Tempo de verão, de sol, de
praia, de mar ou de campo… Talvez só para alguns, que este país em recessão
assim obriga. Mas o Policiário é mesmo para todos e desta feita traz consigo a
folia de uma passagem de ano!
“FESTA NOCTURNA”, de Inspector Fidalgo
– Responda, sr. A, tem de me dar respostas…
– A festa tinha sido de arromba e não sabíamos muito bem
onde estávamos ou o que tínhamos andado a fazer… Compreende, era um dia
especial em que todos entrávamos num ano especial. Toda a gente dizia e parece
que era verdade, que o século e o milénio só iriam virar no ano seguinte, mas,
que diabo, viravam-se todos os algarismos naquele dia, naquele segundo exacto!
– Eu até posso compreender isso, acho normal que se
festejasse, mas nada justifica a vossa atitude perante o que se passou. O que
eu quero saber é quem estava presente no momento em que aconteceu o incidente.
– Não estou certo.
– Mas você estava no local, ou não?
– Estava… Isto é, penso que sim… Sabe, os copos…
O agente Maduro saiu da sala, já um tanto irritado com o
que se passava. Isto de andar a perguntar coisas com anos de atraso, nem
parecia coisa de gente. Um incidente tão distante…
– Senhor B, isto parece um pouco estranho, mas tenho de
lhe perguntar de novo o que se passou nessa noite, o que viu, quem estava
presente, quem foi o autor material, enfim, tudo!
– Senhor agente, não tenho a mínima ideia! Não me lembro
de nada dessa noite, olhe, foi uma noite de folia, uma noite única, que nenhum
de nós voltará a passar, não é verdade? Todos bebemos e comemos em força e já
nem me lembro de sair do bar, quanto mais o que se passou cá fora… E depois
estive dois dias a dormir…
– Menina C, quer fazer o favor de esclarecer o que se
passou nessa noite?
– Ora, senhor agente, o que é que se podia ter passado?
Estávamos todos a festejar em grande, quando aquilo aconteceu. Lembro-me
perfeitamente que nenhum de nós teve nada que ver com isso, absolutamente nada.
Estávamos a festejar, mais nada, mas um grupo provocou-nos e, para evitar males
maiores, eu mesma empurrei os meus amigos para dentro do bar, para não haver
chatices. O que aconteceu depois, não sei, nem os meus amigos, porque estávamos
lá dentro e isso parece que aconteceu cá fora, não foi?
– A menina parece que se lembra de tudo muito bem…
– Pudera, nessa altura eu andava um bocado mal, com uma
infecção e andava a tomar antibióticos e por isso não podia beber álcool.
Acabei por ser eu que controlei tudo e levei os meus amigos a casa.
– E dentro do bar, o que aconteceu?
– Dentro do bar, nada. Bebemos um copo, estacionámos
algum tempo para deixar passar a tempestade que se levantou na rua…
– Tempestade?
– Em sentido figurado, senhor agente, queria dizer, a
complicação…
– Sim, sim, continue…
– Não houve mais nada. Paguei a conta, o que foi uma
complicação porque o bar não tinha multibanco e tive de andar a vasculhar as
carteiras dos meus amigos à procura dos euros para pagar aquilo…
– Senhor D, não me vai dizer que não se lembra de nada
dessa noite, pois não?
– Não, senhor agente, lembro-me perfeitamente que não se
passou nada de especial. Entrámos e saímos de bares e bares, bebemos e comemos,
foi tudo excelente. Só há uma noite assim, numa vida.
– E depois?
– Depois, nada! Acordei em casa, muito mais tarde, com
uma dor de cabeça terrível e sem sequer saber como lá cheguei. Depois
contaram-me que foi a C que nos andou a entregar em casa, porque ela não podia
beber por causa de uns medicamentos.
– Não houve incidentes?
– Nada.
O agente Maduro percebeu que havia ali uma grande
mentira, mas não se queria maçar demais com um caso corriqueiro e ridículo que
um chefe queria que se esclarecesse passado tanto tempo.
Ele sabia que o chefe tinha a pedra no sapato por ter
apanhado uma “galheta” naquela noite, mas a verdade é que, conhecendo-o tão bem
como ele o conhecia, apostava que tinha sido merecida. Ora abóbora!
O agente percebeu onde estava o erro e os nossos “detectives”
também…
Ora digam lá então quem o cometeu:
1 – O senhor A porque ninguém podia estar num estado em
que não se lembrasse de nada – estava a mentir;
2 – O senhor B porque revela que não se lembra sequer de
sair do bar, mas sabe que se passou alguma coisa cá fora, pelo que estava a
mentir também;
3 – A Menina C porque se lembra de tudo tão bem, mas
mente naquilo que diz;
4 – O senhor D porque se lembra de tudo, de entrar e sair
de bares, de comer e beber, e portanto tinha de saber o que se passou, pelo que
é um grande mentiroso.
SOLUÇÃO DE
“NAMORO ATRIBULADO”
Autor:
Inspector Fidalgo
Problema
publicado na secção 1095, em 29 de Julho
Este problema tem a intenção declarada de mostrar aos
novos “detectives” que nem sempre o que parece óbvio, o é realmente!
Um dos conceitos a seguir é o de que um mentiroso não é,
obrigatoriamente, um culpado.
Neste caso, temos alguém que nos diz que passou um dia
inteiro na praia e depois revela uma palidez doentia. Conclusão óbvia e natural:
o rapaz mentiu e pode ter estado em todo o lado, excepto ao sol um dia inteiro,
para mais pela primeira vez nesse ano, o que o transformaria, certamente, num
sósia de lagosta, em coloração.
Mas esse facto não o torna mais suspeito de ter
denunciado a situação à moça. Só o torna mais mentiroso.
Quem se denuncia é Carlos, ao referir que nem sequer fora
nesse domingo ao café, sem que o amigo ou alguém mais lhe tivesse dito que fora
aí que a inconfidência foi cometida.
Portanto, resposta certa: Carlos!
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