NOITE DE S. JOÃO ATRIBULADA
Entramos na segunda metade do campeonato nacional, na
altura em que muitos dos nossos “detectives” se preparam para umas
retemperadoras férias e outros estão ainda “mergulhados” em época de exames,
antes de mergulharem nas ondas do mar ou nas águas refrescantes de um rio,
albufeira ou mesmo piscina…
Como é habitual, em parte devido às férias, mas também
devido à maior atenção que tem de ser dada aos estudos, os prazos para envio
das soluções é aumentado, para que ninguém saia a perder, como já referimos na
passada semana.
O problema que hoje apresentamos é de autoria de um
confrade já nosso conhecido, mas ainda pouco assíduo no nosso espaço.
Como todos os problemas em que há um “regresso ao
passado” de um dos intervenientes, este também exige a máxima concentração dos
“detectives” para que não escapem alguns pontos da rede de cada um dos
“pescadores” de contradições.
Não sendo o tipo de enigmas que reúne a preferência de
todos os confrades, até por, em princípio, ser bastante trabalhoso, não deixa
de ser, no entanto, uma boa proposta para investigação e procura de elementos e
puxar pela “células cinzentas”. Longe vão os tempos em que todos eramos
“obrigados” a recorrer às enciclopédias das Bibliotecas públicas, durante dias
e dias, à procura do pequeno detalhe que podia fazer toda a diferença…
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE
PORTUGAL
PROVA N.º 6 – PARTE I
“ACONTECEU NA NOITE DE S. JOÃO”
Original de QUARESMA, DECIFRADOR
A noite
estava a decorrer dentro da normalidade, com muitas marteladas e muito
alho-porro, não fazendo prever o que me iria acontecer passados poucos minutos.
Lá ia eu, deambulando por entre a multidão que naquela noite se divertia na
ribeirinha da cidade invicta, quando se aproxima de mim uma bela jovem ruiva.
Os seus olhos focaram-se nos meus, fazendo-me sentir uma leve tontura, e quando
já estava suficientemente próxima, desferiu uma martelada que me obrigou a
cerrar os olhos.
Quando os
voltei a abrir, tudo estava diferente. Já não me encontrava na rua. Em vez
disso, estava sentado a uma mesa no interior de um café. Um local estranho,
rodeado de pessoas estranhas. Quando olhei para o exterior, pela porta aberta,
vi algumas pessoas, poucas, de martelo na mão, a desferir os golpes habituais
da noite de S. João.
“Não sei
onde estou, mas continua a ser a noite de S. João” – lembro-me de ter pensado.
Numa mesa ao
lado, dois jovens debatiam um tema que os afligia. Falavam de um conflito que
tinha deflagrado em Angola, meses antes, produzindo uma imediata resposta do
estado português. Pelo que entendi, parecia que um grupo para a libertação de
Angola tinha atacado as forças portuguesas lá estacionadas e os jovens temiam
ser mobilizados para participar nesse conflito.
Surpreendido
com o que acabara de escutar, dei por mim a olhar na direção de uma parede onde
estava pendurado um calendário.
Quando olhei
com mais atenção, exclamei: “Não pode ser! Como vim aqui parar?”
Enquanto
procurava observar as circunstâncias que me envolviam, apercebi-me que um outro
debate aceso decorria numa mesa mais afastada entre quatro homens que pareciam
já ter entornado uns copos de um bom vinho de uma casta duriense.
“Achas tu
que há alguma dúvida?” – perguntava um deles.“Claro que o padroeiro da cidade é
o S. João…“
“Só mesmo tu
para acreditares nisso. Pois digo-te que, por muito estranho que possa parecer,
a nossa cidade do Porto partilha o mesmo padroeiro da cidade de Lisboa…” –
disse um outro – “… S. Vicente!”
Enquanto os
dois homens que falaram, argumentavam e contra-argumentavam, os outros dois
sorriam entre eles, até que um interveio.
“Sabem o que
vos digo? O padroeiro da cidade do Porto é S. Pantaleão.”
“S.
Pantaleão?” – perguntaram em uníssono os dois homens que tinham falado
anteriormente. “E quem é esse?”
“S.
Pantaleão foi um cristão martirizado pelos turcos aquando da invasão da Arménia
no século XV. Pelo que me foi contado, o corpo de S. Pantaleão foi trazido para
a cidade do Porto por um grupo de cristãos que fugiu depois da invasão e foi
enterrado junto à Sé Catedral onde se encontra até hoje. Acontece que no ano em
que trouxeram o corpo quase toda a cidade do Porto foi afetada por uma peste
terrível, exceto as pessoas que residiam na proximidade da catedral, onde ele
estava enterrado. Imediatamente atribuíram isso a um milagre de S. Pantaleão e
ele passou a ser o padroeiro da cidade” – explicou o terceiro homem.
“E tu não
dizes nada?” – perguntaram ao quarto homem.
“Não sei se
deva dizer alguma coisa ou se não será melhor estar calado” – respondeu.
“Mas, pensando
melhor, talvez valha apenas dizer-vos, para vossa informação, que o Porto tem
uma padroeira há quase um milénio, embora tenha sido entronizada apenas em
1954, por D. António Ferreira Gomes…”
Precisamente
no momento em que estava completamente absorto nesta conversa, senti uma dor
imensa na cabeça, que me obrigou a agarrá-la com as duas mãos e cerrar os
olhos.
Desta vez,
já não fiquei tão surpreendido quando os voltei a abrir. Pelo contrário, tinha
à minha frente uma jovem ruiva, assustada. “O senhor sente-se bem?” –
perguntou-me ela.
Ao mesmo
tempo que me sentia preocupado pelo que me acontecera, também estava curioso
pelo final daquela conversa. Embora tivesse noção que algumas das coisas que eu
vivenciara nesta estranha “viagem” não batiam certo, também gostava de ter
escutado o quarto homem, pois parecia que algumas delas iam ser esclarecidas.
Será que o
leitor pode esclarecer tudo aquilo que não bate certo?
E pronto.
Agora é chegada
a vez dos nossos “detectives” se pronunciarem sobre o mistério deste regresso
ao passado depois desta estranha comoção sentida pelo nosso herói de hoje.
Após as
necessárias leituras, buscas e análise dos factos, o que terão é de dar resposta
às dúvidas que nos assaltam, impreterivelmente até ao próximo dia 15 de Agosto,
usando um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar,
23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde
quer que o encontrem.
Boas deduções, com votos de excelentes férias para
quem as tem!
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