sexta-feira, 10 de agosto de 2012

JARTURICE OU... JARTURADA - 41



A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

Problema # 35
O INSPECTOR FIDALGO E O ZÉ “DESDENTADO”
Original de: Luís Pessoa      
Publicado na secção POLICIÁRIO em: 10.Agosto.1992

O Zé “Desdentado” era uma figura carismática naquele bairro degradado da periferia de Lisboa. Toda a gente o conhecia e sobretudo sabia-o um indivíduo calmo, pacato, divertido, amigo do seu amigo, em suma, um bom homem.
O inspector Fidalgo também o conhecia de há muito. Dos tempos em que ambos andaram numa acção de limpeza de droga dos putos daquela zona. Não quer dizer que a droga tivesse desaparecido, mas que uma boa quantidade de jovens foi poupada, isso era inegável…
E daí vinha a estranheza de que acusassem o Zé “Desdentado” de assalto a uma casa luxuosa do bairro vizinho, que era domínio da fina flor da nossa sociedade.
O inspector não acreditava na história e, por isso, pôs-se em campo…
- Não temos dúvidas de que foi ele – esclareceu o colega encarregado da investigação. – Repara que tudo vai direitinho ao homem. Não há nada a fazer…
- Mas qual é a base?
- Olha, o Zé é um tipo por quem tens uma certa simpatia, tudo bem, mas tens de compreender que não devo discutir o caso contigo. No entanto, sempre te digo que o homem foi apanhado uma hora depois do assalto com dois charutos dos que havia em casa. E mais, como se não bastasse, deu-se ao luxo de fumar um em casa do dr. Serpa, refastelado num sofá, tendo deixado cinza no chão e, pior que isso, deixou o resto do charuto no cinzeiro, ou porque se esqueceu ou porque teve de “cavar” um pouco à pressa. Um tipo como o Zé “Desdentado” a fumar charutos de quatro ou cinco contos, na maior? Onde é que ele os foi buscar? Explica-me!
- Mas isso não prova nada. O que é que ele diz?
- Ora, o costume. Que um tipo que ele não conhece de lado nenhum lhos ofereceu.
- Posso ver a ponta do charuto que apanhaste em casa do doutor?
- Está aqui.
O inspector olhou o resto do charuto, colocado dentro de um saco de plástico transparente, e reparou que já era bastante pequena, o que sugeria que o fumador estivera muito entretido a consumi-lo… Na base notavam-se as marcas dos dentes de quem o saboreara com evidente prazer, mordendo-o com certa violência… Aquilo fez-lhe lembrar um velho anúncio que passava na televisão há muitos anos e que mostrava “um artista português” que tinha uns dentes fabulosos e segurava uma cadeira com eles… “Palavras para quê?, dizia o anúncio a uma marca de dentífrico. E, de facto…

A – O Zé “Desdentado” nunca poderia ser o responsável pelo assalto, se a prova era o resto do charuto deixado no local.  
B – O Zé “Desdentado” não tinha dinheiro para comprar charutos daqueles e portanto roubou-os da casa do doutor.
C – O Zé “Desdentado” abusou da sorte, porque não tinha nada de estar a fumar, descansado, na casa roubada e muito menos deixar o resto do charuto.
D – Claro que só podia ser o Zé “Desdentado”, não tanto pelo roubo em si, mas para experimentar o prazer de fumar bons charutos.

Seleccione a resposta certa, assinale-a no cupão e não se esqueça que agora à quinta-feira já está de posse de todos os elementos para responder.
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Solução do autor:                                              Publicada na secção POLICIÁRIO em: 15.Agosto.1992

A – O Zé “Desdentado” nunca poderia ser o responsável pelo assalto, se a prova era o resto do charuto deixado no local.  
O “Zé Desdentado” a morder daquela maneira a base do charuto? Não seria possível! Só com bons dentes, o que não parece ser o caso do Zé.

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