O
MISTÉRIO DA MORTE
DO
ARQUITECTO BAIRRADA
De autoria da dupla Búfalos Associados, ficamos hoje a
conhecer mais um desafio das nossas competições deste ano:
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2015
PROVA
N.º 7 – PARTE I
“SANGRIA
DESATADA” – Original de BÚFALOS ASSOCIADOS
A
vida do arquitecto Bairrada não se conta em duas palavras. Quando, terminado o
curso, decidiu ausentar-se do país para não cumprir o serviço militar, pois era
contrário à guerra colonial que entretanto começara em Angola, a sorte
sorriu-lhe. Passando fronteiras e agruras, foi viver para a Suíça, onde já
trabalhava um tio que o orientou numa carreira que em breve correria sobre
rodas. Através da importante empresa onde trabalhou, dirigiu a equipa que
construiu o pavilhão da Suíça na Expo70, em Osaka no Japão, e nunca mais
esqueceu o ano da sua grande arrancada para o sucesso.
O
Japão, onde se deslocava com frequência no cumprimento da profissão, exerceu
sobre ele um irresistível fascínio. O pavilhão da Suíça na Expo foi um enorme
êxito e os convites não tardaram. Foi viver para o Japão, e em poucos anos um
país nessa época em franco desenvolvimento tornou-o arquitecto afamado e senhor
de uma bela fortuna. Bairrada disse sempre que a sua grande paixão era o Japão,
a sua cultura, as paisagens e a simpatia dos seus habitantes. Mandou vir da
Suiça a senhora com quem entretanto casara e de quem viria a ter um único
filho, o Alvarinho, já nascido no Japão. O rapaz partilhou sempre com o pai o
amor pelo Japão e pela sua civilização, foi lá que estudou e fez um curso de
engenharia. Já retirado, Bairrada enviuvou e teve de regressar a Portugal para
resolver problemas de heranças da mulher. Foi viver numa moradia no Estoril e
Alvarinho acompanhou o pai, embora contrariado. As relações entre os dois
deterioraram-se bastante e entretanto o pai começou a dar sinais de sofrer de
perturbações mentais. Alvarinho receava ser prejudicado no testamento do pai, e
mantinha-se atento porque sabia que o pai guardava uma enorme fortuna em ouro,
jóias e dinheiro num cofre de que só ele sabia o segredo. Depois de reformado,
o homem que sempre tinha sido afável e generoso, tornou-se agressivo, chegando
mesmo a agredir o pessoal que só o suportava por interesse. Queixava-se de
todos e dizia que estava a gastar o que podia da fortuna e iria suicidar-se só
para lixá-los.
No
Estoril a moradia tinha no rés-do-chão um grande hall (que comunicava com o
piso dos quartos por uma vasta escadaria), um salão, a sala de jantar, a
cozinha, sanitários e os alojamentos do pessoal: o mordomo, Palmela de seu
nome, a cozinheira Ermelinda, e um criado chamado Borba. No piso de cima
ficavam os quartos do pai e do filho, com as respectivas casas de banho
privativas, e um escritório. Era no quarto que o Bairrada guardava o tal cofre
onde toda a gente sabia haver importantes riquezas.
Foi
numa manhã de domingo que a tragédia estalou naquela casa. O mordomo, que tinha
ido ficar nessa noite em casa de uns primos, regressou pelas sete e meia da
manhã e estranhou que a porta da rua não estivesse fechada com quatro voltas
como todos a deixavam sempre de noite. Ao entrar foi surpreendido por uma
torrente de água misturada com sangue que corria em cascata pela escadaria
abaixo. À polícia declarou: -"Alarmado, deixei a porta da rua aberta e
subi pela escada acima, chapinhando na água que vinha da casa de banho do sr.
arquitecto. As portas estavam abertas de par em par e ele jazia morto, despido,
com a cabeça completamente submersa na banheira, com a água quente
continuamente a correr e a transbordar, misturada com sangue que era bem
visível ter tido origem em cortes em ambos os pulsos. Gritei várias vezes a
chamar pelo sr. engenheiro, mas ninguém me respondeu. Percebi então que não
estava mais ninguém em casa, não toquei em nada, só fechei as torneiras da água
e desci para chamar a polícia do telefone da cozinha".
Dos
apontamentos da polícia retiremos as notas essenciais:
1- A
cozinheira e o Borba não ficaram em casa naquela noite pois, como sempre
acontecia, no domingo estavam de folga e tinham-se ausentado depois do jantar
de sábado em que só serviram o sr. arquitecto. O mordomo também saiu por essa
altura. Alibis confirmados pelas famílias.
2- A
autópsia confirmou a morte entre as cinco e as seis da manhã, por enorme perda
de sangue, mostrando não ter chegado a haver afogamento. Mergulhado na banheira
foi encontrado um afiado "x-acto".
3-
Entre o "lago" da água proveniente do andar de cima e a porta da rua,
eram visíveis pegadas de um par de sapatos de homem na direcção da saída, as
quais aliás o mordomo confirmou ter visto ao entrar de manhã. Continuavam no
exterior e perdiam-se na relva.
4- O
Alvarinho chegou ao meio-dia e ao princípio disse que não podia declarar onde
passara a noite para não prejudicar a reputação de uma senhora casada e de alta
posição mas, confrontado com a gravidade da situação, acabou por dizer. A
senhora mais tarde interrogada, após muitas hesitações, pediu rigorosa
discrição e declarou ter estado com ele até às seis horas da manhã.
5- No
quarto do arquitecto foi encontrada uma folha A4 escrita à mão: "deixo
esta vida e não levo saudades vossas quem for esperto encontrará no cofre tudo
o que tenho a chave está lá o segredo é à esquerda o de cima para cima e em
baixo sobe um depois em cima desce um e os quatro de baixo sobem depois em cima
desce um e em baixo só sobem dois depois só em baixo sobem quatro em cima nada
desce". No quarto havia sinais de que alguém com sapatos molhados andara
por ali.
6- O
cofre estava aberto e vazio. O segredo tinha ainda registados os quatro dígitos
que permitiam a abertura. A chave estava na fechadura. Constava que o
arquitecto tinha feito recentemente um testamento em que deixava grande parte
da fortuna aos bombeiros.
7-
Impressões digitais só dos habitantes da casa. Foi perguntado a todos se tinham
ideia do segredo do cofre, mas sem resultado. Palmela falou na possibilidade de
uma data importante.
O
inspector Garrett gostava muito de contar esta história que ele considerava um
teste à argúcia e aos conhecimentos dos seus alunos. Aqui fica o desafio: como
se terão passado as coisas e como foi que o cofre apareceu aberto?
E pronto.
Chegou a vez dos nossos “detectives”, entre dois
mergulhos refrescantes, articularem um relatório que dê as respostas que os
autores pretendem, impreterivelmente até ao próximo dia 15 de Setembro, podendo
usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar,
23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde
quer que o encontrem.
Boas deduções, com votos de excelentes férias para
quem as tem!
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