(Diário Popular #
5737 – 27.09.1958)
Aquela dramática
cena de ciúme tinha sido fulgurante. «Eu podia matar-vos aos dois». Dissera
André Chellet, apontando o revólver a sua mulher e ao amante com quem a
surpreendera ao entrar inopinadamente no seu apartamento. «Mas – acrescentava –
farei melhor do que isso: o vosso inferno, conhecê-lo-eis na terra, uma vez que
sereis obrigados a viver com o pêso de uma morte na consciência…»
- Então – disse Josette Chellet, que
explicava a cena ao inspector Fauvel – antes que eu pudesse fazer o menor
gesto, André levou o revólver à têmpora e premiu o gatilho, caindo como uma
massa, instantaneamente fulminado.
O
inspector debruçou-se sobre o cadáver ainda quente do brilhante decorador André
Chellet. Depois, virou-se para o homem que permanecia ao lado da mulher da
vítima. Tratava-se de um jovem que não atingira ainda trinta anos. Era alto e
franzino e a palidez do seu rosto reflectia a intensa comoção porque ele
passava.
-
O seu marido já alguma vez manifestara a intenção de se suicidar? – perguntou o
inspector Josette.
-
Sim – respondeu ela – e tinha até ido mais longe: deixou expresso no seu
testamento que eu não seria a herdeira dos seus bens senão com a condição de
desposar Christian apenas seis meses após a sua morte. Além disso, em caso de
divórcio, eu perderia o benefício da herança... Ele não sabia quanto eu e
Christian nos amamos. Casei com André por imposição da minha família e o amor
jamais nos uniu.
O
inspector Fauvel debruçou-se de novo sobre o corpo de André Chellet, caído de
borco, voltou-o de costas e tirou do bolso do seu sobretudo um revólver no qual
faltava somente uma bala.
Depois,
passeou o olhar pelo apartamento, acabando por perguntar a Josette Chellet:
-
Mas como estava a senhora ao corrente das disposições testamentárias de seu
marido?
-
Ele tinha-me dito que se alguma vez o atraiçoasse não me perdoaria e deu-me
conta das disposições que havia tomado…
-
De qualquer maneira – disse o inspector – não beneficiareis, nem um nem outro,
desse testamento, porque ireis acabar os vossos dias na prisão… ou no
cadafalso!
Porque motivo proferiu o inspector Fauvel tais ameaças?...
(Divulgaremos amanhã, a solução oficial deste
caso)
* *
* * *
Solução do problema
#215
(Diário
Popular # 5730 – 20.09.1958)
Jules Nollet e Georges Viet declaravam ter deixado Robert Migrant a
limpar a espingarda, na sala iluminada por um candeeiro a petróleo. No entanto,
este, que o inspector Fauvel tinha encontrado apagado, continha ainda
considerável reserva de carburante. Se os dois homens tinham falado verdade, e
se Robert Migrant tinha morrido acidentalmente, o candeeiro teria continuado
aceso até ao esgotamento de todo o petróleo. Por outro lado, como Robert
Migrant não teria, certamente, podido limpar a arma às escuras, era indubitável
que alguém mentia… Os dois homens tinham, portanto, matado Robert Migrant,
cometendo, no entanto, o erro de apagar o candeeiro antes de se retirarem.
Jarturice-216
(Divulgada em 05.Agosto.2015)
APRESENTAÇÃO
E
DIVULGAÇÃO
DE: J A R T U R
jarturmamede@aeiou.pt
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