(Diário Popular # 5778 – 08.11.1958)
Por
uma estranha coincidência, um raio de sol, filtrando-se através dos ramos e
passando pela janela da pequena casa de madeira, cujo vidro estava quebrado,
vinha iluminar o chão húmido e parecia brincar com a lâmina brilhante de uma
máquina de barbear. O inspector Fauvel, ao entrar, contemplou o espectáculo e
depois baixou-se, apanhando de um canto um candelabro de cobre delicadamente
trabalhado. Era uma verdadeira peça de colecção, que se encontrava num local
pouco susceptível de a valorizar.
No
dia anterior, uma rapariga de 18 anos fora encontrada ali assassinada, a
algumas centenas de metros dessa casa de campo, situada a mais de vinte
quilómetros da mais próxima habitação.
No
momento em que foi descoberta, a rapariga já devia estar morta – segundo a
opinião dos médicos – havia 72 horas. Um velho pastor afirmava que vira o
proprietário da casa de campo alguns dias antes e também no dia em que o crime
devia ter sido cometido. Mas talvez ele estivesse enganado. Porque havia pelo
menos uma pessoa pronta a testemunhar que René havia estado junto dela no
decurso das últimas três semanas, sem nunca a ter abandonado, por mais de uma
hora ou duas.
O
inspector Fauvel examinou cuidadosamente os restos do vidro da janela. Ficou
surpreendido ao verificar que eles não bastavam para encher o espaço vazio da
janela. A humidade no solo da cabana explicava-se facilmente. Na semana
anterior chovera bastante…
O
polícia local, que acompanhara Fauvel, disse:
-
Creio, inspector, que teremos de renunciar a inculpar Carson. Revistámos a
cabana toda e nada indica que ele aqui tenha estado desde há meses. Porque um
homem não pode passar uma semana num sítio qualquer sem deixar sinais…
-
Estou de acordo consigo nesse último ponto. Mas aqui esteve alguém nestes
últimos dias. Isso é inegável…
Como é que o inspector chegara a essa conclusão?
(Divulgaremos amanhã, a solução oficial
deste caso)
* * *
* *
(Diário
Popular # 5771 – 01.11.1958)
Arthur Morrot afirmara que as chaves do laboratório nunca eram
tiradas da corrente que as prendiam a ele. Nessas circunstâncias, o inspector
Fauvel não via como é que o químico podia ter deixado a chave na porta, para ir
auxiliar a senhora do automóvel, sem a ter tirado da corrente. O químico mentia
e se não era ele o autor do roubo, tinha um cúmplice.
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