(Diário Popular # 5900 – 14.03.1959)
O telefone retiniu no
quarto do inspector Fauvel, que acordou logo ao primeiro toque e, seguindo o
seu velho hábito, consultou o relógio. Eram precisamente 6 e 33. Levantou o
auscultador e volvidos alguns segundos, o inspector disse em resposta à comunicação
recebida: «De acordo, vou já. Não deixe que toquem em coisa alguma».
Dez
minutos depois, ele estava no local. Depois
de haver deitado uma olhadela às marcas de arrombamento
que se notavam na porta, Fauvel, a
quem o vento glacial de Inverno fazia tremer de
frio (a temperatura era de uns 10
graus abaixo de zero) fechou a porta
envidraçada
do estúdio, que estava escancarada. Em seguida, examinou as prendas de
casamento. Porque Marie-Jeanne, a filha do seu amigo Henry Trident, devia
casar-se na tarde daquele mesmo dia. Cerca de três quartas partes das prendas
que haviam desaparecido tinham sido enviadas por membros da família.
Se bem que de incontestável valor,
esses presentes não eram, todavia, tão preciosos como outros que o ladrão tinha
deixado. No chão, via-se, partido, um relógio que o ladrão devia ter deixado
cair, na precipitação da fuga, e cujos ponteiros marcavam 3 e 20.
- Não mexeu em nada depois de ter
chegado, às 6 e 30, e de ter descoberto o roubo? – perguntou ao criado de Henry
Trident.
- Absolutamente em nada, inspector.
-
Tem um plano regular de trabalho?
-
Sim, inspector. Logo que inicio o serviço diário, passo sempre em
primeiro lugar por esta dependência.
O inspector Fauvel deteve-se um instante e pareceu
reflectir. Henry Trident tinha-o chamado pelo telefone às 6 e 33, depois de ter
sido acordado ele próprio pelo seu criado. Eram agora 8 e 5. Tudo isto merecia
reflexão.
- Creio que a família de Marie-Jeanne se opôs durante
longo tempo, a este casamento, não é verdade? – perguntou ele ao seu amigo.
A tia de Marie-Jeanne não deu tempo a que Henry
Trident respondesse, exclamando: - Oh, sim! E com razão…
Enquanto se curvava para aspirar o perfume inebriante
das magníficas rosas cultivadas na estufa, o inspector surpreendeu um olhar interrogativo,
trocado entre Marie-Jeanne e o seu irmão, Antoine.
- Quem foi a última pessoa a deitar-se a noite
passada? – inquiriu o inspector.
- Crei ter sido eu – respondeu a irmã de Marie-Jeanne,
a encantadora Christiane, acrescentando:
- Com os preparativos do casamento, julguei que nunca
mais ia deitar-me, e entrei no meu quarto cerca das 2 e 30 da madrugada.
- Passou pelo estúdio?
- Passei. Parece-me que tudo se encontrava em ordem;
no entanto, esse relógio não estava caído no chão, pois tê-lo-ia visto…
O inspector Fauvel virou-se, então, para o seu amigo
Henry Trident, dizendo-lhe: - Sinto muito, meu caro, mas o ladrão é cá de casa!
Como
chegou Fauvel a esta conclusão?
(Divulgaremos amanhã, a solução oficial deste
caso)
* * *
* *
Solução do problema # 236
(Diário Popular # 5893 – 07.03.1959)
Dufour
(1) está fora de causa, visto ser o dono da propriedade, e o assassino (2) ser
um convidado. Burger (3) não conta, também, dado que Glória e ele gostavam
manifestamente um do outro, ao passo que ela não amava o assassino (2). Inge
(4) está igualmente inocente, pois a sua única visita à propriedade datava de
há uma semana, e nós sabemos que o assassino já lá tinha estado seis meses
antes. Por consequência, e por exclusão de partes, o culpado não pode ser senão
o pianista Pado.
Jarturice-237
(Divulgada em 26.Agosto.2015)
APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO
DE J A R T U R
jarturmamede@aeiou.pt
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