOR FIDALGO E O
ASSASSINO DA FACA CERTEIRA
Original
de: Luís Pessoa Publicada
na secção POLICIÁRIO em: 06.Agosto.1992
Para encerrar uma semana de trabalho, naquele dia em
que o inspector Fidalgo começava uma folga, nada melhor que um assassino de
faca certeira…
Quando foi chamado, nunca lhe passou pela cabeça que
ainda houvesse quem matasse daquela forma, mas enfim, havia que tomar conta da
ocorrência e, se fosse possível, solucionar o caso.
O milionário fora assassinado e ninguém estranhou por
aí além, por um lado, porque haveria milhares de candidatos a passá-lo para o
“outro lado” e, depois, porque ele parecia divertir-se imenso em dar cabo da
vida de todos os que com ele privavam.
Naquele dia tinha dado ordem a um circo para sair dos
seus terrenos, que comprara no mês anterior e onde o circo costumava ficar há
mais de 30 anos. O proprietário do circo, um atirador de facas, no calor da
discussão, ameaçou-o de morte, mas ninguém ligou sobremaneira… Era só mais um para
juntar ao “monte” de candidatos a assassiná-lo.
Só que o milionário foi morto com uma faca igual à que
o homem usava no seu número e com tal precisão estava enterrada no coração que
só poderia, pelo menos à primeira vista, ser obra de um profissional… E dos
bons!
Ainda por cima, uma testemunha incómoda parecia ter
assistido a toda a trama. Vamos ouvi-los, tal como fez o inspector Fidalgo,
apesar deste caso estar “quase” resolvido.
O proprietário do circo: “Não há direito! Claro que o
ameacei era capaz de o ter morto, mas alguém se adiantou. Eu não o matei!
Repare que há 30 anos que nós vimos para aqui fazer os nossos espectáculos e
nunca nos puseram qualquer obstáculo. Bem pelo contrário, quase sempre nos
escreviam a pedir que viéssemos e nós dávamos espectáculos para as crianças
gratuitamente… Sim, a faca é minha e é daquelas que eu uso no meu número, mas
não fui eu. Então eu ia matá-lo depois de o ameaçar? Ou o matava logo, então,
não o ia ameaçar para mais tarde o matar! Roubaram-me uma faca, de certeza
absoluta, e foi com ela que o mataram…”
A testemunha, irmão da vítima: “Não quero nada com o
que se passou, mas a verdade é que eu assisti ao crime… Não, não gostava nada
do meu irmão, que era um verdadeiro carrasco para as pessoas que lhe caíam na
frente, mas tenho de contar a verdade, por muito que me custe… Sabe, eu adoro o
pessoal do circo. É que eu cresci aqui perto e sei como era importante para nós
quando eles vinham para cá!... Mas é a verdade que está em causa e quem matou
foi o proprietário. Por acaso estava aqui quando ele o ameaçou e depois vi-o
entrar em casa, com uma faca na mão e aproximar-se da porta… Não sei se era
essa que me mostra porque a mão dele tapava todo o cabo, ali mesmo, ao pé de
mim… Tive um medo que ele me visse!... Depois, num gesto rápido atirou a faca,
como costuma fazer no número, e zás… O meu irmão caiu.
O inspector pensou e reviu na memória o artista
atirando as facas, pegando pelo gume, com uma precisão diabólica…
A
– O artista utilizou a sua faca, como no seu número, e matou-o à distância,
como diz o irmão da vítima.
B
– O artista fez de propósito, para despistar, ameaçando-o em público, porque
julgava que não o acusariam.
C
– O irmão mentiu, porque a vítima não podia ter sido morta daquela maneira.
D
– Nenhum deles teve nada a ver. Foi um terceiro personagem, que não nos é
descrito, que o matou.
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Solução do autor: Publicada na
secção POLICIÁRIO em: 08.Agosto.1992
C
– O irmão mentiu, porque a vítima não podia ter sido morta daquela maneira.
Não
poderia ter sido morto daquela maneira. Há contradição no depoimento. Se o
número consistia em pegar nas facas pelo gume e atirá-las com toda a precisão,
não se compreende como é que o irmão afirma não poder identificar a navalha
porque estava tapada pela mão. Mentira!... Hipótese C.
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