PROBLEMAS
POLICIAIS – 216 - # 213
(Diário Popular # 5716 – 06.09.1958)
- Eis os factos: - disse ele aos colegas
reunidos no seu gabinete. – Exactamente às 17 e 4 da última terça-feira, um
certo Sylvain Nellard recebeu um telegrama quando se encontrava no seu gabinete
em Argel. O telegrama era de uma irmã, que lhe pedia que se dirigisse
imediatamente a Paris, visto encontrar-se gravemente enferma uma sua tia. Sylvain
não hesitou um momento. E pouco depois tomava um avião da carreira Argel –
Paris, a bordo do qual havia, por sorte, um lugar disponível. O aparelho
levantou voo às 17 e 55 e, às 21 e 10, precisamente, aterrava em Paris, onde
Sylvain não ia há três meses.
Dirigiu-se
logo à residência da tia, onde chegou às 21 e 56. Entretanto, um tratamento
enérgico e rápido da doente, feito por um especialista, havia-a salvo de uma
crise que podia ter sido fatal. Tranquilizado, Sylvain decidiu ir dar uma
volta. Assim, saiu cerca das 22 e 25 e, depois de um longo passeio pelas
margens do lago Enghrien, regressou à residência da tia à meia-noite e cinco.
-
Ora – prosseguiu o inspector – nessa mesma noite, entre as 23 e as 23 e as 23 e
30, um certo Bertrand Cadel foi assassinado na sua residência, situada apenas a
dois quilómetros da ocupada pela tia de Sylvain.
E
de um «dossier» que ficou aberto sobre a mesa de trabalho de Bertrand Cadel
tinha desaparecido um documento. Soubemos tratar-se dum reconhecimento de
dívida, de Sylvain Nellard a Bertrand Cadel, no montante de dez milhões de
francos. Esse reconhecimento de dívida tinha-o Bertrand guardado precisamente,
até aí, no cofre-forte do seu escritório parisiense, e a sua secretária ficara
surpreendida ao ouvir o patrão pedir-lho, pouco antes de deixar o escritório,
pelas 15 e 50 da tarde do próprio dia da sua morte.
Nellard
declara que não encontrou pessoa alguma durante o seu passeio nocturno, mas
admite ter passado diante da residência de Cadel, cerca das 23 horas. Declara,
igualmente, nunca ter sabido que Cadel vivia sòzinho nessa casa, tendo apenas
uma porteira muito idosa e surda. E ele nega ter tido qualquer participação
neste curioso caso.
Prosseguindo
as minhas investigações – informou ainda o inspector – apurei que a
família de Sylvain Nellard ignorava por completo as relações de Sylvain com
Cadel e menos sabia ainda da existência dum reconhecimento de dívida. O médico
da tia de Sylvain ignorava igualmente esses pormenores.
O
caso é deveras complicado, como vêem. Não sei se serão da minha opinião, mas em
meu entender Sylvain Nellard não pode, ao menos por enquanto, ser inquietado,
contrariamente ao que pensa o juiz de instrução…
Os colaboradores do inspector Fauvel permaneceram silenciosos.
Manifestamente, o problema que lhes havia sido submetido era complexo.
E
como tinha o inspector chegado a uma conclusão tão favorável a Nellard, que
diversos factores pareciam condenar
(Divulgaremos amanhã, a
solução oficial deste caso)
* * *
* *
Solução do problema # 212
(Diário Popular # 5709 – 30.08.1958)
Simplesmente
no facto de Gerber ter podido encobrir o seu crime servindo-se de dois pares de
sapatos idênticos, comprados no mesmo momento. Eis o que, na realidade, se
passou: Gerber deixou as pegadas na terra mole do caminho que conduzia ao local
onde estava o carregamento de madeira, utilizando para isso um par de sapatos
exactamente iguais aos que a criada teve de limpar da lama, na manhã seguinte.
Mas, essas pegadas havia-as ele deixado à tarde e não à noite. Entretanto,
calçou os outros sapatos para se dirigir ao local em que sabia encontrar-se o
seu rival. Depois, destruiu esse segundo par de sapatos – que podiam traí-lo,
porque a natureza do terreno não era a mesma – e regressou a casa calçando os
sapatos enlameados. O seu único erro foi ter comprado os dois pares de sapatos
ao mesmo comerciante!
Jarturice-213 (Divulgada em 02.Agosto.2015)
APRESENTAÇÃO
E
DIVULGAÇÃO
DE: J A R T U R
jarturmamede@aeiou.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário